Era uma vez um menino do interior que acordava bem antes do galo cantar. Ele recolhia algumas garrafas vazias, as levava até a lojinha local e trocava por umas moedas. Por lá, havia um homem negro, de cabelo branco e encaracolado, empunhando um velho dobro. O menino, apaixonado pelo som que o homem fazia, pegava todo seu dinheiro e dava para o velho senhor que, em troca, tocava algumas canções.
Esse é o espírito por trás de “The Ballad of Curtis Loew”, um dos maiores clássicos do Lynyrd Skynyrd e, claro, do rock sulista. A vida interiorana, a balada do country antigo, com riffs e acordes típicos do blues; essa união de estilos, sons e histórias fizeram do Southern Rock um gênero popular e que presenteou o bom amante do rock n’ roll com nomes fantásticos como o próprio Skynyrd, Allman Borthers Band e também Black Crowes – que, infelizmente, anunciou seu fim.

A simplicidade da vida no campo e daqueles músicos contrastava com a complexidade das notas, desenhando maravilhosos solos em suas partituras. “Free Bird” provou isso quando foi eleita como um dos 100 melhores solos de guitarra da história, junto de outros nomes do sul como Stevie Ray Vaughan, Pantera, ZZ Top e Allman Brothers Band.
Mas em meio a tantos feitos e nomes lendários dentro do universo do rock n’ roll, o Southern Rock acabou tendo sua imagem sempre presa aos artistas pioneiros do gênero. Muita gente, inclusive, decretava o gênero morto e enterrado, o que culminou no pouco espaço – ou atenção, ao menos – para as novas gerações de músicos caipiras, que têm feito um trabalho muito bom.
Os sites Whiplash (aqui) e Southern Rock Brasil (aqui) já fizeram listas com novos nomes que merecem atenção nessa nova geração de músicos. Mas o que podemos dizer a respeito dela quando colocamos um disco ao lado de outro para ouvir?
Em meio a tantos feitos e nomes lendários dentro do universo do rock n’ roll, o Southern Rock acabou tendo sua imagem sempre presa aos artistas pioneiros do gênero.
Bom, em primeiro lugar já podemos citar a própria reformulação do Lynyrd Skynyrd em 1987, com remanescentes do trágico acidente de avião e do vocal poderoso de Johnny Van Zant, que continuou o trabalho fantástico de seu irmão, morto no acidente. A reformulação do Lynyrd e seus novos álbuns mostrou um som mais forte, com fortes referências ao hard rock; o som continuava melódico, mas tinha uma espécie de fúria indomável. Nessa mesma linha, nomes como Hogjaw e Six Shot Revival gravaram faixas excelentes – e que complementam o espíriro Molly Hatchet.
Em segundo lugar, podemos falar sobre as bandas que ainda buscam manter o velho espírito, com suas raízes voltadas aos riffs bem construídos, acompanhados daquele vocal tradicional. Dirty Sweet, por exemplo, possui um som bem característico, com um vocal rasgado e guitarras cruas; faixas como “Rest Sniper, Rest” trazem uma energia incrível, como se Wolfmother e Black Crowes resolvessem montar um supergrupo.

Mas o destaque mesmo e que você deveria conhecer mais, com certeza, é Blackberry Smoke. Quem ouve a banda pela primeira vez nem imagina que eles estão recentemente na estrada. Suas composições trazem um rock cru e incrível, com boas guitarras, um piano clássico dos salões de western e muitos traços do blues e do country, conduzidas por um vocal com forte sotaque sulista e um quê de gospel. Blackberry Smoke é uma banda que pouco tem a buscar sobre evolução, já que seu debut Bad Luck Ain’t No Crime, de 2004, começa num nível tão alto – e que está presente em toda discografia, especialmente no maravilhoso The Whippoorwill (2012), com a faixa “Ain’t Much Left of Me”.

E assim podemos ficar aliviados, pois o Southern Rock está vivo e muito bem. E Blackberry Smoke é um dos nomes que tem conduzido muito bem esse caminhão com novos talentos.
Até a próxima – e última parte.