Jonny Greenwood é um sujeito inquieto. Uma das mentes pensantes por trás do Radiohead, musicalmente, Greenwood é força da natureza. De trilhas sonoras a colaborações das mais diversas, tudo parece ser uma aventura para ele. Considerado pai dos riffs mais marcantes dos últimos 20 anos da música alternativa, Greenwood encara a música como uma seara a ser explorada ao extremo.
Uma de suas aventuras mais recente foi o Junun, projeto que ganhou o mundo através das lentes do celebrado diretor Paul Thomas Anderson, que acompanhou Greenwood e o músico israelense Shye Ben Tzur até a Índia, onde ambos foram combinar forças com o grupo de música indiana tradicional Rajasthan Express. O filme é uma experiência à parte, e merece atenção.
Com uma duração que beira 1h, o filme documenta de maneira bastante lúdica a gravação do álbum que leva o mesmo nome e o processo de elaboração e criação dos músicos, em especial Greenwood, que em diversas cenas é mostrado operando um MacBook à frente de um enorme grupo de músicos e acertando as bases eletrônicas de algumas das faixas que entraram na formatação final do álbum.
Se o filme é bem-sucedido em dar conta do que foi o processo que trouxe o álbum à tona, o mesmo não pode ser afirmado da turnê que trouxe o grupo ao Brasil.
É sempre difícil para o ocidental entrar em contato com uma visão de mundo que não seja a sua, com uma cultura que não seja a sua e despir-se de toda a visão impregnada de estereótipos que normalmente se reproduz.
Ainda sobre o disco, o que chama atenção é o som multifacetado, cheio de camadas e musicalidades que soam novas aos ouvidos ocidentais. Da primeira à última faixa, Junun não soa como um produto pré-fabricado por dois ocidentais e sim como um meio do caminho entre o Ocidente e o Oriente. Talvez a verve oriental predomine, mas isso é muito mais um mérito que um defeito e as transições suaves apenas fazem com que ouvir o disco do início ao fim soe como uma imersão num universo a que raramente temos acesso. É sempre difícil para o ocidental entrar em contato com uma visão de mundo que não seja a sua, com uma cultura que não seja a sua e despir-se de toda a visão impregnada de estereótipos que normalmente se reproduz.
Junun não é nada disso, é uma porta de entrada para um universo que normalmente fica muito distante da cultura ocidental, que dirá da cultura pop. Dito isso, era de se esperar que a ideia de fazer uma turnê sul-americana que combinasse o Radiohead, uma das maiores bandas de sua geração, com o projeto paralelo mais ousado de Greenwood fosse um sucesso estrondoso. Mas não foi isso que foi entregue.
O show do Rio de Janeiro, em especial, foi uma decepção. Com um número de músicos inferior ao que é mostrado no documentário, a banda entrou no palco com um som ruim, que não fazia justiça à musicalidade cheia e orquestrada do álbum. Pouco se ouvia das vozes dos músicos, muito menos da percussão. Shy Ben Tzur ainda tentava manter a energia, mas além de ter topado com um público que claramente não estava tão empolgado com sua apresentação, a pouca dimensão oferecida ao vivo não conseguia contagiar a plateia.
Um dos grandes méritos do álbum é a presença de múltiplos vocalistas, naipes completos de instrumentos de sopro que se organizam em uníssono junto aos fundos eletrônicos de Greenwood e à voz de Tzur. Nada disso aconteceu. Foi apenas um show qualquer, de uma banda de abertura de qualquer, que tinha como função anteceder o grande show da noite. Uma pena.