• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Teatro

O tempo e a cena

porBruno Zambelli
8 de dezembro de 2017
em Teatro
A A
O tempo e o teatro

Foto: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Ao escrever ou tratar de teatro estamos também tratando de diversos outros assuntos. São inúmeros os temas que “flutuam” em torno da ideia de um palco negro onde tudo é possível. Pode-se falar, por exemplo, a respeito das diversas metodologias e teses desenvolvidas através dos tempos na tentativa de aprimorar ou compreender o exercício dessa arte. Podemos também tratar de algumas “artes auxiliares” à “feitura” de um espetáculo, isso sem o intuito de considerá-las menores ou menos importantes, é claro.

Nesse caso poderíamos incluir, por exemplo, as artes plásticas, a história da arte e talvez até a própria dramaturgia, dentre tantas outras. A verdade é que ao abordar o teatro enquanto tema [highlight color=”yellow”]não temos a obrigação de nos limitar apenas a esse palco escuro[/highlight], mas sim de nos apegar às possibilidades infinitas que vivem nessa escuridão. De todas essas possibilidades, e lembremos que elas são, como já disse, infinitas, existe apenas uma que está sempre ali, atrelada ao exercício cênico feito a morte no cangote de quem vive: o tempo. Tempo e teatro estão entrelaçados e é impossível tentar romper esse emaranhado que os une de maneira disforme e caótica.

Tempo cênico, tempo de comédia e até o imprescindível tempo pro cigarrinho no meio dos ensaios. Pra todo lado que se olhe nesse bendito palco o seu vazio é preenchido por ele, o eterno tic-tac de Chronos que nos persegue. Tempo pra estreia, tempo de espera e até mesmo aquele tempo bom, desanuviado, quando o espetáculo é a céu aberto.

Por mais que lutemos, seja no teatro ou na vida, é impossível fugir do tempo. Ele já impregnou a poeira de nossos livros, já laceou nossa pele cada vez mais rugosa e até amoleceu nossos músculos preciosos e anteriormente duríssimos. Seus grãos arenosos já sufocaram o resto de nossa esperança e seus dentes afiados já devoraram a maioria de nossas lembranças. O tempo é luxo pra quem já viu a vida passar diante dos olhos e é tormento para aqueles que tem pressa em viver e sabem que ainda falta muito tempo pro tempo voar. Ao ator, e a todos os homens de teatro, esse tempo é calma. É oportunidade para lapidar, trabalhar o ócio. O tempo no palco deve ser um relógio manco, quase parado, onde as horas ao invés de escorrer tomam a forma de espetáculo.

O tempo no palco deve ser um relógio manco, quase parado, onde as horas ao invés de escorrer tomam a forma de espetáculo.

Mas o mundo mudou. Estamos sempre conectados, logados, ligados e alucinados. Como as informações ao correr do dedo na tela do telefone móvel, a vida também ganhou uma velocidade frenética e incompreensível. Não há mais em nosso cotidiano o tempo que para. Nunca mais ficamos solitários pensando no tempo que não volta mais, afinal temos “amigos” a um toque de distância e o apito constante da vida cibernética nos lembra que hoje somos todos populares em meio a fantasmas digitais. A vida passa a passos largos e ninguém para para ver o seu desfile patético.

Tal qual a vida, hoje em dia o teatro também corre, tem pressa. É pensado e inventado em ritmo acelerado. Ao que parece, e isso pode apenas ser resmungo de um velho ultrapassado, o teatro moderno abraçou a velocidade e deixou de lado a cadência. O negócio substituiu o ócio no país dos empreendedores artísticos. Produções relâmpagos saem e entram de cartaz sem que os figurinos tenham a chance de serem ao menos lavados. Atores mastigam emoções e vomitam palavras feito um homem diante do prato que aguardava há anos na mesa de uma birosca à beira da estrada.

Justificativas e contrapartidas são inventadas diariamente na ânsia do próximo prêmio, à espera do próximo depósito, na esperança de mais um mês de temporada. [highlight color=”yellow”]O teatro esqueceu que é uma arte antiga, de cabelos brancos e olhar quente, e que paciência e calma são virtudes e não vícios de vivência.[/highlight] Afinal, pra que tanta pressa se sabemos que o fim da estrada é sempre o precipício? Precisamos de mais tempo, nem que o usemos para mastigar palavras e pedras, nem que o gastemos para esquecer que é o próprio tempo que nos cerca. O tempo de um suspiro pode significar um século de paz.

E o tempo da cena, tem receita? Não! O tempo do teatro é o peito, e talvez por conta disso o seu companheiro eterno seja mesmo esse desespero. Como todos os pobres habitantes dessa terra inóspita, também nos perdemos pelos ponteiros da existência em algum momento e é preciso dar um tempo pra que tudo se encaixe, pra que o peito se acalme e a cena se ajeite. Tempo não é dinheiro, é sossego. É a brisa que passa diante dos olhos já quase cerrados mas que ainda os acaricia com a esperança de romper a barreira desse velho guerreiro que é, acima de tudo, sentença de morte. O tempo e cena são indissóciaveis, e travam uma batalha eterna diante de nossos olhos, em cima dos palcos.

É certo que essa batalha está perdida desde o berço, e que a cada nova investida acabamos por deixar escorrer por entre os dedos mais tempo em busca de derrotar esse inimigo imbatível. O tempo corre, amigos, e persegui-lo é que é perda de tempo. A saída? Quem sabe… na verdade, pouco importa! Se ao tempo cabe sufocar-nos diariamente, ao homem cabe enfrentá-lo mesmo que sem esperanças. Cada um, a sua maneira, busca uma forma de “ganhar do tempo” e talvez a eternidade esteja mesmo escondida por aí. Na dúvida seguimos. Ainda estamos reféns desse tempo tormento, é verdade, mas com a certeza de que há, dentro das possibilidades daquele escuro no palco, algo que nos permitirá romper aqueles braços flácidos que abraçam o universo e encenar a nossa própria miséria, afinal fazer teatro é cortejar o infinito.

link para a página do facebook do portal de jornalismo cultural a escotilha

Tags: EnsaioTeatrotempo

VEJA TAMBÉM

Dirigido por Luciana Paes, Gregório Duvivier protagoniza ode crítica à língua de todos nós. Imagem: Joana Calejo Pires / Divulgação.
Teatro

Crítica: Em ‘O Céu da Língua’, Gregório Duvivier performa as fissuras da linguagem – Festival de Curitiba

8 de abril de 2025
Espetáculo retornou após 15 anos ao festival. Imagem: Roberto Setton / Divulgação.
Teatro

Crítica – ‘In On It’ retorna a Curitiba após 15 anos sem perder o frescor – Festival de Curitiba

4 de abril de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Retrato da edição 2024 da FIMS. Imagem: Oruê Brasileiro.

Feira Internacional da Música do Sul impulsiona a profissionalização musical na região e no país

4 de junho de 2025
Calçadão de Copacabana. Imagem: Sebastião Marinho / Agência O Globo / Reprodução.

Rastros de tempo e mar

30 de maio de 2025
Banda carioca completou um ano de atividade recentemente. Imagem: Divulgação.

Partido da Classe Perigosa: um grupo essencialmente contra-hegemônico

29 de maio de 2025
Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.