Kylie Minogue é uma das artistas mais importantes da música pop nos últimos 30 anos. Sempre associada a uma intersecção entre o pop e a música eletrônica, foi uma surpresa para os fãs quando a australiana avisou que seu décimo quarto disco, Golden, flertaria com o country.
Produzido em Nashville, a capital da música country, Golden é um álbum bastante pessoal de Kylie, já que está é a primeira vez desde 1997 que ela co-escreve todas as faixas do disco; sua última experiência tão pessoal com a composição tinha sido no clássico Impossible Princess (a fase indie de Minogue).
Para alguns, Golden é uma tentativa de Kylie Minogue se comunicar com o mercado norte-americano, sendo que este sempre foi um mercado de difícil penetrabilidade para ela; já outros veem essa virada ao country só como uma necessidade de Kylie mostrar algum tipo de reinvenção. De todo modo, seja qual fosse a intenção, o resultado final é bastante irregular.
Golden tem faixas ótimas em meio a muitas faixas repetitivas, que bebem no que há de mais clichê e repetitivo no country. O mesmo violão e as mesmas palminhas parecem se repetir em inúmeras canções, soando uma escolha preguiçosa da produção; os exemplos mais claros disso são “Golden” e “Rollin’”. Em outros momentos, como em “Shelby ‘68”, ela soa só uma versão pasteurizada de Taylor Swift em início de carreira. “A Lifetime To Repair”, por sua vez, tem um início que remete a Dolly Parton, mas ganha força mesmo é no refrão, quando solta uma batida eletrônica mais forte e sincopada sobre o repetitivo violão.
![Kylie Minogue Kylie Minogue](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Kylie-Minogue-Golden-1024x576.jpg)
Em diversas passagens do disco, ela parece muito deslocada das escolhas sonoras; há uma sensação de falsa naturalidade.
Esses momentos mais country do disco nos fazem questionar a escolha de Kylie pelo gênero: em diversas passagens do disco, ela parece muito deslocada das escolhas sonoras; há uma sensação de falsa naturalidade, como se ela não conseguisse nos convencer dentro desse universo.
Isso é curioso. Se por um lado, a produção parece um cenário que não se comunica com Kylie, por outro, suas letras são bastante emotivas e verdadeiras, tanto que alguns momentos mais tranquilos do disco acabam soando interessantes: “Radio On” é uma bela balada e a voz de Kylie soa bastante entregue. Já a faixa “Music’s Too Sad Without You” é lindíssima e casa muito bem no dueto com o cantor folk Jack Savoretti – talvez uma versão acústica dessa canção fique ainda mais bela.
Além disso, há os pontos altos do disco: o primeiro single, “Dancing”, é extremamente divertido. A faixa pende mais para o country, mas mesmo assim nos faz querer apertar as fivelas e dançar junto com Kylie, igual ao videoclipe lançado.
De todo modo, a melhor faixa de Golden é certamente “Raining Glitter”: ela é o casamento perfeito dessa influência country com a eletrônica sofisticada que esperamos de Minogue. As batidas do country aparecem de forma delicada dando espaço para que os beats eletrônicos se sobressaiam. “Raining Glitter” precisa de um videoclipe e, mais que isso, precisa tocar em todas as baladas, pois é o que poderíamos chamar de “a perfeita Kylie”.
Golden chegou ao primeiro lugar das paradas britânicas no último dia 13 de abril. Além disso, já estreou em primeiro lugar nas paradas australianas. O desafio para Kylie começa ainda esse mês: as paradas dos EUA. Ainda em abril, ela aterrissa na terra do Tio Sam para divulgar o disco e deve se apresentar em programas de gente como o Seth Meyers e o James Corden.
De toda forma, apesar do sucesso comercial, esse é um disco mediano na carreira de Kylie Minogue. Se colocarmos Golden ao lado de Fever ou X, por exemplo, nós veremos que esse é um passo bem estranho na carreira da australiana. O disco não funciona no todo, peca por excesso de subserviência ao pop-country e nos faz querer que essa country-Kylie seja apenas uma fase rápida.
De todo modo, enquanto ela não desencana do violão e das botinhas, a gente aprecia os bons momentos de Golden e segue ouvindo “Raining Glitter” no repeat.