Poucos nomes da música mundial são tão engajados quanto Neil Young. Este mês, o músico, junto aos parceiros de longa data do Crazy Horse, lançou World Record, seu 42º álbum de estúdio, um registro focado no desafio de combater as mudanças climáticas.
Grande parte das canções foi composta durante trilhas e caminhadas que o músico fazia pelas Montanhas Rochosas, região que se estende ao longo da divisa entre Estados Unidos e Canadá, onde reside com a atriz e companheira Daryl Hannah.
Em entrevista exclusiva à revista New Yorker, Young compartilhou seu processo criativo para chegar até World Record. Segundo o músico, suas caminhadas eram feitas sempre com ele assobiando melodias desconhecidas, que por fim acabaram resultando nas histórias que compartilha com o público em seu mais recente disco.
“Parecia que cada uma vinha de um espírito diferente”, contou o cantor. “Dia após dia, eu caminhava entre as árvores e a neve com meus cachorros correndo e uma melodia diferente, com um sentimento diferente chegava até mim”, contou à jornalista Amanda Petrusich.
Muito do que Neil canta é bastante otimista, uma visão positivista sobre a importância de cuidarmos uns dos outros e do planeta, o que torna tudo possível.
Neil Young vem de um passado recente bastante prolífico. Em 2019, lançou Colorado, seguido de Barn (2021) e Toast (2022), este último tornado público este ano, mas gravado em 2001. Em alguns termos, World Record não chega a ser uma novidade na trajetória do músico canadense, que passou a maior parte dos últimos cinquenta anos defendendo causas ambientais (e cantando a respeito), “mesmo quando ninguém estava disposto a ouvir”, como cita Petrusich em sua brilhante entrevista com Young.
Aliás, essa espontaneidade para cantar, falar e reverberar as causas que defende de modo tão visceral virou a marca do cantor. World Record foi coproduzido por Rick Rubin, produtor de sucesso, especialmente por ter ajudado a popularizar o hip hop nos anos 1980, liderando álbuns icônicos dos Beastie Boys, Run-DMC e Public Enemy, mas que também trabalhou com nomes como The Strokes, Weezes, Johnny Cash e Metallica.
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O álbum foi gravado seguindo preceitos considerados ultrapassados na indústria da música: em um take, ao vivo, e mixado em fita analógica. Quando perguntado se essa rusticidade do registro havia sido natural ou uma estratégia, Young não hesitou. “Acho que deve ser um acidente”, afirmou o homem que ainda caminha por aí com um celular antigo, de flip, com uma câmera VGA com a qual faz registros.
“[Comecei a] gravar qualquer coisa que eu assobiasse e não soubesse [a origem]. Sem palavras, sem instrumentos, sem tons, sem acordes”, contou o músico, explicando as origens de World Record. “Fiz todas as oito músicas em dois dias e nunca mudei uma palavra”, confidenciou. “Funcionou”.
Talvez no início dos anos 1990 fosse estranho receber um material de lançamento que unisse os nomes de Rubin e Young, seja pelas abordagens diferentes, seja pela forte associação do produtor com o hip hop em um momento que o gênero ainda engatinhava. “Fazemos crônicas das coisas. Rick é um gênio”, afirma o músico canadense. “Você não vai encontrar uma pessoa que ama música mais do que Rick”, pontua.
Neil não está errado, já que World Record é um registro que respeita sua trajetória de mais de cinquenta anos. Não é só a temática que faz do álbum atual, os toque de Rick também foram importantes em desempoeirar as onze canções que marcam o disco. “Eles fez alguns disco muito legais em outros gêneros, mas […] é tudo música. […] Temos muito em comum nesse aspecto”, confidenciou Young.
Engana-se quem pensa que o canadense fez de seu 42º disco de estúdio um “papo chato de ambientalista”. Muito do que Neil canta é bastante otimista, uma visão positivista sobre a importância de cuidarmos uns dos outros e do planeta, o que torna tudo possível. “Estou consciente do que está acontecendo no mundo o tempo todo”, afirma.
Seu desafio pro futuro, amplificado pelas consequências da pandemia e a maneira como levou que ativistas como ele tivessem que repensar diferentes aspectos, é pensar para além de si, mas no próprio papel da arte em ser um catalisador de mudanças e boas sensações.
“Estamos tentando descobrir como fazer uma turnê autossustentável e renovável. Que tudo que nos mova, incluindo o palco, as luzes e o som, seja limpo”, confidencia. “Mas ainda não tenho certeza se quero [sair em turnê]”, para desespero dos fãs. “É sobre sustentabilidade, amar a Terra pelo que ela é. Queremos fazer a coisa certa. Essa é a ideia”, aponta o cantor.
Com a má relação com o Spotify, desde que o artista se incomodou com a liberdade para que podcasts negacionistas estivessem na plataforma, o público tem que recorrer a outros streamings para ouvir World Record. Se ele realmente não sair em tour, é o que restará aos fãs.
A excelente entrevista conduzida por Amanda Petrusich pode ser lida no site da New Yorker (em inglês).
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