Não adianta fugir, a mistura define o Brasil. A mistura de culturas, hábitos, sotaques, clima, paisagens e cores. O tamanho enorme desse país que o transforma em um paradoxo constante. Transformamos qualquer coisa em Brasil. Nós somos a própria pizza de paçoca, o temaki de arroz e feijão. Um emaranhado de ideias ruins porém sinceras que talvez deem certo. E a música às vezes falha em retratar com mais precisão esses contrastes, mas tem gente que sabe muito bem se portar no meio da confusão – em todos os sentidos – que é a pátria amada e idolatrada.
O Cabezas Flutuantes está nesse grupo. A parte fixa da banda de Minas Gerais é Carou Araújo, mas ela vem com Fábio Cardelli e mais uma lista grande de convidados para construir sua obra brasileira. Eles criaram juntos o recém lançado Experimental Macumba (2016), um disco que é a cara do Brasil: uma grande mistura.
Embora no álbum esteja presente o indie folk remanescente do primeiro trabalho do Cabezas Flutuantes, Registro (2013), o segundo disco da banda é desde o começo quente e com dança no pé. A arte da capa já é uma representação do clima de “tudo junto” brasileiro, e cada faixa é uma viagem pelo país. Há o sambinha da ótima “Di Menor”, a lambada descarada de “Rela”, o batuque indie de “Pega Pega”, o tecnobrega latino de “Quince Pesos” e a sensacional sintetizada “Mal Acostumado”, cover dessa música que você está imaginando: o pagode do Araketu.
O que o Cabezas Flutuantes cria em Experimental Macumba é um disco que respira os quatro cantos do Brasil, inclusive suas fronteiras com outros países latinos.
O que o Cabezas Flutuantes cria em Experimental Macumba é um disco que respira os quatro cantos do Brasil, inclusive suas fronteiras com outros países latinos. É construído por várias vozes, vários sotaques e várias referências. É às vezes romântico, às vezes político. O single “Di Menor” trabalha com leveza a questão da redução da maioridade penal, como uma singela mensagem de apoio aos adolescentes deste país, junto de um clipe que mostra bem o clima que eles buscam.
O mais legal é que essa mistura toda funciona e fica homogênea. Por mais estranha que seja a transição de “Rela” para “Broken”, por exemplo, a banda faz funcionar. O disco é curto mas direto ao ponto, fazendo questão de mostrar que é, sim, uma confusão que dá certo, assim como o próprio Brasil é às vezes. Carou e Fábio parecem conscientes do plano de jogar vários ingredientes e fazer essa feijoada. E ela fica saborosa, dá vontade de repetir o prato e depois, mesmo estufado, sair dançar um sambinha simplesmente por que você pode.