Se 2018 terminou como um ano tumultuado, sobretudo no âmbito da política, 2019 já demonstra que não será diferente. As intensas discussões políticas e a polarização no Brasil estão cada vez mais evidentes. Aproveitando-se desse momento de instabilidade política que vive o país e dos péssimos índices de audiência em seus diversos programas, a Globo resolveu apostar neste ano em um Big Brother que fosse um espelho da nossa sociedade, com um elenco polarizado, e, assim, reafirmando o seu interesse em comandar as pautas no dia a dia dos brasileiros.
Não é novidade que a emissora sempre tentou agendar os assuntos a serem tratados pelos cidadãos em uma mesa de bar, em casa e até mesmo no trabalho – questão essa que já foi abordada por mim algumas vezes nesta coluna. Por meio de seus telejornais, telenovelas e até mesmo de seus programas de entretenimento, a Rede Globo tenta influenciar as conversas dos brasileiros.
Com a queda de audiência dos programas, o Big Brother Brasil é a aposta da vez. A escolha dos participantes do BBB na atual edição, que estreou na última terça-feira (15), é uma das táticas da emissora que objetivam o agendamento.
Por meio das chamadas do reality durante a programação, bem como das matérias produzidas por portais de notícias sobre o elenco, foi possível perceber o extremismo nas ideias e condutas dos participantes. A direção resolveu refletir a polarização latente na população brasileira dentro da casa.
Se por um lado essas escolhas são positivas, devido ao retrato real que se faz do Brasil, sendo uma espécie de experimento antropológico, por outro não há como não enxergá-las como um ato guiado pelos anseios da indústria cultural.
Entre os participantes temos:
- Rodrigo França, um cientista social especializado em Direitos Humanos, ativista, filiado ao PSOL e autor de peças teatrais;
- Vanderson, um biólogo que está envolvido em uma polêmica na qual sua ex-namorada diz ter sido agredida física e psicologicamente por ele;
- Carolina, uma publicitária e empresária baiana que tinha em suas redes sociais uma foto na qual usava uma camiseta estampada com o rosto da ex-presidente Dilma Rousseff;
- Diego, que é catarinense, empresário e criador de cavalos, o qual está sendo associado ao governo Bolsonaro pelo fato de sua namorada ter fotos fazendo campanha para o atual presidente;
- Gabriela, uma designer gráfica e percussionista, negra, feminista, lésbica, ativista social e que participou de um vídeo de protesto contra a sexualização do corpo da mulher;
- Hariany, uma modelo e estudante de Design de Moda, loira, vaidosa, que se considera uma pessoa sedutora, aposta na boa forma física para chamar a atenção das pessoas e tem o sonho de ser famosa.
E o programa não titubeou em sua estreia para frisar essas polarizações. As duas primeiras apresentações já demonstraram, de cara, um choque de realidade. Gustavo, um médico oftalmologista, se apresentou como pegador, micareteiro, vaidoso e metrossexual, que faz, inclusive, botox. Na sequência, foi apresentado Danrley, um estudante de Ciências Biológicas, morador da Rocinha, que deseja ser professor, dá aula particular e vende picolé aos finais de semana.
Se por um lado essas escolhas são positivas, devido ao retrato real que se faz do Brasil, sendo uma espécie de experimento antropológico, por outro não há como não enxergá-las como um ato guiado pelos anseios da indústria cultural.
Afinal, quando um telespectador se reconhece no que vê, ele compra aquela ideia com mais facilidade e se permite ao agendamento. O que nos resta é aguardar para ver se a emissora terá ou não êxito nessa nova aposta.