Trocando em Miúdos: Os vikings ainda existem e, assim como a mitologia nórdica, conquistam cada vez mais fãs aos redor do mundo em séries, filmes e também nas HQ’s. Por isso, você também deveria conhecer o som que eles fazem.
Eles são sujos, brutos, violentos e feios – o Ragnar, de Vikings, não conta, porque ele é ator, não viking -, mas são extremamente carismáticos e cativantes. Bom, pelo menos nos dias de hoje. Quem aqui nunca se encantou com os amigos do chapéu de chifre e suas histórias no imaginário popular, como a própria série Vikings, os deuses nórdicos travestidos de heróis em Thor ou até mesmo com o humor ácido de Hagar e do divertidíssimo Como treinar seu Dragão?
Falando por mim, tudo que envolva as palavras Asgard, Terra Média e Vikings me chama a atenção o suficiente para que eu perca dias e dias a fio lendo e ouvindo histórias ou criando minhas próprias com um Nord em Skyrim. Aliás, me lembro até hoje que, anos atrás, quando ainda dependia muito do bom humor dos meus pais para conseguir um bom livro, bati o pé dentro da livraria até que convencesse o coroa a me dar dois livros que foram protagonistas na minha paixão pelos beberrões da Escandinávia. Eles falavam sobre mitologia nórdica e sobre histórias de heróis praticamente imortais, que guiaram legiões de guerreiros em busca de ouro através das Terra inexploradas da Europa. E que se tornaram lendas ao redor do mundo.
Lia cada página sempre imaginando guerreiros altos e poderosos, sem medo algum, saqueando vilarejos e cultuando deuses pagãos, celebrando em festas e mais festas regadas a cerveja, hidromel e carne – muita carne. Até que, certo dia, me passou pela cabeça “se esses guerreiros, empunhassem não machados ou bastões, mas guitarras elétricas”. Ri sozinho da impossibilidade; guitarras não existiam naquela época e vikings não existiam mais nos dias de hoje. Era impossível imaginar como eles seriam em uma banda.

Até que um fatídico dia, em 2011 ou 2012, na Galeria do Rock, vi na vitrine de uma loja um vinil com um Viking imenso e bruto massacrando um exército. Era o álbum Surtur Rising, da banda sueca Amon Amarth. Aquilo me chamou a atenção de uma forma que pensei no quanto precisava ouvir aquele disco.
Não tinha dinheiro para o vinil, mas o dono da loja me fez o CD a um preço bem camarada, que levei para casa louco de vontade de ouvir. As a punk rocker, considerava no mínimo estranho – e muito louco – ter um álbum do então recém-descoberto por mim Viking Metal ao lado dos meus discos dos Ramones e dos Descendents. E ele foi minha primeira passagem para Vingolf, ao lado das deusas. O som era bruto, tomado por guitarras pesadas, um pedal duplo frenético e um gutural incrível narrando faixa a faixa. A letra é imperceptível a ouvidos mortais, o que me deixava claro que sim, ainda existiam Vikings – para a nossa, alegria. Definitivamente, nada que eu ouviria naqueles mesmos CDs dos Ramones ou dos Descendents.
Amon Amarth foi meu primeiro passo para um caminho – sem volta – ao Ragnarök que viraria meu iPod. Sons e mais sons de lutas épicas tomariam conta do espaço interno do dispositivo e, cada ônibus que eu pegava para o trabalho a partir de então, se tornava um Navio de Guerra num mar de asfalto.

De Amon Amarth, e sendo o bom aprendiz de Eric que eu era, passei a desbravar áreas desconhecidas do gênero, recolhendo bons nomes e descobri que cada banda era, de fato, como um vilarejo diferente. Não era possível que eles fossem os únicos representantes do estilo. O som do AA se aproximava muito do Death Metal por conta da brutalidade sonora e dos vocais pesados, mas suas letras faziam mais referências a conquistas de batalhões do que morte e capeta. Também era nítida a influência de pioneiros do gênero, como Bathory e até mesmo Manowar na construção das músicas e na elaboração da temática.
Descobri então outros bons nomes que seguiam a temática, o som e a caracterização – e que valem a pena serem ouvidos -, como Sletchvalk, Ensiferum e Kalmah, que seguem essa junção do paganismo nórdico e da cultura Viking com os traços pesados do Death e até do Black Metal, com histórias sendo narradas através de muita brutalidade e horns up! Mas se engana quem associa o Viking Metal direto ao metal mais pesado (e satanista, como diria sua avó ao ouvir uma faixa do Kalmah).

Algumas bandas juntam toda a cultura e as raízes da Escandinávia com um metal mais melódico e apostando muito na influência do Folk em suas composições, não parecendo mais tanto aquela marcha em busca do outro e das riquezas, mas sim pequenas vilas com seus cultos e culturas. Nesse estilo, conheci uma de minhas maiores paixões sobre música mitológica.

Pintados de vermelho e preto, parecendo organizada do Flamengo, vestindo peles e marchando nos palcos, Turisas virou sinônimo de difusão do gênero. A clara evidência da influência folk através do acordeon e do violino fazem harmonia a um coro de batalha e um vocal poderoso, de um líder Viking. Na contramão do som pesado, eles faziam algo mais vibrante, em que você sentia a mesma vontade de levantar sua caneca de bronze e brindar com entusiasmo a graça de jantar em Asgard.
Para deixar tudo ainda melhor, Turisas realiza shows extremamente temáticos, assim como seus álbuns, trazendo histórias de conquistas e de epopéias nórdicas, dignas de contos e de livros, ou mesmo trilha sonora para acompanhar aquele bom e velho livro sobre mitologia.

O metal melódico dos Turisas difere muito do Death característico de Amon Amarth e também tem uma legião de seguidores e uma escola de metal bem feito por trás. Nomes como Korpiklaani, Kivimestän Druid e Crimfall são importantes dessa linhagem que apostou mais na melodia e no místico, fazendo de cada faixa uma celebração, um hino de guerra ou uma lenda heróica que brada pelos mares do que uma narração sanguinária.
E esses são só alguns dos nomes que transformaram em música – e boa música, por sinal – tudo aquilo que seu professor de história nunca te contou, e que atrai em sua legião de fãs até gente não muito simpática ao Heavy Metal. E o mais legal é que você pode aprender muito sobre o folclore nórdico com letras de músicas, já que, apesar da dominância do finlandês, norueguês e suco, muitas das faixas são em inglês.
Então, se você também tem um fascínio por Viking, como eu tive a vida toda, mas nunca conseguiu saber o que poderia acompanhar a sua boa taça de bebida e sua série, o gênero vale a sua exploração, mesmo que seja curiosidade. Mergulhem nessas águas cheia de mitologia, mistério e muita, mas muita distorção, como “Stand Up and Fight”, por exemplo. Que Odin esteja com todos vocês e até a próxima.
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