Raimundo Fagner vive um grande momento de sua carreira. Tanto que gosta de dizer que, embora tenha várias casas, entre o Rio de Janeiro e o Ceará, seu estado natal, ele não tem, atualmente, domicílio fixo. Vive onde sua música o levar, e as noites dormidas em quartos de hotéis não têm sido poucas. Mas ele parece não se importar com isso. Pelo contrário. “Estou mais feliz do que nunca”, confessa.
![raimundo fagner](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2015/05/raimundo-fagner.jpeg)
O cantor e compositor, nascido há 65 anos em Fortaleza, mas registrado no pequeno município de Orós, no centro-sul do estado nordestino, chega neste sábado a Curitiba para apresentação única no Teatro Positivo. Em entrevista a A Escotilha, concedida por telefone, do Rio, ele quer saber se o espaço é mesmo grande como dizem. Confirmo que é uma casa de espetáculos imensa, com mais de dois mil lugares.
“Tenho de fazer um show à altura”, diz, bem-humorado, acrescentando que se apresentar ao vivo, estar próximo de seu público, é um dos prazeres que tem na vida. Para cumprir essa promessa, Fagner disse que trará a Curitiba um repertório generoso, que percorrerá toda a sua trajetória musical, que já ultrapassou quatro décadas.
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Pergunto o que não pode faltar. Ele ri, dizendo que são tantas essas “canções obrigatórias”, mas cita algumas, que de fato não poderiam ficar de fora de seu set list: “Revelação”, “Canteiros” (a partir de poema de Cecília Meirelles), “Noturno” (mais conhecida como “Coração Alado”, por conta da novela homônima de Janete Clair, da qual foi tema de abertura), “Traduzir-se” (poesia da portuguesa Florbela Espanca, também musicada por ele), “Eternas Ondas” (de Zé Ramalho) e “Borbulhas de Amor” (parceria com Ferreira Gullar), entre tantas. A lista, de fato, é longa, e também guarda surpresas. “Cantarei o que o público pedir, também.”
Do conterrâneo e amigo Belchior, traz no repertório dois clássicos. Um deles, “Macuripe”, é uma parceria com Fagner, e foi a canção que revelou os dois cearenses ao Brasil, por meio da poderosa voz de Elis Regina. O outro, conta o artista, é “Paralelas”. “Cantei tanto essa música na minha vida, mas só me dei conta que não a havia gravado há pouco tempo. Resolvi corrigir esse erro recentemente, no meu último álbum de estúdio, Passaros Urbanos, que lançei ano passado [pela Sony-BMG].”
“Acho que há um vazio na música nacional que toca nas rádios, uma demanda latente por qualidade, e os jovens estão nos redescobrindo, indo beber na fonte.”
Fagner concorda que a sua geração, que tomou a MPB de assalto no fim da década de 1970, emprestando-lhe sotaque fortemente nordestino, está em alta, e sendo redescoberta por uma nova geração de fãs. Ele, Zé Ramalho (com quem gravou CD e DVD ao vivo, lançados neste ano, com grande sucesso de vendas), Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Elba Ramalho, Ednardo e Amelinha foram alguns dos artistas que chegaram ao topo das paradas e mudaram o cenário da música nacional na virada dos anos 1980 e agora estão, de certa forma, sendo resgatados por um público mais jovem. E curioso.
![Fagner e Zeca Baleiro juntos](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2015/05/fagner-zeca-baleiro-1024x576.jpg)
“Acho que há um vazio na música nacional que toca nas rádios, uma demanda latente por qualidade, e os jovens estão nos redescobrindo, indo beber na fonte”, justifica Fagner, sem deixar de citar artistas que vieram depois dele, como Chico César, Paulinho Moska e, sobretudo, o maranhense Zeca Baleiro, que ele aponta como o maior expoente da nova geração da música nordestina e com quem gravou, em 2003, pela gravadora Indie (depois relançado pela Universal Music), um álbum pelo qual o cearense diz ter extremo apreço. “O Zeca teve enorme impacto sobre a minha música, nós realmente criamos juntos.”