É curioso como no Brasil tanto o indie quanto o rock alternativo ganharam representações diferentes do restante do mundo. Termos muito mais abrangentes em sonoridades – e, hoje, até um pouco vazios de sentido -, eles de vez em quando reaparecem e ganham uma nova chama. Caso semelhante ocorre com a curitibana Urbanites, que lançou recentemente seu primeiro EP, Anxious Minds, Vol. 1.
Ancorados na mistura de vertentes, que vão desde o britpop até o blues, a Urbanites caminha nesta seara que é o rock. Se falta ao grupo uma identidade sonora mais lapidada, de modo a conferir à banda um registro musical próprio, é inegável que seu primeiro trabalho demonstra qualidades. Anxious Minds, Vol. 1 é formado pela junção de quatro faixas interessantes, que versam sobre os conflitos internos vividos por nós, sejam nas relações sociais ou de compreensão (e entendimento) de nossa função na vida. Contudo, a variação rítmica entre elas evidencia a ausência de uma maior coesão no registro, ainda que, individualmente, elas sejam boas canções.
A cozinha da banda é bem conduzida e sincronizada, assim como Guizo se esforça em oferecer um vocal pungente e, juntamente com Bróder, criar riffs urgentes (e até dançantes).
O que certamente a banda deve levar deste disco é que todo talento é uma construção contínua.
Exceção feita a groovada “Breakthrough”, que encerra o registro e apresenta uma linha de baixo para não se botar defeito, as outras três faixas seguem dentro de um mesmo contexto, porém, possuem muitas variações entre si. As referências existentes nelas têm uma amplitude temporal muito grande, trazendo como resultado a sensação de que estamos ouvindo um best of de uma banda com muito tempo de estrada – algo que não condiz com os 4 anos da Urbanites.
Em alguma medida, a banda curitibana nos pega pela mão e leva por uma viagem sonora por recortes do rock das últimas décadas, com todas as idiossincrasias que o gênero apresentou e acumulou a partir das mudanças estéticas e comportamentais. Ainda que não seja algo incomum na cena atual, esse passeio peca pela falta de sutileza nestas transições. Nada absurdo ou que deprecie a imagem da Urbanites, mas a carência desse eixo central pode (e deve) ser corrigida para próximos discos, especialmente com uma maior atenção por parte da produção.
O que certamente a banda deve levar deste disco é que todo talento é uma construção contínua. Ao definir sua identidade sonora, o grupo ganhará não apenas em qualidade, que já tem, mas principalmente em personalidade, já que permitirá a diminuição de referências e o estabelecimento de uma atitude própria – e uma musicalidade para chamar só de sua.
Videoclipe de “Pull Me Back In”
Gravado em um planetário desativado, o clipe da faixa “Pull Me Back In” foi dirigido por Joaquim Sarmento e Arthur Tuoto. Em um cenário abandonado às intempéries, a banda se apresenta enquanto imagens de filmes antigos são intercaladas na tela. Se a rota final da desordem é o desespero, o filme trata de traduzir imageticamente os versos da canção. Assista abaixo.