Enquanto a política no Brasil tem sofrido uma crise imensa e tomado, em até certo ponto, tons de seriado norte-americano com um pouco de novela das onze, a corrida presidencial nos Estados Unidos da América tem sido uma espécie de spin-off.
Só que os personagens de lá também tem aparecido de formas peculiares e cercadas de polêmicas. Se de um lado temos a democrata Hillary Clinton vencendo prévias, mesmo com divisões da própria esquerda, no lado republicano a figura cada vez mais caricata de Donald Trump tem crescido, ainda que também sobre rachas na direita, nas prévias do partido. E nessa narrativa, até o mundo da música começa a cada vez mais abrir as vozes.
Já tivemos, de ambos os lados, artistas se pronunciando, e a lista, que já passou por apoiadores e críticos de Bernie Sanders, Hillary Clinton, Ted Cruz e o próprio Trump, é cada vez maior. Só que pela contramão de tudo isso, outros nomes vêm surgindo para simplesmente conturbar o cenário.
Nas últimas semanas, o Rage Against the Machine começou a atiçar seus fãs com uma possível volta às turnês. O pandemônio gerado nas redes era semelhante ao da derrubada de grades na edição do SWU de 2010. Naquela turnê, que marcou a primeira passagem do grupo pela América do Sul, a banda aproveitou para se despedir dos palcos. Quem viu Zack de la Rocha e Tom Morello agitar uma debandada extasiada viu; quem não viu, era impossível dizer se teria uma nova chance.
Entretanto, o clímax não passou nem perto de revelar uma volta. O suspense acabou quando os integrantes Brad Wilk, Tom Morello e Tim Commeford anunciaram um supergrupo com a presença de figuras também lendárias, como o frontman do Public Enermy, Chuck D, e B-Real do Cypress Hill. À essa união, foi dado o nome de Prophets of Rage, música do Public Enemy, e a turnê de verão pelos EUA foi anunciada para o período das eleições. E se tratando de integrantes de três grupos muito relacionados a temas sociais e políticos, é impossível não compreender que tudo isso se trata de uma posição de enfrentamento ao discurso político. É como a menina em frente aos tanques.
Prophets of Rage, de início, não se trata de um projeto que vai abraçar composições próprias. A ideia é sair tocando música dos três grupos para os fãs durante a corrida presidencial.
Prophets of Rage, de início, não se trata de um projeto que vai abraçar composições próprias. Pelo menos de acordo com os integrantes, a ideia é sair tocando música dos três grupos para os fãs durante a corrida presidencial. Claro que tudo isso é uma forma que cada um deles encontrou para dizer contra o que e contra quem eles vão se levantar. E mesmo que não se trate deu uma nova e duradoura banda, o PoR já aparece como um símbolo de cansaço ao establishment.
Os fãs sabem que o posicionamento dos integrantes do Rage Against the Machine à esquerda do espectro político sempre foi muito claro. Já do lado do Public Enemy e do Cypress Hill, o racismo e a situação das periferias dos imigrantes latinos sempre foram peso importante nas letras. E a campanha #TakeThePowerBack lançada durante o teaser deixou bem claro que essa situação veio para incomodar e que eles não pretender dar trégua a nenhum candidato que falar demais.
Vale lembrar que, mesmo com as declarações infelizes e idiotas de Trump, Prophets of Rage não é um grupo apenas contra o candidato republicano. Resta saber só como o outro lado da disputa vai lidar com o grupo que vai tocar no mesmo palco hits como “Fight the Power” e “Testify”, claramente se opondo ao sistema com unhas, dentes, microfones e palhetas.
O supergrupo Prophets of Rage fará sua “estreia” no Whisky a Go Go, em Los Angeles, de acordo com a Billboard. E, para os fãs, a expectativa é que esse trabalho, além de dar certo, dê frutos a novos materiais, músicas e álbuns e não vire só uma turnê.
Até porque, se tratando de uma força de resistência em períodos de eleições, tudo que nós não queremos é que eles também fiquem apenas na promessa.