Curitiba é uma cidade tão grande e repleta de bons artistas que, por vezes, fica difícil acompanhar tudo que se passa ao redor. Por sorte, a coluna faz um esforço contínuo em ultrapassar os limites territoriais da capital do estado na busca de fazer um recorte mais honesto sobre a cena musical paranaense.
Nesse caminho, esbarrei com o trabalho da Stolen Byrds, grupo nascido em Maringá, que faz rock and roll de gente grande. Era para ter trazido o grupo muito antes à coluna, mas resolvi esperar o lançamento de seu segundo trabalho, o homônimo Stolen Byrds. Tenho certeza de que a espera valeu a pena. Formada por Edwardes Neto, João Manoel, Guz Oliveira, Adilson Filho e Bruno Abreu, a banda levanta faíscas por onde passa, e isso vem desde Gipsy Solution, álbum de estreia da Stolen Byrds, lançado em 2014.
https://www.youtube.com/watch?v=rudLCw82t54
Do primeiro para o atual disco, a Stolen Byrds caminha de forma segura na trilha do amadurecimento. Muito mais do que referências lógicas em seu trabalho (Black Sabbath, Kyuss e boa parte da boa geração pré-progressiva da década de 1960 e 70), há o florescer de uma banda que captura a força e o mojo da velha guarda e traz à tona um rock puro, sincero, denso e atual.
No novo trabalho, a Stolen Byrds soa tão vital quanto poderia se esperar, despertando em algumas de suas treze faixas elementos que levam a assinatura de coesão do grupo.
No novo trabalho, a Stolen Byrds soa tão vital quanto poderia se esperar, despertando em algumas de suas treze faixas elementos que levam a assinatura de coesão do grupo. As guitarras estão robustas, chacoalhando riffs ora progressivos, ora heavy metal, colocados de forma primordial, capazes de imortalizar pequenas transições nos tímpanos do público. Aliás, as pequenas transformações ocorridas nos últimos dois anos impõem maior credibilidade ao grupo, afastando-o de uma possível mimetização (ainda característica do heavy metal atual) e trazendo o poder e emoções mais propícias dos precursores do rock progressivo ou do acid rock. A cadência da bateria em “Beggin’ For You” é tão Cream quanto o próprio Cream, por exemplo.

O álbum não se fixa apenas em ser “sujo”, acertando com versos bem trabalhados, composições harmônicas atrevidas, além de um disco muitíssimo bem produzido. E, dessa forma, o Stolen Byrds ostenta maturidade, uma química instrumental como se tocassem juntos há 20 anos. E essa é uma marca indelével, o provável legado que tanto o disco como o grupo de Maringá podem deixar aos fãs e demais artistas do gênero.
O metal pode ser preciso ser ser robótico, mecânico. Ser orgânico, gracioso, não limita o poder e a força que qualquer headbanger busca. Há beleza em canalizar a sua força para além de como conhecemos o heavy metal ou o progressivo. Uma oxigenação necessário ao gênero? Talvez. Um disco ótimo? Sem dúvida. Vida longa à Stolen Byrds.