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Perturbação e desvirtude

porFrancisco Mallmann
15 de setembro de 2015
em Teatro
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Leon Cakoff, jornalista e crítico de cinema, no livro Ainda Temos Tempo, em uma crônica intitulada “Nos Exílios de Buñuel”, em que narra um encontro que teve com o cineasta espanhol Luis Buñuel, diz que são pouquíssimos os realizadores que têm seus nomes transformados em adjetivos. Segundo ele, Buñuel (assim como Fellini e Bergman, por exemplo) poderia ser identificado através de seu estilo de “codificar as fraquezas humanas e seus páthos” e isso fez com que os seres buñuelescos tivessem vida própria antes mesmo da morte de seu criador, cuja adjetivação transcendeu a própria figura.

Buñuel, “esse aragonês amargo e, de acordo com as estações políticas do século XX, anarquista, surrealista, anticlerical, crítico mordaz de todos os costumes”, transitou entre a Espanha, o México e a França (importantes contextos políticos e sociais refletidos em sua cinematografia, ainda que “indiretamente”, ou melhor: não nomeadamente) e dirigiu mais de 30 filmes, dentre os quais destacam-se El Ángel Exterminador (O Anjo Exterminador, 1962) e Le Charme Discret de la Bourgeoisie (O Discreto Charme da Burguesia, 1972).

Esses dois filmes, especialmente, apresentam traços fundamentais em comum. O principal deles é a instauração de um ambiente de “desvirtude” em que, no lugar das aparências e da moralidade de uma alta classe, surge a contradição em todos os elementos apresentados, nos mais variados níveis e intensidades. Além desse caráter central, são várias as temáticas que se repetem: questões envolvendo a religiosidade, os contratos sociais, as instituições, a família, os rituais (a presença da comida e da mesa, “o lugar em que a burguesia está mais organizada visualmente” ) e todas as condutas que se fazem presentes em uma sociedade burguesa.

“Eu amo a liberdade e, então, a sociedade burguesa me parece abominável. Nós vivemos numa sociedade com plena injustiça em todos os terrenos, em todos os sentidos. Odeio a injustiça. Rejeito a sociedade burguesa por causa da injustiça”, falou Buñuel quando entrevistado sobre o filme de 1972. Jean-Claude Carrière, roteirista de Buñuel, no entanto, disse uma vez que O Discreto Charme da Burguesia “não é um editorial dos problemas de seu tempo”, mas é um filme que “instrumentaliza o seu tempo”, porque revela uma porção de situações que se fazem presentes, ainda que se trate “de um contexto fictício (uma república qualquer, um ditador qualquer)”.

São esses os pontos que gostaria de reunir para escrever sobre a peça Os Pálidos, que tem como principais referências os filmes citados.

O elenco da peça Os Pálidos é composto por Anne Celli, Ciliane Vendruscolo, Greice Barros, Luiz Bertazzo e Rafa di Lari. Foto: Elenize Dezgeniski.
O elenco da peça Os Pálidos é composto por Anne Celli, Ciliane Vendruscolo, Greice Barros, Luiz Bertazzo e Rafa di Lari. Foto: Elenize Dezgeniski.

A última vez que escrevi sobre a CiaSenhas, em um texto sobre o evento Gilda convida Maria Bueno, eu usei as palavras “necessidade” e “urgência”. E, talvez, novamente, elas sejam igualmente pertinentes para se abordar essa montagem, cujo texto e direção são assinados por Sueli Araújo.

A sede da companhia, na Rua São Francisco, no centro de Curitiba, lugar em que acontece a peça, se configura não só como o espaço que abriga o evento cênico, mas como um polo de articulação de assuntos importantes, dada a complexidade das situações. A São Francisco é uma rua que se tornou um espaço de convivência e convergência, e tem sido pauta para se discutir inúmeras questões, muitas delas dissidentes, que vão desde a apropriação da cidade, passando pela higienização, a especulação imobiliária, a mobilidade, as formas de se consumir, até a presença policial e as relações de poder.

É com esse cenário, físico e sensível, em que a intersecção entre a estética e a política tem na atividade artística uma maneira de formalizar e mobilizar questões provenientes das duas áreas, que Os Pálidos é apresentada ao público. Uma manifestação artística que não se apresenta com essências imutáveis, mas como um jogo cujas formas, modalidades e funções são alternadas, mediante a criação/efetivação de diferentes circunstâncias que envolvem o embate entre “o delírio” e “a rua”, a “ficção” e o “real”, a “personagem” e a “planta”. Estão reunidas, além das temáticas do referencial em questão (os contratos sociais, a mesa e a comida, o comportamento, a burguesia, etc), problemáticas da realidade mais próxima possível.

“O micro estabelecendo relações com o macro. O país sendo discutido a partir de um cenário aparentemente restrito.”

A obra de arte parece ser entendida enquanto interstício, um espaço disponível para o encontro, para a interação humana e para a re-significação de agentes e situações artísticas/políticas a partir do deslocamento de cinco indivíduos munidos com discursos contraditórios e ébrios. Transitam por ali figuras buñuelescas, atraentes, envolventes e histéricas, capazes de manobras que visam o consentimento da “compra de armas”, por exemplo.

Ao “instrumentalizar o nosso tempo” sem, necessariamente, ser um “editorial dos nossos problemas”, assim como a obra de Buñuel, Os Pálidos surge como um mecanismo de resistência e subversão porque é apresentada como a possibilidade de alterar as formas de ser/estar no espaço coletivo, propondo uma percepção diferenciada do “mundo”- que contempla desde a rua em questão até geografias e territórios outros. Ao revelar as contradições existentes em um discurso “burguês” que percebe “perturbações” em todo o lugar, a peça promove a alteração de certa “organização” e de certa “ordem” com que o “sensível” é visto, significado e transmitido, também por conta de um deslocamento do próprio público, dividido em dois grupos. O micro estabelecendo relações com o macro. O país sendo discutido a partir de um cenário aparentemente restrito.

É instaurada a ruína de um sobrado burguês no qual a voz e o corpo centralizam discussões que parecem ter como destino revelar a naturalidade com que perpetuamos as injustiças. Às vezes, sem nem mesmo percebermos suas existências e, às vezes, ainda, com o prazer sádico de se saber injusto.

SERVIÇO

Os Pálidos

Quando: 31 de agosto a 1.º de outubro. Segunda a quinta-feira, às 20 horas.
Onde: CiaSenhas de Teatro. Rua São Francisco, 35 – Centro.
Quanto: Entrada franca, através de reservas pelo: ospalidos@gmail.com.

Tags: CiaSenhas de TeatroCrítica TeatralOs PálidosRua São FranciscoSueli AraújoTeatro

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