Existem certos discos que são consenso entre público e crítica na história da música brasileira. Alucinação, quarto disco de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou simplesmente Belchior, é um desses. Belchior fez de Alucinação sua obra-prima, um dos pilares para se compreender nossa cultura a partir da música, e que completa em 2016 40 anos.
Cearense de Sobral, Belchior foi predestinado a ser um artista. Filho de músicos (seu pai era flautista e sua mãe cantora de coral), sobrinho de poetas, foi em grandes cantores da era do rádio que buscou influências. Largar a faculdade de Medicina para apostar na carreira musical foi um risco que, hoje, precisamos agradecer que ele tenha corrido.
Eterno defensor da liberdade de expressão, Belchior é um ícone do cancioneiro nacional, seja por sua voz grave, seja por abordar temas de relevância social ou por abordar como poucos seus conflitos internos e sua busca por se encaixar na sociedade múltipla.
E a síntese de toda sua genialidade artística pode ser conferida nas 10 faixas de Alucinação. Para o disco, Belchior chamou um time de grandes músicos, entre eles o baixista Paulo César Barros, um dos fundadores da Renato e Seus Blue Caps. Belchior soube como poucos definir toda a complexidade de sua geração, retratando com lirismo o “absurdo” em ser um “rapaz latino-americano”, como diz a faixa “Apenas um Rapaz Latino-Americano”, canção que abre o disco.
E a síntese de toda sua genialidade artística pode ser conferida nas 10 faixas de Alucinação.
Outras canções, como “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”, entraram para nossa memória auditiva muito por conta das estonteantes interpretações de Elis Regina. Mas, quando ouvidas na voz de seu compositor, é possível notar que em cada sílaba, em cada estrofe, há uma dor latente, uma busca pela autocompreensão. “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”, canta o músico em “Sujeito de Sorte”. O lado A do LP encerrava com “Como o Diabo Gosta”, que escondia em suas linhas irônicas a veia pulsante da rebeldia de Belchior.
O lado B inicia com a homônima “Alucinação” e seu manifesto pelas coisas reais. “Não Leve Flores” e minha favorita, “A Palo Seco”, abrem o peito do cearense de Sobral, como se ele entregasse a dualidade da própria vida em nossas mãos, num exercício de expurgar demônios para renascer. “Fotografia 3×4” e “Antes do Fim” encerram o trabalho que, 40 anos depois, ainda é um dos registros mais ímpares da música brasileira.
Sesc Pinheiros promove homenagem a Belchior
Os 40 anos de Alucinação não passarão em branco. O Sesc Pinheiros será palco para o projeto Velha Roupa Colorida – Homenagem a Belchior, no próximo dia 25 deste mês. No palco, Dani Black, Pélico, Hélio Flanders (Vanguart) e Teago Oliveira (Maglore), nomes da nova cena musical brasileira, interpretarão sucessos da carreira de Belchior. Fazem parte do repertório “Medo de Avião”, “Divina Comédia Humana” e “Como Nossos Pais”.
O objetivo da iniciativa é revisitar os clássicos produzidos pelo músico cearense. “Na maioria das músicas que serão tocadas no evento, os arranjos são bem semelhantes aos originais, mas alguns foram alterados, para da uma linguagem mais atual ao projeto”, afirmou Xuxa Levy, maestro responsável pela direção artística e musical do evento.
Serviço
VELHA ROUPA COLORIDA – COM DANI BLACK, PÉLICO, HELIO FLANDERS E TEAGO OLIVEIRA
Quando: 25 de fevereiro, quinta, às 21h;
Onde: Teatro Paulo Autran – 1.010 lugares | Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195;
Quanto: R$ 30,00 (inteira); R$ 15,00 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência); R$9,00 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Ingressos à venda pelo Portal sescsp.org.br a partir de 16/2, terça, às 16h30, e nas bilheterias do Sesc SP a partir de 17/2, quarta, às 17h30. Venda limitada a quatro ingressos por pessoa.
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