Há exatos 20 anos, a Record investia em um novo apresentador para o seu telejornal policial, o Cidade Alerta. Para a missão árdua, convocou-se um jornalista que tinha ampla experiência em cobertura esportiva. Com uma certa insegurança, José Luiz Datena assumiu o posto e conseguiu com que o programa virasse uma referência no gênero. Os anos passaram, Datena passou pela RedeTV!, Band, Record de novo e depois voltou à Band, onde permanece até hoje. Sempre fazendo o mesmo formato.
Não obstante, o jornalista sempre deixou claro na imprensa que já estava descontente em permanecer abordando o “mundo cão” na televisão. Mas nesse ano surgiu a oportunidade de Datena se lançar como um apresentador de entretenimento à frente de um programa de auditório de seis horas, o Agora É Com Datena. As pautas sangrentas davam lugar a um show de calouros, gincanas e outras atrações musicais no dia mais disputado da TV aberta brasileira: o domingo.
É justo afirmar que toda mudança (ainda mais em TV aberta) causa uma estranheza inicial. Se para ele, já seria difícil se desvencilhar de 20 anos como jornalista policial, continuar à frente de algumas edições do Brasil Urgente (o programa policial que mantém há 15 anos) e sendo substituído, vez ou outra, pelo próprio filho, Joel Datena, torna tudo mais ainda mais dificil.
A tarefa que já era árdua, fica ainda mais difícil de lidar quando se percebe que os filmes antigos e documentários da BBC davam mais audiência do que o dominical atual. Audiência, por sinal, foi o que mandou pra vala um dos (senão “o”) quadro mais interessante da atração: o formato “Raid The Cage” (traduzido como “A Fuga”), patrocinado por uma loja de imóveis, teve que sair do ar perante as derrotas sofridas até pela TV Gazeta. Desde então, o único momento interessante do programa foi obtido no jornalismo, com a cobertura da greve dos caminhoneiros.
Desde que Datena resolveu se arriscar e candidatar-se ao Senado (e se arrepender, e se arrepender de ter se arrependido), o domingo da Band, que já não estava bem das pernas, tornou-se um desastre.
Desde que Datena resolveu se arriscar e candidatar-se ao Senado (e se arrepender, e se arrepender de ter se arrependido), o domingo da Band, que já não estava bem das pernas, tornou-se um desastre: ironicamente, Netinho de Paula (que outrora já foi pauta de programas policiais) foi chamado pra substitui-lo junto com o filho Joel, que, para evitar uma óbvia propaganda política, teve que alterar o nome do programa para Agora é Domingo, assumindo de vez o viés jornalístico que o pai tanto rechaçava nessa nova fase. Enquanto isso, Netinho assumia o quadro “Caixa de Talentos”, que agora virara um programa à parte, o Brasil da Gente. O resultado? Agora as derrotas perpassam até canais UHF, como TV Aparecida, que apresenta atrações de orçamento infinitamente inferior. Não é para menos, afinal, apostar em matérias como proibição de canudos no dia mais quente da TV?
E é aí que mora o cerne do problema. É preciso um consenso do agora apresentador que ele pode até querer novos rumos para sua carreira, mas talvez não esteja apto para isso. O Agora é Com Datena (que agora é Agora é Domingo) é um jornalístico sem pautas quentes e o Brasil da Gente é uma competição de calouros sem nenhuma novidade em seu formato.
José Luiz Datena e Netinho são prova viva de que, simplesmente, não adianta colocar o nome mais poderoso do seu cast à frente de um programa, com um cenário espetaculoso e tudo que se tem direito se o planejamento de conteúdo fica em segundo plano. E já vimos, na história recente, programas serem cancelados por menos. E não se atentar pra essa questão, que parece tão óbvia, pode ser a pá de cal em uma já combalida programação. Essa é a hora de se atentar, do contrário, os dois dominicais vão referenciar outro programa extinto da Band muito em breve: Agora é Tarde.