Noite de terça-feira. Enquanto parte dos brasileiros já está se planejando para descansar do dia que passou para ter energias para o próximo, o Twitter começa a ferver. Inúmeros usuários vão se aprontando sem seus tablets, smartphones e computadores para acompanhar um dos talent shows de maior sucesso da atualidade, especialmente quando a análise leva em consideração a rede social de microblogging. Já são três temporadas de enorme sucesso para MasterChef Brasil.
Enquanto isso, na Austrália, a versão local do programa de competição culinária também é um sucesso, ainda que não receba a mesma atenção do público e da mídia como ocorre no Brasil. Contudo, algumas diferenças saltam aos olhos quando comparamos outros aspectos de MasterChef Austrália e MasterChef Brasil, a começar pelos jurados. Enquanto na versão brasileira, Paola Carosella, Érick Jacquin e Henrique Fogaça são as verdadeiras estrelas da atração, na terra dos cangurus George Calombaris, Gary Mehigan e Matt Preston assumem uma postura muita mais comedida. E mais: não há uma versão australiana de Ana Paula Padrão. Assistir a alguns episódios do talent show australiano evidencia que a protagonista é a gastronomia.
Não é incomum assistir os três jurados semeando a dúvida nos participantes sobre as técnicas empregadas ou as receitas escolhidas. Pouco ou quase nada parece ser transmitido aos competidores.
Mas as diferenças não param por aí. Enquanto apenas na terceira temporada o MasterChef Brasil chegou a marca de 21 participantes, a versão australiana é, desde seu início, de 24, número a que chegam depois de 50 pessoas disputarem essas vagas durante uma semana de provas. Contudo, estas não são as diferenças mais significativas entre os dois programas criados por Franc Roddam, mas é provável que influenciem em muito as demais dessemelhanças.
MasterChef Austrália costuma se estender para além de 50 episódios, sendo mais de um exibido ao longo da semana durante cerca de três meses. E ao contrário da versão nacional, lá o público e competidores vivem uma verdadeira experiência de aprendizado gastronômico. Intercalado com os episódios de provas são exibidas as masterclasses, episódios em que todos largam facas e utensílios e utilizam apenas papel, caneta e muita observação. É como se fosse feita uma grande aula, onde não apenas os jurados mas também chefs convidados ministram aulas sobre técnicas e receitas. Não fosse suficiente, o vencedor da prova do episódio anterior juntamente com o melhor prato da prova de eliminação ganham uma aula exclusiva, apenas os dois e um chef.
Não é incomum assistir a cada terça-feira os três jurados de MasterChef Brasil semeando a dúvida nos participantes sobre as técnicas empregadas ou as receitas escolhidas. Pouco ou quase nada parece ser transmitido aos competidores. Curiosamente, quando isso ocorre, seja através de um chef convidado, ou nas vezes que Jackin, Fogaça ou Carosella arregaçam as mangas e passam algumas de suas receitas ou técnicas, o programa consegue nos oferecer ótimos momentos, como o crítico Maurício Stycer já apontou em sua coluna no portal UOL.
Ainda que o leitor possa pensar que se trata de uma diferença mínima e, quem sabe, irrelevante, é importante imaginar que o talent show deveria servir, ainda, como uma forma de aprimoramento dos participantes. Não obstante, percebe-se um olhar diferenciado para o telespectador. Enquanto a versão nacional nos enxerga como consumidores (dos produtos anunciados, dos memes, etc), MasterChef Austrália enxerga o programa também como responsável pela transmissão de conhecimento e de informação, visando, por exemplo, uma melhor alimentação. O público passa a ter contato, ainda que superficial, com dicas e lições fundamentais sobre nutrição e gastronomia.
É salutar como na atual temporada de MasterChef Brasil a produção se preocupou em fazer uma melhor leitura do perfil do cidadão brasileiro. A prova em que os participantes só podiam utilizar produtos da cesta básica foi o maior acerto até então do programa. Primeiro, por desmistificar que a alta gastronomia não poderia ser acessível a todos. Segundo, por trabalhar com produtos tipicamente nacionais, mostrando que sabor e boas ideias podem transformar as refeições cotidianas. Mas ainda estão distantes de mostrar a mínima preocupação com o que se come, especialmente em qualidade e saúde alimentar. E ao contrário do que o leitor possa imaginar, essa não é uma diferença mínima entre os programas.