Na semana passada, refletimos nesta coluna sobre a conversação gerada em torno do programa Big Brother Brasil 21 – o que é, no fim das contas, a razão pela qual a atração continua sendo um fenômeno, mesmo depois de tantos anos de existência. Aparentemente, ninguém consegue não falar de BBB21, e isto inclui a própria televisão.
Por isso, daria para dizer que quase todas as emissoras “surfam” na onda da conversação infinita sobre BBB, menos a própria Globo. E é isso que ela tenta resolver ao colocar no ar o Plantão BBB, um programa diário que vai ao ar depois do Jornal Hoje, às 15 horas, para falar sobre o reality show em questão. O timing talvez pareça ruim, uma vez que o Plantão BBB estreia na Globo a um mês do fim do programa. Dessa forma, pode ser encarado como um teste.
Plantão BBB parte de uma fórmula bem delimitada. Traz como apresentadora Ana Clara Lima, ex-participante do BBB 18, e que é uma das poucas egressas do programa a ser aproveitada com sucesso pela própria emissora. Ana Clara está à frente do programa de eliminação pós-paredão, nas terças-feiras, exibido no Multishow, e sua performance tem sido muito elogiada. Ela então se tornou uma etapa da via crúcis percorrida toda terça-feira – o brother ou sister eliminado concede entrevista a Ana Clara no programa de eliminação, e no dia seguinte, se coloca diante de Ana Maria Braga, no Mais Você. É a reta final da vida no BBB, com esses dois “sacrifícios”: responder sobre seus erros e repassar os constrangimentos nos dois programas que estendiam até então na Globo a participação no reality show.
A pergunta mais adequada a fazer seria: por que a Globo não consegue “fofocar” sobre a própria emissora?
O resto da estrutura do Plantão BBB, ao que parece, diz respeito a reproduzir as dinâmicas das lives que ocorrem em canais de internet que discutem o programa, tais como O Brasil Que Deu Certo, a WebTVBrasileira e o programa Chico Barney Urgente. O formato é muito parecido: convidados fixos e variáveis que são chamados para articular a conversa diária junto a Ana Clara, bem ao estilo “mesa redonda”.
Para completar, Plantão BBB aposta em colunistas vindos da internet, especialmente do humor, como Thamyris Borsan, Pequena Lo, Foquinha e Tia Má (a única exceção é Marcelo Adnet, contratado da própria Globo e atualmente responsável pelo impagável Sinta-se na casa). A partir disso, Plantão BBB faz basicamente o que todos os outros programas fazem: gera conversa e tenta rir do BBB 21. Então por que será que não tem muita graça?
Obviamente que essa análise toma em consideração um programa ainda em construção, e não nas melhores condições possíveis, uma vez que começa já no fim do BBB. Mas avaliemos então apenas o que vimos até aqui. Na minha leitura, a pergunta mais adequada a fazer seria: por que a Globo não consegue “fofocar” sobre a própria emissora?
A reformulação da questão, portanto, já nos sugere a própria resposta – tal como ocorria com o Vídeo Show, a Globo simplesmente não consegue se dar ao luxo de estabelecer maledicência em torno da própria programação. E esta é a chave para conseguir se divertir na conversa sobre o BBB.
Veja, por exemplo, o que consegue fazer o A tarde é sua, da Rede TV!, em que Sonia Abrão e seus colunistas discorrem o tempo todo não apenas sobre o reality show, mas sobre a própria Globo. Podem, inclusive, cobrar posturas do produtor Boninho de forma incisiva – coisa que, por razões óbvias, o Plantão BBB não consegue.
O outro fator que conspira contra o Plantão BBB, em minha acepção, diz respeito que o programa não consegue desenvolver algo que é fundamental nessa conversação, que é a formação de uma comunidade. Numa roda de fofoca, há um claro estabelecimento de vínculos entre os fofoqueiros e o público – que mantêm entre si uma relação de confiança, e mesmo de carinho. É por isso que os espectadores da WebTVBrasileira fazem “murrinho”, a “Nação Barneyra” reconhece todas as expressões de Chico Barney e os fãs do O Brasil Que Deu Certo se orgulham de defender a “cultura muito popular brasileira”. No caso do Plantão BBB, há mais uma barreira intransponível: não pega bem ser fã da Globo, mesmo que consumamos os produtos dela.
Por fim, uma provocação. Penso que essa estratégia de levar os nomes da internet para a TV aberta, algo que tem sido feito bastante, nem sempre é uma boa ideia. As comediantes vindas das redes muitas vezes trabalham em outros tipos de linguagem que não a televisiva, como as montagens feitas em Tik Tok. São engraçadas na internet, mas não são tanto na TV. O próprio BBB 21 tem um exemplo prático com Camilla de Lucas e Nego Di – que talvez sejam engraçados em suas plataformas originais, mas se destacaram por outras razões na emissão difusa da Globo.
Quer dizer que não há futuro a longo prazo para o Plantão BBB? Não creio nisso, mas acredito que a Globo terá que estudar melhor como aproveitar os talentos de Ana Clara Lima para falar diariamente sobre BBB. Por sorte, terão um ano inteiro para pensar nisso.