O Abbey Road Studios é, ao menos desde os Beatles e sua histórica transmissão ao vivo via satélite de “All You Need is Love”, um local sacro para os amantes da música. A relação do quarteto de Liverpool com o Abbey Road Studios era tanta que, em 1969, lançaram um álbum com seu nome. Por lá também passaram artistas como Pink Floyd, Iron Maiden e, mais recentemente, Adele.
Em abril deste ano, o Google, através do Google Maps, lançou o projeto Inside Abbey Road. Nele, qualquer pessoa do mundo pode fazer um passeio pelo emblemático estúdio onde David Gilmour, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright gravaram The Dark Side of the Moon. E se para boa parte das pessoas chegar até aí seria o máximo possível, para o quinteto curitibano Splippleman não chegava perto do que queriam.
Imbuídos de muita vontade (e uns trocados) fizeram as malas, arrumaram os instrumentos e partiram para Londres. Welcome to the Magic Room – Splippleman at Abbey Road, disco com 10 faixas, é o fruto desta experiência certamente inesquecível.
![Welcome to the Magic Room Splippleman](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2015/06/capa-abbey-road.jpg)
A Splippleman não é um grupo novato. Ricardo Bastos e Emanuel Moon, baixista e baterista, respectivamente, fazem parte da Relespública. O grupo é completado por Lincoln Fabricio (vocal), Fábio Serpe (guitarra) e Sérgio Justen (teclado). O nome da banda teve livre inspiração em um personagem criado pelo filho de Lincoln; já a sonoridade do grupo flerta não apenas com os Beatles, mas também com The Who e os brasileiros da Gram.
Ao longo das 11 faixas que compõem o trabalho, vemos uma Splippleman que se vale da maturidade de seus músicos. O álbum é consistente e flui até com certa rapidez. A construção dos versos compõe histórias com seus ouvintes que, no melhor empréstimo possível de características do cinema, possuem arcos narrativos que não se apresentam óbvios. Para que o leitor compreenda a importância do que digo, é necessário entender que estamos falando de artistas com tempo de estrada e que, mesmo assim, se esforçam em soar contemporâneos e complexos sem, no entanto, serem presunçosos.
Estamos falando de artistas com tempo de estrada e que, mesmo assim, se esforçam em soar contemporâneos e complexos sem, no entanto, serem presunçosos.
A banda consegue ir além da boa composição lírica. Algumas doses de bons riffs de guitarra e uma linha melódica que flutua entre o convite ao cântico em conjunto, como bem faz “Duefellow (Common Madness on Demand)”, e a urgência cotidiana de “Call to Bolster”, dão a tônica de Welcome to the Magic Room.
Por ser cantado em inglês, o trabalho abre portas para que o grupo expanda seus horizontes. A faixa “X-Ray Riff Machine” foi indicada no Indie Music Channel Awards de 2014 nas categorias Melhor Canção de Rock e Melhor Gravação de Rock. Mesmo não saindo premiados, serve como demonstração de que o investimento – em tempo e dinheiro – valeu a pena. Em tempos tão modernos e digitais, a quebra da – ainda temida – barreira idiomática poderá ser um forte aliado na busca por fãs além de nossas fronteiras.