• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Teatro

Censura ao Teatro Oficina: quando borboletas provocam furacões

porBruno Zambelli
11 de agosto de 2016
em Teatro
A A
imagem da internet

imagem da internet

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Ordens são ordens. A desculpa do carrasco por ter as mãos sujas de sangue é o cumprimento da sentença. O dever, essa retidão em honrar seu papel diante da sociedade, justifica até os mais odiosos atos. Torturadores remunerados para produzir a barbárie, censores pagos para calar. Os serviçais do horror estão sempre dispostos a executar o serviço sujo de seus senhores. Estraçalham, maltratam, destroem. Criam e diluem leis, respeitam apenas a sua própria ganância e gargalham fervorosamente diante da miséria humana que produzem enquanto obra. Aqueles que ousam desafiá-los possuem uma tarefa inglória pela frente. Seus inimigos além de controlarem os meios utilizam-se das mais variadas formas de violência para debilitar, humilhar e exterminar.

Apesar de exaustos, desacreditados e, muitas vezes, desanimados, os defensores da liberdade persistem pelo simples fato de que resistir é a única saída, já que a submissão é um estado permanente pertencente apenas aos covardes. É preciso lutar sempre, mesmo diante de batalhas perdidas. Lutar para se manter vivo, já que a existência padece onde a liberdade é violada.

A nova censura à página do facebook do Teat(r)o Oficina, grupo teatral comando por José Celso Martinez Corrêa, é só mais uma mostra de que tempos sombrios, feitos de mordaça e cintos de castidade, emergem no horizonte brasileiro.

Na última quinta, dia 04, a página no Facebook do Tea(r)o Oficina foi retirada do ar por conta de uma denúncia anônima. Em primeiro lugar, é preciso dizer algo sobre o anônimo, esse tipo que vem se espalhando feito peste pelas ondas digitais. Covarde por natureza e agente do ódio, o anônimo é um parasita que se esconde atrás de denuncias vazias. Na história específica o anônimo em questão voltou seu clique covarde contra os mamilos de uma das atrizes, ostentados em uma foto artística, publicada em fevereiro em um dos álbuns da trupe. A mensagem da rede social era clara: ou tira ou sofra as consequências. Sim, em tom de ameaça a tal “equipe” do Facebook exigia a retirada imediata da foto sem maiores explicações a não ser que a imagem feria os termos da rede social.

Em tempos onde o espaço dado ao teatro nos jornais impressos, e até mesmo em sites, é quase nulo, sabemos que a tal rede é de extrema importância para divulgação de espetáculos. Diante disso, os responsáveis pela página não tiveram escolha e, mesmo a contra gosto, atenderam a ordem travestida de pedido. Passados três dias, no domingo (07), nova mensagem aos responsáveis: a página havia sido removida por violar os tais termos de uso. Mesmo com o pronto atendimento a um pedido imoral, os mamilos do Teat(r)o Oficina continuavam banidos, excomungados do paraíso cibernético azul celeste de Mr. Zuckerberg. O mesmo paraíso que admite propagandas de garotões vestidos em trajes nada ortodoxos. Aparentemente, e pra começar o papo, o Facebook julga a liberdade feminina obscena, ameaçadora. Sintomático, não?

A extinção da página, com suas mais de trinta e três mil curtidas, é a  exemplificação perfeita dos tempos atuais onde os velhos fantasmas que nossa nação insistiu em varrer para dentro do tapete ao invés de combater começam a causar-nos novos pesadelos.

Fundada em 1958, a Oficina Uzyna Uzona é atualmente o grupo de teatro mais antigo em atividade ininterrupta no país. Responsável por espetáculos que reinventaram as artes cênicas, é desnecessário explicar a importância do grupo para o teatro, seja ele nacional ou mundial. O seu mais ilustre fundador, e talvez quase a personificação do próprio grupo, é o genial José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso.

Fundada em 1958, a Oficina Uzyna Uzona é atualmente o grupo de teatro mais antigo em atividade ininterrupta no país. Responsável por espetáculos que reinventaram as artes cênicas.

Zé sabe bem o que é lutar contra a barbárie. Foi preso e torturado na época da ditadura, enfrenta há anos uma furiosa especulação imobiliária que tenta a todo custo sufocar a revolução verde de seu teatro e teve o irmão, Luiz Antônio, assassinado de maneira brutal. A toda violência que recebeu a cacetadas, Zé Celso respondeu de maneira poética. Cada verso de seus espetáculos, cada corpo desnudo que corre pela pista do teatro, cada sorriso do público maravilhado é uma manifesto em defesa da beleza e da liberdade. O teatro Oficina sabe que resistir é preciso e não se deixa abater diante de mais uma porrada. Pelo contrário, vem a público denunciar essa situação absurda e mante-se firme como o teatro guerreiro que sempre foi e há de continuar sendo.

A população precisa estar atenta. A censura ronda novamente os palcos, os estádios e as redações; arrastando suas correntes, feito alma penada, amordaçando e ameaçando a liberdade que nos é tão cara, ela tem nos olhos a vontade de calar a todo custo. É preciso lembrar que somos uma nação conivente com a violência, já que nunca demos o devido tratamento aos canalhas que nos saquearam os direitos à época dos anos de chumbos. Não podemos novamente assumir o pacífico papel dos cidadãos impotentes. É preciso que façamos barulho, que defendamos incansavelmente o nosso direito de gritar e reagir diante dos abusos aos quais estamos submetidos.

Dizem, e creio nisso quase como uma religião, que as borboletas são as verdadeiras responsáveis por todo furacão. Com toda a sua fragilidade e beleza, as borboletas guardam em suas asas de seda uma violência poética capaz de estremecer toda a terra. Depois de amar, afogados em prazer e êxtase, esses animais perdem-se pelo ar em um bailado mortífero de uma beleza ímpar. Com corpos e asas entrelaçados, coreografam sua própria morte de maneira frenética antes de sumirem estraçalhadas pelos ares. Essa mórbida coreografia seria o origem de todo furacão: o ventar devastador nascido da beleza suicida do amor  entre duas borboletas.

O artista é também detentor de uma poesia acachapante que pode transformar o mundo em que vivemos,  por isso é natural que mesmo com toda a fragilidade de nosso atual estado também sejamos detentores de uma beleza devastadora. Como as borboletas, podemos provocar uma catástrofe poética de proporções incalculáveis, resta-nos aprender a ventar.

fb-post-cta

Tags: censuraFacebookjose celso martines correaTeatroteatro Oficina

VEJA TAMBÉM

Dirigido por Luciana Paes, Gregório Duvivier protagoniza ode crítica à língua de todos nós. Imagem: Joana Calejo Pires / Divulgação.
Teatro

Crítica: Em ‘O Céu da Língua’, Gregório Duvivier performa as fissuras da linguagem – Festival de Curitiba

8 de abril de 2025
Espetáculo retornou após 15 anos ao festival. Imagem: Roberto Setton / Divulgação.
Teatro

Crítica – ‘In On It’ retorna a Curitiba após 15 anos sem perder o frescor – Festival de Curitiba

4 de abril de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Série chegou ao fim após 3 temporadas, mas deixou possibilidade de spin-off. Imagem: Netflix / Divulgação.

‘Round 6’ termina em sacrifício, dor e silêncio

4 de julho de 2025
Michelle Williams e Jenny Slate estão impecáveis em 'Morrendo Por Sexo'. Imagem: 20th Television / Divulgação.

‘Morrendo Por Sexo’ acerta na sua abordagem franca da sexualidade das mulheres

3 de julho de 2025
Cantora neozelandesa causou furor com capa de novo álbum. Imagem: Thistle Brown / Divulgação.

Lorde renasce em ‘Virgin’ com pop cru e sem medo da dor

3 de julho de 2025
Paul Reubens como Pee-Wee Herman. Image: HBO Films / Divulgação.

‘Pee-Wee Herman: Por Trás do Personagem’ busca justiça ao comediante Paul Reubens

2 de julho de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.