Já se vão quase 13 anos de estrada na história da Punkake. Não é preciso conhecer muito as estranhas da indústria da música para entender que este é um número muito representativo. Do sexismo e do machismo à dificuldade inerente a todo artista independente (e de um gênero musical menos popular como o rock), Bacabí, Ingrid Richter, Lívia Calil e Carol Steiner mostraram ao longo destes anos que é com muito talento e bastante perseverança que se vai ao longe.
A banda lançou em fevereiro o aguardado 4 feelings, novo álbum da banda, o primeiro a ser lançado pela parceria com a RIND Records. As onze canções presentes no registro servem como resposta a toda tentativa de rotular a sonoridade do grupo, distante de tags redutoras como “rock feminino” e muito mais complexa que a associação às riot grrrls da década de 1990.
Marcadas por uma presença de palco explosiva, sempre servindo como extensão de suas gravações de estúdio, o quarteto procura dar um passo adiante no novo álbum.
Gravado no estúdio Boom Sound Design com produção de Roy Z (Judas Priest, Angra, Sepultura), 4 feelings apresenta todas as influências variadas que fazem parte da bagagem da banda, fazendo da pluralidade de seus acordes a marca de um rock autoral moderno, que casa o peso de riffs bem construídos com um lirismo ajustado às urgências cotidianas.
Tão conectado às novas tendências do rock quanto atento às referências sob as quais assentam sua musicalidade, o álbum evidencia um talento muito bem delineado, um amadurecimento em relação a Tão Sexy (2009), e uma forte consciência a respeito da importância da estética e de uma construção narrativa na música contemporânea, especialmente no rock e suas vertentes, tão prejudicadas pelas caricaturas a que o gênero tem sido reduzido.
4 feelings não se pretende um disco conceitual, ainda que seja evidente o fato de possuir um enredo ponto-chave em sua concepção. Ainda assim, a forma como o disco foi orquestrado pela Punkake deixa evidente que sua longa gestação resultou em uma forte interligação entre as onze faixas presentes. Sendo assim, nada mais normal que a própria mente do ouvinte, parte integrante deste arranjo cênico e musical, seja responsável por criar essa interpretação – bastante plausível, diga-se.
Marcadas por uma presença de palco explosiva, sempre servindo como extensão de suas gravações de estúdio, o quarteto procura dar um passo adiante no novo álbum, em que não apenas encontramos densidade, irreverência e atitude, mas também um conjunto mais entrosado, capaz de entregar melodias intrincadas (“Look Away”), linhas de baixo agressivas e marcantes (“Lovely Betty”), bateria envolvente (“You and Us”) e até flertar com o symphonic metal (“Should I Kiss You”), descortinando novos arranjos em uma cartela sonora e rítmica ousada, cativante, dançante e, principalmente, muito competente.
Impossível negar que valeu a pena esperar tantos anos por um novo disco.