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‘Vale Tudo’ mostra que as novelas ainda têm força entre os brasileiros

Cena em 'Vale Tudo' motivou um aumento exponencial de buscas sobre regularização de guarda no aplicativo da Defensoria Pública. A partir disso, reportagem da Escotilha debate como as novelas continuam influenciando ações práticas entre a população.

porMaura Martins
23 de maio de 2025
em Reportagem, Televisão
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No episódio do último dia 13, Lucimar (Ingrid Gaigher) faz download do aplicativo da Defensoria Pública. Imagem: TV Globo / Reprodução.

No episódio do último dia 13, Lucimar (Ingrid Gaigher) faz download do aplicativo da Defensoria Pública. Imagem: TV Globo / Reprodução.

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Uma cena de Vale Tudo repercutiu muito na última semana. Mas o motivo não foi exatamente a qualidade da cena, mas sim o seu transbordamento da tela para o chamado “mundo real”. O episódio mostrava a personagem Lucimar (vivida pela atriz Ingrid Gaigher) entrar com um pedido de pensão alimentícia para o filho que tem com Vasco (Thiago Martins). Para fazer isso, ela acessa o aplicativo da Defensoria Pública e vai relatando o passo a passo.

A grande reverberação da cena se deu pelo que aconteceu depois. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro registrou um recorde de 4.560 acessos por minuto no aplicativo naquele momento. Conforme informações enviadas para a reportagem, neste horário, a média é de 1000 acessos, o que significou um crescimento de 300% no exato horário da novela. Além disso, houve um aumento de 70% de agendamentos realizados pelo aplicativo durante este dia.

A novela escrita por Manuela Dias, que não tem registrado grandes índices de audiência na TV linear, fomenta uma boa discussão: será que os folhetins brasileiros, hoje pulverizados entre vários produtos de entretenimento via streaming, ainda têm força de provocar ações na população? Trata-se de uma pergunta que compreende uma análise complexa, pois envolve diversos fatores, como as “réguas” usadas para mensurar o sucesso de uma novela e a profunda conexão histórica que o formato tem com os brasileiros.

Para pensar sobre isso, a Escotilha conversou com três pesquisadores da área de Comunicação: Lucas Martins Néia, doutor em em Ciências de Comunicação e autor do livro Como a Ficção Televisiva Moldou um País, além de professor do Centro Universitário Senac – Santo Amaro; Anderson Lopes, doutor em em Ciências de Comunicação e professor na Chulalongkorn University, em Bangkok, na Tailândia, e vice-coordenador do Center of Latin American Studies; e Mariana Marques de Lima Pinheiro, doutora em Ciências de Comunicação, especialista em crítica televisiva e autora da tese de doutorado “A crítica de telenovela como operação de circulação de sentidos“.

As novelas ainda influenciam a sociedade?

O câncer de Camila (Carolina Dieckmann) em Laços de Família motivou o aumento de doação de medula óssea. Imagem: TV Globo / Divulgação.

A cena de Vale Tudo na qual Lucimar, com o auxílio da estudante de Direito Daniela (Jessica Marques), acessa o aplicativo da Defensoria Pública para buscar informações sobre regularização de pensão fez com que a novela fosse parar nos noticiários, mas fora da editora de entretenimento. Afinal, não é todo dia que se vê com tanta clareza uma obra de ficção motivar uma ação concreta entre membros da audiência.

Ainda assim, é importante lembrar que essa conexão entre os folhetins e a realidade dos brasileiros e brasileiras não é exatamente uma novidade. Esta, inclusive, é a marca de alguns autores, como Glória Perez e Manoel Carlos, conforme recorda o pesquisador Lucas Néia.

Alguns exemplos deste tipo, e que envolvem estes dois autores, ocorreram em dois momentos históricos. Em Laços de Família, folhetim de Manoel Carlos veiculado em 2001, a personagem de Carolina Dieckmann era diagnosticada com leucemia e precisava de um transplante, o que levou a um aumento significativo a doação de medula óssea no Brasil, que ficou conhecido como “Efeito Camila”. Já em De Corpo e Alma, novela de 1992 de Glória Perez, o drama de uma personagem que precisava de transplante de coração provocou um aumento na doação de órgãos no Brasil.

Néia destaca, contudo, que esse tipo de prática, que é chamada de merchandising social, já esteve bem mais em voga. “Cabe lembrar aqui que Manoel Carlos é um autor que há dez anos não está em atividade, mas a gente vê isso nas reprises dele, no Vale a Pena Ver de Novo. Já a Glória Perez, em A Força do Querer, trouxe a representatividade das pessoas trans”, aponta. Entretanto, esta tônica nas causas sociais não é comum a todos os autores de novelas, e muitos declaram que preferem não trabalhar com isso.

“As telenovelas podem ser uma ferramenta de grande utilidade para tematizar assuntos importantes que vão afetar a ordem do debate público”.

Anderson Lopes

Anderson Lopes afirma que, para se pensar na reverberação das novelas entre a população, é preciso fazer recortes. “Eu acredito que é possível dizer que a telenovela tem uma força significativa na forma e percepção de como a sociedade brasileira se vê e vê o mundo ao seu redor. Em relação a pensar a influência para tomar decisões e realmente ir para o campo da ação e das mudanças práticas, talvez fosse melhor pontuarmos sobre que estrato de sociedade estamos falamos. Digo isso porque, neste contexto em análise, entram recortes de gênero, de raça, de classe, de geração. Logo, quando as palavras ‘influência’ e ‘televisão’ entram em campo, contextualizar todo o ambiente do qual se fala é o X da questão”, explica.

Ou seja: quando se fala sobre os impactos das novelas, é necessário refletir com quais camadas do Brasil elas estão falando. Afinal, este é um país de proporções continentais e com muitas distorções na justiça social. Lucas Néia também acredita nisso: “a primeira coisa a pensar é que a gente vive ainda em um país com profunda desigualdade, onde a TV aberta ainda é essa forma de entretenimento gratuita que chega à maior parte da população. É importante a gente entender como se dá essas questões em todo o país e não apenas nos grandes centros”, comenta.

Entretanto, há uma medida em que esse merchandising social deve ser feito para dar resultado. “É preciso estar ligado à função dramática, à trama em si, ou seja, não ser um ‘ensinamento gratuito’, aquele dedo em riste na cara do espectador”, pontua Néia.

As novelas precisam tratar de questões sociais?

No remake de Pantanal, a personagem de Maria Bruaca (Isabel Teixeira) fomentou uma discussão sobre empoderamento das mulheres. Imagem: TV Globo / Divulgação.

Uma outra questão possível quando se pensa nesse tema é refletir sobre a suposta necessidade de que a novela, enquanto narrativa de ficção, tenha a função social como uma obrigação. Diferente do que alguém pode pensar, esta é uma discussão difícil, já que pode legitimar a produção de folhetins mais pobres narrativamente em prol da entrega de um determinado serviço social.

É o que defende Lucas Néia, que diz que “a telenovela tem que sempre ser vista nesse lugar do entretenimento: a priori, ela não tem uma função educativa. E nem nós podemos relegar a ela esse lugar – de que, por meio dela, nós vamos aprender alguma coisa”. Ainda sim, ele lembra que, por conta desse processo histórico e da profunda imbricação das telenovelas com a realidade do Brasil, pelo menos desde o final dos anos 1960 há uma expectativa de que isso aconteça.

Já Anderson Lopes coloca um olhar diferente, lembrando que os canais de televisão são concessões públicas. “Logo, pensar a ficção e a responsabilidade social das telenovelas não é algo que está em oposição à ideia de que estas obras televisivas, igualmente, são parte do campo do entretenimento. Ao contrário, as telenovelas, muitas vezes, cruzam este caminho único do entreter, para marcar território também no caminho do educar”, explica.

O pesquisa aponta que há inclusive um conceito que serve para apontar isso: eduentretenimento. Sob esta perspectiva, as novelas poderiam se prestar a um serviço importante. “As telenovelas podem ser uma ferramenta de grande utilidade para tematizar assuntos importantes que vão afetar a ordem do debate público. Estamos falando da telenovela como um vetor para expressar a cidadania audiovisual, ou seja, um gênero ficcional que ultrapassa o mero entreter e atinge a via da provocação, da reflexão crítica na vida cotidiana das pessoas. E tudo isso por uma linguagem natural da telenovela: a narrativa melodramática, a narrativa do folhetim”, comenta Lopes.

“Por mais que se fale muito da diminuição da assistência, a gente vê que a televisão brasileira ainda tem uma força muito grande no que concerne às questões sociais”.

Mariana Lima

Para este pesquisador, esse tipo de debate social é muito bem vindo. “Olhando bem, o caso da cena com Lucimar tende a ser um exemplo que retoma as históricas ações de merchandising social das telenovelas brasileiras em décadas anteriores e, que, talvez, também se conecta ao que vimos recentemente (em termos de discussão pública sobre gênero e o papel das mulheres) a partir da personagem Maria Bruaca (Isabel Teixeira) no remake de Pantanal. Mais além, temos tido telenovelas de um caráter até muito progressista e com um frescor na forma de colocar personagens mais conectadas à demografia brasileira”, pontua.

Os pesquisadores lembram que há vários exemplos observáveis que mostram esta imbricação entre os folhetins e a realidade cotidiana. Néia compartilha um exemplo familiar, de uma prima médica que pode utilizar da novela Um Lugar ao Sol (que era considerada de baixa audiência para o horário na época) para conversar com uma paciente. “Ela estava atendendo com uma mulher com mais de 60 anos, e me contou que a cena da novela em que a Andréa Beltrão se masturbava permitiu que ela conversasse sobre isso com a senhora. Isso fez com a paciente pudesse falar mais abertamente sobre o assunto com a médica”.

A questão da queda da audiência das novelas

Com índices de audiência abaixo do esperado, Vale Tudo tem repercutido muito nas redes sociais. Imagem: TV Globo / Divulgação.

Discutir a influência das novelas nos dias de hoje precisa passar necessariamente por uma reflexão sobre o que significa sucesso dentro desse gênero neste momento histórico, em que os níveis de audiência têm se tornado cada vez mais baixos. Os dados registrados pela Kantar Ibope, empresa que mede estes números, mostram resultados abaixo do esperado.

Vale Tudo, que é um remake, foi uma novela anunciada com pompa como uma das principais atrações de celebração dos 60 anos do grupo Globo. Mas, desde sua estreia, no dia 31 de março, tem registrado índices ruins para o horário. Na semana compreendida entre 12 a 17 de maio, por exemplo, ela marcou uma média de 20,8 pontos na Grande São Paulo – o que a deixou atrás da novela das sete, Dona de Mim (21,3 pontos) e muito próxima da novela das seis, Garota do Momento (20,7 pontos).

Mesmo com menos gente assistindo na TV aberta, os pesquisadores acreditam que as novelas seguem repercutindo na população. Mariana Lima pontua: “por mais que se fale muito da diminuição da assistência, a gente vê que a televisão brasileira ainda tem uma força muito grande no que concerne às questões sociais. Ela funciona sim como recurso comunicativo muito forte para a gente pautar questões prementes na sociedade, e isso acontece desde a sua fundação”.

Lucas Néia aponta que a última novela das nove a cumprir as expectativas da Globo em termos de audiência foi Pantanal. Ainda assim, não se pode usar este quesito como régua absoluta – e Mariana Lima lembra que a Globo não divulga os números da Globoplay, o que daria mais elementos para avaliar a assistência da novela.

Ou seja, audiência em TV ou streaming não pode ser visto como um índice absoluto. “Vale Tudo tem resultados piores comparativamente com as novelas das seis e das sete. Mas, quando pensamos em índices de interação nas redes sociais, vemos essa novela como muito expressiva. E isso é sim uma forma de pontuar a relevância da novela na sociedade”, afirma.

Mas será que repercussão nas mídias sociais é, necessariamente, algo bom? Marina Lima levanta a hipótese de que o debate negativo que Vale Tudo tem gerado pode colaborar com o afastamento do público. Mas isso não quer dizer que o buzz – inclusive o causado pela cena de Lucimar – não seja um indício de que as novelas possuem ainda muita relevância.

Mariana finaliza lembrando que a ficção tem a capacidade de ler a sociedade e transpor as suas questões para a tela. “O sucesso da novela está muito aí. A telenovela é um circuito de circulação de sentidos, de interações, e o brasileiro tem essa literacia midiática de ler e entender como a novela está conversando com ele no dia a dia. Então a gente percebe que essa audiência hoje está fragmentada, e não existe mais a possibilidade de haver os mesmos pontos de audiência de 30 anos atrás. Temos hoje uma gama de conteúdos que pululam, mas mesmo assim a telenovela continua sendo uma ficção muito relevante. E isso não vai diminuir tão cedo”, conclui.

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Tags: Como a ficção televisiva moldou um paísDefensoria PúblicaLucas Martins NeianovelasReportagemTelenovelaVale Tudo

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