Dando continuidade aos destaques da programação do Sesc 24 de Maio – publicada aqui na coluna na última semana -, indico dois novos trabalhos que valem a degustação: Música de Montagem – volume 2 e Elomar. Música de Montagem Vol. 02 é o título do mais recente álbum do compositor Sérgio Molina, inteiramente dedicado à canção.
A sonoridade do trabalho vem de experiências que radicalizam as informações e surpresas: dissonâncias seguidas de consonâncias, dodecafonismo com música pop, ritmos brasileiros e orientais, escrita musical e livre improvisação. Processos que foram criados a partir do texto, compostos exclusivamente para o disco. As letras são parcerias de Sérgio Molina com Lilian Jacoto, Chico César, Kleber Albuquerque, Tata Fernandes, Luciano Pessoa e Mauro Aguiar.
Ao lado de Molina, que assume o piano, violão e vocais, está Joana Duah na voz principal, Clara Bastos (“Orquídeas do Brasil”) nos contrabaixos, Rodrigo Bragança nas guitarras e texturas eletrônicas, Priscila Brigante (bateria e percussão) e as vocalistas Alexia Evellyn e Aninha Ferrini. No repertório do show, entremeando as músicas de narrativas e durações mais extensas como “Parangolé”, “No fim do túnel” e “Gente básica”, há também a série de canções miniaturas chamadas “Melancholias (I e II)”.
Sérgio Molina, músico paulistano com extensa atuação tanto no universo da canção popular de vanguarda (como o projeto Sem pensar nem pensar – parcerias com Itamar Assumpção na voz de Miriam Maria) quanto no da música clássica contemporânea (série de peças encomendadas pelo Quaternaglia Guitar Quartet). Sérgio é também o autor do livro Música de Montagem: a composição de música popular no pós-1967 (É Realizações, 2017), vencedor do Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música (2016) e do Prêmio Tese destaque USP (2015). Música de Montagem – vol.2 entra direto para os melhores discos do ano. O show acontece no SESC 24 de maio em São Paulo, neste domingo (20) às 18 horas.
Elomar
No Sesc 24 de Maio, Sérgio Molina lança ‘Música de Montagem’. Já Elomar viaja no cancioneiro popular brasileiro no show ‘Muntano o Mondengo’.
O cantor e compositor baiano Elomar Figueira Mello apresenta o show “Muntano o Mondengo”, acompanhado de seu filho, o violonista e maestro João Omar. O repertório trafega pela história do Brasil por meio da música, nas rotinas dos tropeiros, vaqueiros e retirantes, numa leitura metafísica, levando o público ouvinte a uma contemplação do fantástico, numa viagem surreal. Assim, o show procura trazer um pouco da poética desse “dessertão” nordestino, cujas raízes ibéricas e celtas até nós chegaram.
A expressão Muntano o Mondengo, que dá nome ao show, faz referência aos versos da canção “Na Quadrada das Águas Perdidas”, também título do segundo álbum do artista, gravado nos estúdios do Seminário Livre de Música da Universidade Federal da Bahia, em dezembro de 1978.
Definido por Vinícius de Moraes como um príncipe da caatinga, Elomar é um artista singular, que tem na tradição trovadoresca da Idade Média sua inspiração musical. Lançada em 1983, a ópera nordestina Auto da Catingueira é seu trabalho mais conhecido, considerado a obra-prima definitiva da poética “sertaneza” (dialeto usado pelo artista para cantar o sertão).
![Músico Elomar se apresenta no Sesc 24 de Maio Elomar](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Elomar-reproducão-1024x685.jpg)
Elomar é um artista comovente. A cada obra consegue apresentar a beleza de um Brasil profundo. O show promete ser um resgate da simplicidade e pureza do cancioneiro popular brasileiro. O espetáculo será realizado nos dias 26, 27 e 28 de outubro, às 21 horas. Sábado haverá uma sessão extra, às 18h.
Em 2015, Elomar foi homenageado pela Ocupação Cultural do Rumos Itaú. Deixo por aqui uma parte do documentário apresentado durante o evento.