Certos detalhes fazem muita diferença em um disco. E digo isso com a certeza que é um detalhe muito maior que a produção. Exitem discos muito bem produzidos que não necessariamente conquistam o público, e o contrário também ocorre – mais do que gostaríamos.
Coesão e homogeneidade são elementos fundamentais e, a meu ver, pontos-chave na análise da produção de um álbum. Em geral, o primeiro lançamento de um grupo, salvo quando um nome muito potente está por trás, sofre em alguns detalhes, mas, por sorte, nem sempre interferindo no produto final. Um destes casos é o disco Pollice Verso, primeiro EP da banda curitibana de mesmo nome.
Produzido por Vadeco Schettini e gravado no estúdio Astrolábio, Pollice Verso sofre com pequenos problemas na narrativa do álbum. Quando analisado individualmente, as canções são boas, excelentemente conduzidas pelo quinteto; em conjunto, destoam um pouco, como se a narrativa e as camadas referenciais fossem um pouco esquizofrênicas. Entretanto, nada tira o brilho do primeiro EP de Henrique Seratiuk, Kaleb Ferreira, João Sary, Mateus Linhares e Miguel Mello.
Lançado oficialmente no último dia 18, no John Bull, o disco (e a banda) fazem uma mistura de indie, pop e progressivo, com maior ênfase aos dois primeiros. Juntos desde 2012, a Pollice Verso traz boas composições em seu primeiro EP. Segundo single do disco, “You Get Older” é a melhor canção de Pollice Verso, com direito a menção aos Pixies. Impossível dissociar a essência da faixa da própria realidade do grupo; ela conversa diretamente com o público, e sua temática garante a proximidade e fácil identificação. Ela ainda conta com a participação da cantora curitibana Mônica Bezerra, acrescentando uma camada vocal que faz um belo contraponto. Um indie pop direto, que gruda.
Muito bom perceber a pertinência do disco ao procurar falar a um público de uma faixa etária mais nova muito mais do que canções de amor.
“Madcap”, o primeiro single liberado no mês de março, tem um quê muito forte do vilão da série em quadrinhos Capitão América. Retrata alguém descontente, que procura compartilhar sua falta de perspectiva de vida e frustração nas outras pessoas. Novamente, fica perceptível como a Pollice Verso se esforça em fazer um recorte da sua própria geração, falando sobre temas que lhe são caros – e lhe dizem muito respeito.
Também merece destaque “Post Tempest”, a faixa com toques progressivos de Pink Floyd. Bem conduzida, a canção apenas poderia não ter os backing vocals, que poucam acrescentaram à música, além dar uma sensação de desprendimento dos vocais das trilhas instrumentais. Afora este detalhe, é um registro maduro e ousado para um grupo relativamente novo.
Como citado anteriormente, os ruídos na narrativa dizem mais respeito às diferentes nuances referenciais do que às temáticas. Por sinal, muito bom perceber a pertinência do disco ao procurar falar a um público de uma faixa etária mais nova muito mais do que canções de amor. Obras marcantes têm como principal característica serem reflexo da sociedade em que estão inseridas, e esse é, certamente, o maior acerto do grupo curitibano. Ouvidos atentos, há muito ainda para ouvirmos sobre eles.