Gala Briê, cantora peruana, cruza o Brasil muito mais do que nosso nobre leitor possa imaginar. A cantora, que integrou o time de artistas peruanos a se apresentarem no Primavera Festival de 2016 e esteve no SXSW este ano, despertou seu interesse musical a partir da música popular brasileira (além da música clássica), através de nomes como Caetano Veloso, Tom Jobim e Elis Regina. Filha de mãe brasileira, Gabriela Gastelumendi é dona de uma das vozes mais doces e acalentadoras da atual cena musical peruana.
Entre a alegria e a melancolia de seus relatos sobre questões íntimas, como o amor, por exemplo, Gabriela constrói sua carreira sem abraçar gêneros específicos. Ex-integrante do grupo Las Amigas de Nadie, Gala iniciou sua carreira solo com o disco Intensos Instantes, em que a música pop é a principal influência, mas a partir de um cruzamento sensual com elementos do indie, em especial da vertente indietronica. Há modernidade em sua proposta de pop, mas assemelha-se mais ao que a mexicana Julieta Venegas ou a brasileira Céu fazem, e menos ao pop norte-americano – hoje carregado de nuances de hip-hop.
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Amalgamando um universo de sentimentos, Gala Briê lança olhar ao íntimo enquanto procura conectar-se ao ouvinte.
Amalgamando um universo de sentimentos, Gala Briê lança olhar ao íntimo enquanto procura conectar-se ao ouvinte. Nesta sinergia que surge entre o que a cantora emite e o que o público ouve, ela monta polaroides afetivos, mas não direciona sua musicalidade à pieguice, pelo contrário. Suas canções possuem maturidade, uma delicadeza no trato, na forma, e que não subestima a inteligência de seu público. Em suma, sua obra permite a compreensão de que a música pop também carrega doses de complexidade.
Gabriela é filha de um psicoanalista conhecido por seus estudos da ayahuasca. Se a psicodelia na fixa nítida em suas músicas, ao menos serviram para que a cantora ampliasse sua visão sobre diferentes aspectos da vida. Enquanto Aldous Huxley utilizou a mescalina para entender o quão pequena e limitada é nossa presença no mundo (As Portas da Percepção, 1957; tradução de Oswaldo de Araújo Souza), Gala canalizou suas impressões em impulsionarsuas atitudes, de forma a criar coisas que pudessem fazer com que realmente sentisse viva. Essa forma singular e ao mesmo tempo plural de encarar a carreira é o que dá à cantora uma força artística que transforma sua música em poesia sonora.
Em processo de produção do sucessor de Intensos Instantes, Gala Briê já disse em entrevistas que o Brasil está em seus planos para o futuro. Pelo bem de suas audições sonoras, esperemos que isto não tarde a acontecer – e que o segundo álbum venha o mais rápido possível.
NO RADAR | Gala Briê
Onde: Lima, Peru.
Quando: 2015.
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