O cantor Elvis Presley não inventou o rock. Chuck Berry e Bill Halley, por exemplo, antes do “Rei do Rock”, já tocavam – e muito – rock… O termo “rock’n’roll” pode ser ouvido em letras de músicas desde o fim dos anos 40, como sinônimo de “dançar” ou “transar”. Alan Freed, o famoso e polêmico radialista, assim batizara seu programa no início dos anos 50: “Moondog’s Rock and Roll Party”.
Se não um inventor, Elvis Presley pode ser considerado muita coisa relacionada ao gênero, e, por assim dizer, na história da música e principalmente da indústria fonográfica. Funcionou meio que como um apresentador do rock ao mundo. O homem certo na hora certa, Elvis foi um rapagão boa pinta e talentoso, que além de ser branco – característica imprescindível para todos que não quisessem sofrer horrores na América dos anos 50 –, era muitíssimo carismático.
Little Richard, um dos maiores nomes da música, negro e homossexual, sobre essa questão racial que envolvia Elvis, dizia: “Agradeço a Deus por Elvis Presley, porque abriu as portas para muitos de nós”. E mesmo para o “Rei” não foi bolinho: a sociedade norte-americana, conservadora, demasiadamente conservadora, resistia muito a uma figura que cantava e dançava (rebolando) à moda dos negros.
Logo após as primeiras apresentações na TV, as câmeras passaram a filmá-lo apenas da cintura para cima, a fim de censurar o rebolado inconveniente e inapropriado para “pessoas de bem”. E já que tocamos no assunto “escrotísse”, que nos assola neste exato momento, aqui, no Brasil, Elvis, ao contrário de Pat Boone, por exemplo, não escondia a origem de seu som: “O que eu faço não é novidade, os negros vêm cantando e dançando dessa forma há muito tempo”, declarava o “Rei”.
Dali em diante, astro consagrado, o cantor se tornaria presença obrigatória em vários programas de TV norte-americanos. E devido ao gigantesco sucesso, e à rápida percepção do valor da imagem no showbusiness, maior até mesmo que do som, a partir dos anos 60, atuou em vários longas-metragens, exibidos até no Brasil – e, para os nascidos antes dos anos 80, conquistando fãs de outras gerações por meio da Sessão da Tarde.
Se não um inventor, Elvis Presley pode ser considerado muita coisa relacionada ao gênero, e, por assim dizer, na história da música e principalmente da indústria fonográfica.
E sob este ângulo, Elvis astro, também de cinema, é que queremos falar um pouco, agora. Lançado há 61 anos, Loving You chegava aos cinemas em 23 de agosto de 1957. Segundo filme na carreira do “Rei” como ator, nele Elvis Presley interpreta Deke Rivers, um sujeito comum, trabalhador, que é descoberto pela jornalista Glenda Markle (Lizabeth Scott) e Tex Warner (Wendell Corey), um cantor de country.
E o fato de ter protagonizado mais de 30 títulos em 13 anos demonstra não apenas o quão popular e desejado Elvis foi pelos fãs: é mais uma prova do imenso significado que o ícone formado por este artista tem na nossa cultura. Tendo forjado as bases da indústria, que se referenciou na simbologia do “Rei” quanto a construção de todos os astros que o sucederam.
Logo após o lançamento de Loving You, Elvis foi convocado pelo exército e se distanciou por quase três anos do mainstream. O retorno na música seria em 1960 com o ótimo álbum Elvis is Back!.
Aos 25 anos de idade, desligado das forças militares, Elvis Presley registra canções altamente variadas quanto ao estilo, cantando como nunca em um trabalho impecável. “Such a night”, “Like a baby” e “Reconsider baby” esbanjam sensualidade e sex appeal. Depois de um bom tempo separados, Elvis e banda estavam tocando como se o tempo não tivesse passado.
Todo o entusiasmo adolescente, em muitos momentos selvagem, estava reunido num registro inédito, para a alegria geral. As sessões foram tão inspiradas que, além das doze faixas que compõem Elvis is Back, renderam sobras que se converteram em hits, como singles, lançados mais tarde.
É possível que Elvis tenha sido o artista mais importante da história do rock, e da indústria musical. A julgar por declarações como esta, de ninguém menos que Bob Dylan: “Quando ouvi Elvis pela primeira vez, soube que não iria trabalhar pra ninguém e que ninguém seria meu patrão”, referindo-se muito mais à atitude e ao que o ícone representou, que à música propriamente dita.
De fato, Elvis Presley não inventou o rock. Mas por ter sido decisivo na popularização de um gênero marginalizado, se colocando como interlocutor entre uma geração de adolescentes e seus pais, no doloroso pós-guerra, mostrando que havia uma música que falava por e para eles, o fez incontornável e inesquecível. A indústria da música se dividiria em antes de Elvis e depois de Elvis, e isto ainda vale até hoje.
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