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A TV anacrônica da quarentena

Coluna discute como alguns produtos televisivos reprisados nos meses de pandemia, como as novelas, mudaram seus sentidos ao longo dos anos.

porMaura Martins
31 de agosto de 2020
em Televisão
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As personagens Helena e Eduarda, de Por Amor, foram reconfiguradas em duas décadas. Imagem: Reprodução.

As personagens Helena e Eduarda, de Por Amor, foram reconfiguradas em duas décadas. Imagem: Reprodução.

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O atual período de pandemia e quarentena, como sabemos, tem forçado a TV a adequar seu modus operandi. Já são mais de cinco meses de programação suspensa e, acima de tudo, de muitas reprises. A Globo, por exemplo, investiu pesado no filão das novelas e tem levado ao ar – em sua grade e em sua plataforma digital Globoplay – uma grande quantidade de folhetins marcantes. Alguns deles, inclusive, nunca haviam sido repetidos no clássico horário de Vale a pena ver de novo.

 Diferente do que poderia se imaginar, os resultados, em termos de acesso e em audiência, têm sido bons. O sucesso de Êta mundo bom, por exemplo, é tema recorrente de debate. Afinal, o que faz alguém parar para rever uma história repetida, em que já sabe tudo o que vai acontecer? Há algo de nostalgia, de ligação emocional com a época da veiculação original? Ou o fenômeno se deve ao fato de que simplesmente não temos mais o que fazer durante o modorrento período de quarentena?

São muitas as questões, e elas foram abordadas com mais profundidade pelos jornalistas Maurício Stycer, Chico Barney e Debora Miranda em episódio do podcast UOL Vê TV. Nesta discussão, eles ainda se atentam a outro fenômeno bastante intrigante: a alta quantidade de reprises nos faz ver o quanto as narrativas “envelheceram” ao longo destes anos. Muitas novelas e séries (além de reportagens jornalísticas mesmo, como essa explicitamente gordofóbica do Jornal da Globo) que reassistimos mostram-se hoje claramente anacrônicas, ou seja, soam estranhas ou simplesmente erradas em tempos atuais.

Vejamos alguns exemplos. A própria novela Avenida Brasil, de João Emanoel Carneiro, de 2012, veiculada este ano no Vale a pena ver de novo, já apontava elementos que se tornaram “criticáveis” em oito anos. A relação entre Leleco (Marcos Caruso) e Tessália (Debora Nascimento), baseada num ciúme doentio do malandro, parece hoje inconcebível – que Tessália aguente por tanto tempo de forma relativamente passiva. A própria relação entre Jorginho (Cauã Reymond) e Nina (Debora Falabella), ela uma das protagonistas da novela, soa hoje como abusiva – algo que não se sinalizava no já longínquo 2012.

A TV, como uma indústria que produz bens culturais, criados por pessoas, é, na verdade, um reflexo do seu tempo.

Há ainda exemplos contrários. A novela Por Amor, de Manoel Carlos, exibida entre 1997 e 1998, girava em torno de uma mãe e uma filha (vividas por Regina Duarte e Gabriela Duarte). A filha, Eduarda – que sofre o ator de “amor” do título da novela, quando sua mãe troca os bebês que ambas tiveram para que Eduarda não descubra que seu filho morreu – foi decodificada, à época, como uma mulher extremamente mimada e chata. A personagem de Gabriela Duarte foi atingida por uma espécie de ranço nacional. A reprise da novela, em 2019, parece ter cativado uma nova geração de espectadores que agora torciam por Eduarda – não mais vista como simplesmente chata, mas uma mulher superprotegida que passa por uma transformação dura a partir de vários embates com pessoas que a manipulam e/ou abusam. Este texto, do portal Valkirias, traz uma interessantíssima análise de como Eduarda, com o passar de quase 20 anos, foi reconfigurada de chata para vítima, e sua mãe, numa perspectiva de “amor incondicional”, revelou-se como a verdadeira vilã, a sabotadora do crescimento da filha.

É claro que os exemplos seguem infinitamente. Poderíamos falar da construção em torno de Tieta, com seu tom algo moralista em torno do feminino como o causador de todos os males, tal como se Tieta fosse uma Eva, às torturas explícitas de pessoas escravizadas e à sexualização da mulher negra em Xica da Silva, da TV Manchete. É quase que regra que os discursos da ficção tendem a retratar aquilo que se entendia como “normal” em um determinado tempo – e, por consequência, envelhecem e podem ser contestados.

Mas vivemos em plena era do “cancelamento” em que nada parece sobreviver incólume ao julgamento que fazemos cotidianamente nas redes digitais. Levanta-se, então, a pergunta: devemos negar estas narrativas anacrônicas ao ostracismo? Por mais que tenhamos este impulso de criticar discursos que envelheceram mal, no fundo, eles só servem para nos mostrar algo fundamental. A TV, como uma indústria que produz bens culturais, criados por pessoas, é, na verdade, um reflexo do seu tempo, e seus produtos carregam as marcas do período histórico de quando foram criados. Mais útil que “cancelar” novelas ou reportagens é reconhecer que avançamos rumo à melhoria nestes discursos. O fato de que reconhecemos estes textos como anacrônicos é algo a ser celebrado.

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Tags: AnacronismoAvenida Brasilcultura do cancelamentoEduarda Por AmorGabriela DuarteGordofobiaManoel CarlosNovelapor amorRegina DuarteRepriseTelevisãotietauol vê tvVale a Pena Ver de NovoValkiriasXica da Silva

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