Antes de mais nada, esse texto é – primordialmente – um manifesto deste que vos fala: vamos ouvir mais música latina. Não é um pedido dos mais fáceis, visto que, às vezes, é difícil para o brasileiro reconhecer a própria música feita aqui, mas é um exercício interessante para expandir os horizontes. Vá do começo, pegue os clássicos como Los Fabulosos Cadillacs; um poeta como Jorge Drexler – que costumava fazer uma música muito mais europeia do que uruguaia, mas em seu último disco assumiu de vez os ritmos latinos; ou interessantes projetos contemporâneos como o El Cuarteto de Nos. Garanto que de algo você irá gostar.
Por diversas razões históricas, a cultura brasileira se afastou cada vez mais da cultura do restante da América Latina. Aqui ao lado, atravessando a fronteira, argentinos e uruguaios têm noções culturais bem maiores quando se fala de produção musical no continente. Nos acostumamos a ouvir música em dois grupos: ou é nacional ou é internacional – e por internacional entenda, em inglês. Há uma fronteira fácil de ser cruzada mas pouquíssimo explorada entre a música brasileira e a latina, em espanhol. Se aqui nos acostumamos a ouvir elementos do samba misturados a vários gêneros, podemos ampliar o gosto com rock que encontra o tango, com pop que encontra a salsa, com indie rock feito na Argentina em nível de norte-americanos. É a mistura que dá a cara do nosso continente e que faz do tour musical pelo som latino algo tão interessante.
Em tempos de Spotify e serviços de streaming, perder-se em indicações é fácil. Basta achar um artista interessante e seguir as recomendações para viajar pelos países. Pode ser o rock argentino de bandas como Las Pastillas del Abuelo, Valle de Muñecas, Él Mató a un Policía Motorizado e os clássicos Soda Stereo e Pescado Rabioso; no Uruguai o rock agitado de bandas como Mersey e No Te Va Gustar, o som mais acústico do La Hermana Menor, o clássico rock/ska da La Vela Puerca ou o belo acústico do Franny Glass; o charmoso bolero dos colombianos do Aterciopelados; o moderno rock dos chilenos do Los Bunkers ou o tradicional som do país com o Los Tres. Para os mais românticos a música latina também é prato cheio, com o trabalho solo de Vicentico, Andrés Calamaro, Andrés Correa e Eduardo Mateo. Opções não faltam.
Nos acostumamos a ouvir música em dois grupos: ou é nacional ou é internacional – e por internacional entenda, em inglês. Há uma fronteira fácil de ser cruzada mas pouquíssimo explorada entre a música brasileira e a latina, em espanhol.
São grandes artistas e autores de trabalhos incríveis, que inclusive ressoaram na música brasileira, influenciando muitos músicos da nossa terra; caso de álbuns como “La Marcha del Golazo Solitario”, do Fabulosos Cadillacs. Para quebrar essas fronteiras entre o Brasil e o resto da América Latina, artistas brasileiros se uniram no ótimo projeto Somos Todos Latinos, lançado no início deste ano. Nele, bandas como Nevilton e Cassim & Barbária, ou cantoras como Lara Rossato, fazem versões para clássicos latinos. De Mercedes Sosa à Chico Trujillo, com destaque para a versão da carioca Vivian Belford para “La Edad del Cielo”, de Jorge Drexler.
Escapar da rota padrão de música estrangeira Estados Unidos – Inglaterra é útil, amplia horizontes e pode trazer gratas surpresas. Você pode preferir se aventurar por sons asiáticos, islandeses, franceses, etc, mas conhecer o que está ao lado tem os seus prazeres. Afinal, em teoria, também somos latinos. Diferentes, mas com suas semelhanças e misturas. E quer algo melhor do que música para quebrar barreiras e unir povos?