Pouco mais de quatrocentos e setenta quilômetros separam Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, de Curitiba, capital do estado. Em uma época na qual a internet parece encurtar distâncias, a cena musical do interior do Paraná parece ser algo muito mais distante para os curitibanos.
Raramente se vê pelos bares de Curitiba bandas ou artistas de cidades mais distantes como Pato Branco e Capanema. Mais estranho ainda se pensarmos que São Paulo ou mesmo Porto Alegre estão a distâncias muito maiores e, ainda assim, vemos a todo instante grupos paulistanos e porto-alegrenses apresentando-se por aqui.
Crescendo neste mundo à parte, grupos como o Tiregrito, de Francisco Beltrão, têm feito sucesso e arrastado fãs por suas apresentações. A proximidade com o Oeste Catarinense também faz com que tenham portas abertas pelos bares da região.
Com cinco anos de estrada, a Tiregrito lançou este ano seu primeiro disco de inéditas, o EP Sul do Mundo. Apostando no country and roll – com apresentação bem distinta do que nos acostumamos a ouvir em grupos como o Charme Chulo -, a banda foi uma das finalistas do concurso Sua Banda no Palco Sunset do Rock in Rio, parceria da Volkswagen com o Rock in Rio.
A Tiregrito possui uma identidade muito particular e a escolha do nome de seu EP é muito representativa da sonoridade do grupo. Cravados numa região do Paraná forte na indústria do agronegócio, próximos da divisa com Santa Catarina e com um acordeon dando notas suaves de gauchismo, Rafael Barzotto, Rodrigo Tártari, Marco Tesser, Jhonatan Picini e Vinícius Urbano vão do rock ao tradicionalismo (Mutant Cox, vocalista do Hillbilly Rawhide participa na faixa “Sul do Mundo”) e do country ao rockabilly compondo um trabalho interessante e muito coeso.
“A Tiregrito possui uma identidade muito particular e a escolha do nome de seu EP é muito representativa da sonoridade do grupo.”
A Nort Moskow, de Pato Branco, é uma grata surpresa. O grupo, formado em outubro de 2014, faz um grunge bem característico do início da cena musical em Seattle, quando, pela falta de definição própria, a mídia especializada definia o gênero como uma mistura entre o punk rock dos anos 1970 com o hard rock emergente dos anos 1980 – este último que, por sua vez, bebia no heavy metal da década anterior.
Camisas xadrez amarradas na cintura, vocal rasgado, muita distorção e potência para os headbangers não botarem defeito. Chama a atenção ver que, ao contrário do que possamos pensar, ter o Nirvana como influência e acreditar na “postura rock and roll” frente à estética dos riffs – essa receita de bolo seguida por muitos grupos, criando um prejuízo à cena pela mimetização sonora – não é usada pela Nort Moskow como subterfúgio para disfarçar nada com distorções, reverbs e overdrives.
A Colostro é outra filha de Pato Branco. Formada em 2013, o power trio faz garage rock que lembra muito a turma punk 77 – que serviu de inspiração para o antigo sele Mondo 77, de Campinas, que lançou, entre outros, a The Violentures, Walverdes e Banzé!.
Com um EP na bagagem – Colostro, de 2014 -, o grupo faz um som direto e dançante, usando bem o fuzz e o drive, tendo como base para suas composições temas como amor e sexo. Colostro foi um registro muito interessante, inteiro gravado em take on e com direito a um ótimo cover para “Lonely Boy”, do The Black Keys. E, cá entre nós, nem é o melhor do bom EP.
E, para o bem de todos, a música sobrevive (e bem) mesmo longe de nossos olhos (e ouvidos).