Além do apreço por gravar em tempos sagrados do rock mundial (e atualmente de astros de outros gêneros), a Splippleman também zela pela qualidade de seu trabalho, sempre costurados a partir da definição de uma estética sonora e artística que permeia cada elemento que compõe o cenário de seus registros.
Enquanto em Welcome to the Magic Room (2014) escolheram o lendário Abbey Road, lar dos Beatles, para Splippleman at Sunset Sound – Lost, Now Found, seu segundo álbum completo, lançado este ano, o local escolhido foi o Sunset Sound Recorders. Localizado em Hollywood, o famoso distrito de Los Angeles, o Sunset Studios já abrigou nomes como Led Zeppelin, Guns N’Roses e os próprios Beatles, e de onde saíram discos emblemáticos da música mundial como Purple Rain (Prince, 1984), Exile on Main St. (The Rolling Stones, 1972), Pet Sounds (The Beach Boys, 1966) e os dois primeiros do The Doors, o homônimo The Doors (1966) e Strange Days (1967).
Se para um leigo, a escolha do quinteto curitibano é apenas perfumaria, para Lincoln Fabrício, Fábio Serpe, Ricardo Bastos, Emanuel Moon e Sérgio Justen a escolha é, acima de tudo, a confirmação de um marco de maturidade artística e sonora, como se chegar até lá representasse o cumprimento de uma etapa da carreira dos músicos. Fica evidente também, especialmente ao ouvir Splippleman at Sunset Sound – Lost, Now Found, que a escolha também atende a uma exigência do próprio grupo sobre o que desejam frente à banda.
Em perspectiva com o trabalho anterior, Lost, Now Found aparenta a Splippleman lapidando seu som, ainda flertando com a sonoridade dos paulistanos do Gram e demais referências, mas assumindo uma veia autoral mais própria.
Em perspectiva com o trabalho anterior, Lost, Now Found aparenta a Splippleman lapidando seu som, ainda flertando com a sonoridade dos paulistanos do Gram e demais referências, mas assumindo uma veia autoral mais própria e capaz de naturalizar suas influências sem que elas dominem seus riffs. Não há o que permaneça imutável, e isto se estende à música. Como resultado, é de se esperar que a cada novo disco os artistas se desafiem, ou ao menos sintam-se desafiados por entregar um novo produto que denote sua evolução. Neste sentido, a Splippleman é bem-sucedida, e não apenas por suas escolhas estéticas, mas por ser capaz de canalizá-las de maneira criativa.
Não é sempre que as bandas conseguem atingir tal feito, e até por isso criou-se um mito sobre os segundos discos. Uma virtude a ser destacada em Lost, Now Found é a jovialidade dos arranjos. Sem recorrer a lugares-comuns, a Splippleman demonstra personalidade sonora interessante, que não tenta se reinventar, mas dá a entender que o quinteto enxerga seu momento sob uma nova ótica, trabalhando tessituras que visam compor uma narrativa orgânica e, por isso mesmo, heterogênea.
Nessa roupagem que trafega por um universo ora pop, ora introspectivo, ora urgente, não restam dúvidas que o desafio do segundo disco foi superado. E com louvor.