Músico prolífico, vocalista de duas bandas de longa estrada na cena musical peruana, Nicolás Duarte lançou este ano seu primeiro disco solo, o EP Seis canciones para el fin del mundo. O resultado é um trabalho que une o rock com uma veia mais popular em composições que exprimem uma certa urgência sobre a vida, o amor (e o desamor), as relações humanas e uma certa melancolia.
Nicolás Duarte parece carregado de uma necessidade quase emocional por compartilhar sua arte, o mais íntimo e peculiar de sua mente, além de dar vazão a esta pungência criativa. Vindo de experiências artísticas com peso e susbtância, ouvi-lo empunhando a guitarra mas com mais cadência que peso é reconfortante. Seis canciones para el fin del mundo carrega diferentes influências, do garage ao folk, mescladas de forma homogênea, segura.
O disco caminha por estas referências sonoras sempre em uma crescente, variando os riffs, mas seguindo por trilhas que permitem ao disco uma coesão harmônica invejável. O tom confessional assumido pelo músico peruano nas faixas que compõem o álbum deixa clara as razões para que migrasse para um projeto solo. É um mergulho profundo no universo mais íntimo de si, uma investigação sobre o eu.
Ouvir Seis canciones para el fin del mundo é ter um encontro revelador com um artista que, frente a tudo, ainda procura se encontrar e desvencilhar da ansiedade, da inseguraça e do medo, imprimindo para isso uma força sonora e uma liberdade poética de maneira a chegar ao fim desta busca.
Para compreender essas relações, é preciso dizer ao leitor que Nicolás Duarte é um músico que fez da paixão pela arte uma forma de aproximação com a realidade política e social.
Para compreender essas relações, é preciso dizer ao leitor que Nicolás Duarte é um músico que fez da paixão pela arte uma forma de aproximação com a realidade política e social. Fruto de uma geração de artistas que começou a se formar durante a redemocratização do país no ano 2000, Duarte já disse em entrevistas que seus contemporâneos formaram uma safra desconectada da política, mas que foi justamente a música que serviu de fio condutor no processo de torná-lo um artista. “Sou parte dessa geração desconectada, mas [highlight color=”yellow”]a música foi o que nos levou a realidades com as quais não estávamos em contato[/highlight]”, disse em entrevista.
A maneira como procura ser transparente em tudo que faz (desde entrevistas em que admite que sua geração perdeu o bonde da redemocratização, até afirmações de que não foi um leitor assíduo e que isto o entristece) denotam uma figura ímpar, que no limite do possível se desfaz de máscaras para estabelecer uma relação de proximidade com seu público, sem falsos preciosismos ou a construção de uma figura midiática que represente uma intelectualidade não condizente com a realidade.
Este é o terceiro lançamento de inéditas desde 2015 de projetos nos quais está envolvido e sem dúvida o mais intimista. Se há algo que certamente podemos esperar de Nicolás Duarte nos próximos tempos é que ele continue nos impressionando com sua forma distinta de fazer música. que nos toca pela crueza dos relatos e pela sinceridade de seu eu-lírico.
NO RADAR | Nicolás Duarte
Onde: Lima, Peru.
Quando: 2017 (carreira solo).
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