Porto Velho guarda inúmeros segredos e belezas. Segunda capital mais nova da região Norte do país, existem nela elementos culturais muito característicos, marcas trazidas por fatores como fazer divisa com município de outro estado, estar em fronteira com outro país e, por último mais certamente não menos importante, estar na Bacia do Rio Amazonas. Em alguma medida, cada um destes pontos reflete no trabalho da SexyTape, banda da coluna “Radar” de hoje.
São quatro anos de grupo, que em 2013 já havia gravado um EP, Nu & Cru, de fevereiro daquele ano. De nenhuma outra forma seria possível resumir este registro que não a escolha de seu título. Em Nu & Cru, a SexyTape era um conjunto de riffs e distorção, incertezas e conflitos. O EP era interessante e marca uma etapa muito específica de procura por identidade sonora em um cenário tão plural como a região em que a banda está.
Caio Neiva, Mikéias Belfort e Rodolfo Bártolo dispensavam firulas em arranjos simples, mas distante de serem simplórios. A alternatividade procurada ia em uma rota que flertava com o funk rock, mais por conta dos riffs de guitarra do que os grooves do baixo.
É preciso contextualizar essa sonoridade emprestando a canção dos Engenheiros do Hawaii “Longe Demais das Capitais”. Em um país de proporções continentais como o Brasil, é preciso prestar atenção ao que dizem os que estão “tão distantes do horizonte do país”. Por essas e outras que SexyTape, o disco homônimo lançado em outubro deste ano, é tão expressivo.
A banda retorna muito mais complexa e radiofônica que anteriormente, um feito brilhante para um grupo ainda tão novo.
A banda retorna muito mais complexa e radiofônica que anteriormente, um feito brilhante para um grupo ainda tão novo, afinal, trata-se apenas de seu primeiro full length. Com produção de Hugo Borges e da própria SexyTape, o álbum passeia por diferentes nuances do rock alternativo e o faz de forma coesa, ainda que em duas faixas Caio Neiva pareça desconectado do instrumental e tenha deslizado na afinação.
Uma das coisas mais interessantes é ver como o duo Caio Neiva e Mikéias Belfort, que no álbum ainda contou com a presença de Rodolfo Bártolo, abordam o amor sob diferentes perspectivas, inserindo até camadas de pop nas suas cartas de amor, tudo milimetricamente calculado.
Ainda que tenha sido gravado em Porto Velho, a mixagem e masterização realizada por João Rizk em São Paulo acrescentaram uma pitada da força do concreto paulistano. O mais agradável nisto tudo é que não houve descaracterização do que a SexyTape é, pelo contrário.
Há algo cosmopolita e plural em SexyTape que prende a atenção, e não é necessariamente um refrão que gruda ou um riff chiclete. Na verdade, é essa mistura de uma música tão brasileira e, ao mesmo tempo, tão “distante do horizonte do país” que torna tudo tão interessante e caloroso. Ainda bem que o Brasil é tão imenso e repleto dessa pluralidade.
NO RADAR | SexyTape
Onde: Porto Velho, Rondônia.
Quando: 2012.
Contatos: Facebook | Twitter | Soundcloud | YouTube
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