Jenji Kohan, criadora de Orange Is the New Black, sabe que sua série precisa se reinventar de maneira cuidadosa. Ao mesmo tempo em que deve continuar humanizando ainda mais suas personagens, também necessita criar novas formas de narrativas para que estas histórias possam ser contadas sem repetir o que já foi feito.
Durante três anos, OITNB conseguiu transitar entre drama e comédia de maneira brilhante, alcançando seu ápice no quarto ano, quando mergulhou em narrativas mais densas para mostrar que, afinal, aquele presídio não era uma colônia de férias. Abraçando cada vez mais o feminismo e mostrando o empoderamento daquelas mulheres, o final da quarta temporada parecia ser o ponto de virada da série e seu próximo ano deveria ser ainda mais tenso. O que se viu, entretanto, foi um retrocesso perigoso para uma série que só vinha crescendo.
Toda a tensão foi deixada de lado para criar frases de efeito e piadas escrachadas que, quando funcionam, atestam a genialidade dos roteiristas, mas quando falham (e há muitas falhas), a série soa como uma sitcom de baixa qualidade e com personagens idiotas.
A temporada acerta ao desenvolver todos os seus episódios na rebelião do presídio, começando exatamente onde o quarto ano parou, quebrando a narrativa tradicional e criando uma continuidade interessante para uma série que já tinha uma estrutura muito bem traçada. Há menos flashbacks e mais vida na prisão, assim como uma maior liberdade para as detentas fazerem o que quiser dentro de Leitchfield. Afinal, os guardas estão sendo mantidos como reféns e o governo espera controlar a crise até que todos sejam soltos.
Essa dinâmica dá espaço para que os roteiristas abordem os inúmeros problemas da população carcerária norte-americana, a forma desumana como aquelas mulheres são tratadas e como os abusos dos guardas representam toda uma sociedade. O que acontece nas paredes do presídio, enfim, é basicamente o que acontece às mulheres de todo mundo.
Se antes o humor funcionava de forma equilibrada, na quinta temporada tudo soa artificial e irritante.
Tudo isso deveria ser abordado com muito mais profundidade, mas, infelizmente, se antes o humor funcionava de forma equilibrada, na quinta temporada tudo soa artificial e irritante. Todas as personagens assumem seu papel de forma maniqueísta. O que parecia ser um ponto de virada, na verdade vira qualquer outra temporada de Orange Is the New Black, só que bem mais fraca e lenta do que as outras.
Tirando uns três episódios realmente relevantes para a história, o que se vê é uma falta de foco e cuidado que chega a entediar. Os episódios são longos demais e tudo parece andar em círculos. Para cada evolução na narrativa, temos infinitas historinhas bobas, como um concurso de talentos apresentado pelos guardas ou epifanias que levam as personagens a cometerem os atos mais irracionais e burros que alguém poderia cometer.
![Quinta temporada foca na rebelião das detentas de Leitchfield](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/07/oitnb.png)
A lentidão parece ser uma tentativa dos roteiristas em mostrar a agonia das prisioneiras, a tensão de uma rebelião e o que acontece quando um mundo fica sem regras ou liderança (algo meio Ensaio Sobre a Cegueira, só que menos denso). Entretanto, a tensão da rebelião é esvaziada quando, depois de horas e horas de histórias mal contadas, a temporada não chega a lugar nenhum, sendo bem possível assistir a uma meia dúzia de episódios e pular para o final e o resultado seria praticamente o mesmo.
Leia também
» ‘Orange Is the New Black’: quarta temporada, duas opiniões
» Estamos sendo críticos à Netflix?
Até mesmo alguns flashbacks acabam sem conclusão e personagens somem por horas e ninguém se pergunta o motivo, para depois aparecerem como se nada tivesse acontecido. Alguns plots são realmente admiráveis, como toda a causa de Taystee (Danielle Brooks), que procura justiça para Poussey e acaba se tornando a protagonista da temporada ao falar sobre sororidade, posicionamento, resistência política e confronto com o sistema carcerário, com o racismo e com o machismo, assim como a comovente reação de Suzanne “Crazy Eyes” (Uzo Aduba) ao perder suas referências e sua rotina ou a luta de Red (Kate Mulgrew) para deter a fúria do grande vilão Piscatella (Brad William Henke), que de certa forma é humanizado.
Mas na maioria das vezes, a temporada é apenas irritante. Afinal, não casa bem falar sobre a negligência do sistema carcerário e focar nas detentas atrapalhadas aprontando todas ou no já insuportável romance entre Piper (Taylor Schilling) e Alex (Laura Prepon), sem comentar o desserviço absurdo ao insistir no romance de Doggett (Hellen Abell) e Coates (James McMenamin).
Não é que o enredo seja desinteressante, mas em 13 episódios de uma hora de duração, a repetição de situações vai deixando o público desconfortável, especialmente em uma leva de episódios feita para maratonar. Tudo é desenvolvido lentamente, não para que os personagens cresçam, mas para preencher tempo na tela.
![Taystee (no centro) é a grande protagonista da temporada](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/07/orange_is_the_new_black_netflix.jpg)
No final, a impressão é que quase nada aconteceu do final da temporada passada para a conclusão do quinto ano, ainda que após o sétimo episódio as coisas melhorem. Algumas tensões são colocadas aqui e ali, mas parece que os roteiristas queriam mesmo era criar um caos divertido para o público antes que a coisa fique séria de verdade (ou esperamos que fique).
Mesmo com um encerramento interessante e que segura bem o público para o sexto ano, a quinta temporada de Orange Is The New Black é fraca não necessariamente pelo o que apresentou, mas pelo que poderia ter apresentado
Assista ao trailer da quinta temporada de ‘Orange Is the New Black’
https://www.youtube.com/watch?v=NzJATbm8U98