O esperado programa novo de Fernanda Gentil – “sugada” de uma boa trajetória no jornalismo esportivo para migrar ao entretenimento, a exemplo de outros jornalistas da casa – finalmente estreou na Rede Globo na semana passada. Exibido após o Jornal Hoje, Se Joga é uma atração pensada pela emissora para concorrer diretamente com uma série de programas mais “toscos”, exibidos pelos outros canais no mesmo horário, bem como para substituir o vazio deixado pelo Vídeo Show, que desempenhava uma importante função na retroalimentação de um “universo Globo”.
A aposta foi colocar Fernanda ao lado de dois comediantes, Érico Brás e Fabiana Karla, para protagonizar um programa que é um misto de fofoca de televisão, de game show e de tentativa de continuidade com o humor vindo da internet. Conforme apontou Maurício Stycer em seu texto, tem menos intenção de surpreender do que de agradar – o que aqui pode ser entendido por capturar um público fugidio que escapa da TV aberta para as plataformas digitais.
Os elementos vindos da internet são vários: emojis tridimensionais que saltam na tela; brincadeiras com memes e repercussão dos últimos assuntos que bombaram nas redes sociais; a exibição de uma nuvem de tags com os assuntos mais comentados no Twitter. Nada de exatamente original e que não tenha sido visto em outras emissoras. A tentativa aqui, mais uma vez, é emprestar o “verniz” Globo para um tipo de atração barata e feita com mais naturalidade pelos programas com que o Se Joga concorre.
E funciona? Infelizmente, a julgar pela primeira semana, a expectativa é totalmente fracassada. A proposta inteira do programa, apesar da boa vontade expressa pelos protagonistas, tem algo de constrangedor – como se eles soubessem que o Se Joga não funciona tão bem quanto gostariam, mas mesmo assim continuam tentando. A alegria de Fernanda, Fabiana e Érico soa artificial a quase todo momento, como se nem eles estivessem convencidos de que os quadros que apresentam são de fato divertidos. A plateia é mixuruca: pouco numerosa e pouco empolgada, tornando a interação com os apresentadores pouquíssimo interessante.
Mas penso que o grande problema do Se Joga esteja em dois pontos. O primeiro, como já disse, é a tentativa de mimetizar uma linguagem vinda da internet, tentando estender a experiência online para a TV aberta. Muitos programas têm utilizado esse recurso, mas pouco sucedem (lembro, por exemplo, da competição entre vídeos da internet feito pelo Programa da Eliana). O caminho mais natural e funcional é o inverso: que a televisão repercuta em ambiente digital, gerando quadros memoráveis que se perpetuam pelo compartilhamento orgânico dos usuários. Para completar, a linguagem usada no Se Joga tem algo de datada – os emojis 3D fazem parecer que tem uma avó comandando a edição do programa.
Se Joga perpetua um hábito que talvez seja um dos grandes problemas gerenciais da Globo: formar estrelas e depois tentar alçá-las a outras funções nas quais talvez não caibam tão bem.
O segundo ponto diz respeito ao erro que também acometia o Vídeo Show: a tentativa de fazer uma “fofoca humanizada”, ideia que não faz qualquer sentido. Por isso, a Globo, no afã de preservar sua matéria-prima (as celebridades globais, que são o foco número um dos programas de fofoca de outras emissoras), acaba ficando de mãos atadas dentro desse tipo de programa. Não consegue, a exemplo do Fofocalizando, do SBT, e do A tarde é sua!, da RedeTV!, criar um covil de fofoqueiros divertidos e sem noção. Não podendo explorar a maledicência, a fofoca “do bem” soa paradoxal e sem graça.
A julgar pela semana de estreia, identifiquei apenas um momento em que se escapou do bom-mocismo global no comentário de fofocas: quando os apresentadores repercutiram o vídeo de Luana Piovani dizendo que era muito difícil ser cidadã no Brasil, Fernanda Gentil soltou um brevíssimo comentário insinuando que era bom que Luana permanecesse em Portugal, onde reside – gerando uma rápida troca de olhares entre Érico e Fabiana, como se perguntassem se podem soltar farpas sobre uma colega de classe.
Durou pouquíssimos segundos. Mas é essa espontaneidade a lacuna essencial do Se Joga, que, por fim, perpetua um hábito que talvez seja um dos grandes problemas gerenciais da Globo: formar estrelas e depois tentar alçá-las a outras funções nas quais talvez não caibam tão bem. É de se esperar para ver o que será da carreira de Fernanda Gentil no entretenimento e, mais do que isso, dos rumos que serão tomados pelo Se Joga.