O nome Katze pode parecer desconhecido, entretanto, a cantora é uma das mentes por trás da banda curitibana Cora. A inquietude é um dos motores para a criação de Moon Phases of a Relationship, primeiro EP solo de Katherine Zander. Katze caminha entre o cloud rap e a vaporwave, sem necessariamente seguir as normativas dos dois movimentos artísticos ao pé da letra. Em comum, ela busca a criação de uma estética própria, capaz ainda de abraçar nuances do R&B contemporâneo, por exemplo.
Moon Phases of a Relationship é uma viagem onírica, um mergulho até certo ponto nostálgico numa estética retrô, capaz de aglutinar remixes, sintetizadores e guitarras para ilustrar pequenas imagens sonoras de devaneios. Katze estabelece um jogo metafórico em Moon Phases of a Relationship, se valendo de um relacionamento pessoal para, a partir de um insight com as fases da lua, trazer ao público um vislumbre sobre as utopias e ramificações dos relacionamentos – ainda que também evoque percepções sobre a contemporaneidade e nossa relação com o mundo: conexões vazias, vagas, superficias e egoístas, ditadas pela tecnologia e aspirações ocas.
Uma das virtudes do EP de Katze é realmente funcionar como fases, em que camadas são expostas conforme as audições do disco se acumulam. Espontânea, reflexiva e prodigiosa, estas características juntas são a base sólida de seu som, em que tudo acaba sendo subvertido de alguma maneira.
Espontânea, reflexiva e prodigiosa, estas características juntas são a base sólida de seu som, em que tudo acaba sendo subvertido de alguma maneira.
Um olhar mais aprofundado permite captar que Moon Phases of a Relationship funciona quase como uma proposta estética “pós-algo”, já que é um registro que representa (e apresenta) uma estética audível (e visual) que dá som à forma como Katherine olha a arte, a reflexão e a própria nostalgia, sem estar conectada a alguma coisa previamente concebida.
Outra virtude do disco é como Katze torna este universo de temáticas complexas facilmente traduzível. As quatro faixas que compõem Moon Phases of a Relationship são tão exuberantes que, à medida que as canções são executadas, você quase sente a energia pulsando através da caixa de som.
A visão de Katze surge acolhedora ao ouvinte e tende a favorecer Moon Phases of a Relationship como um olhar irônico e enigmático sobre a vida a dois, colocando em perspectiva a ideia de vida moderna e destacando alguns de seus aspectos desconcertantes, inserindo profundidade à sua proposta de música pop.
A osquestração feita pela cantora talvez não seja uma “jogada de mestre” nem tenha “inventado a roda”, mas certamente lança luz ao quão profundas realmente são nossas conexões com o próximo.