Mindy Kaling (a eterna Kelly Kapoor de The Office) é um dos grandes nomes atuais da comédia. A prova disso é a divertida A vida sexual das universitárias, série criada por Kaling ao lado de Justin Noble (também autor de Brooklyn 99). Juntos, a dupla conseguiu trazer ao mundo um seriado leve que aborda um campo pouco explorado pela ficção: o humor de tom sexual protagonizado por mulheres.
Na série, acompanhamos a vida acadêmica de quatro amigas que acabaram de entrar na fictícia universidade de Essex, em Vermont. Elas estão querendo curtir a vida adoidado – as matérias da faculdade estão entre as ultimas preocupações que elas têm. Suas expectativas giram em torno das festas, das fraternidades e, claro, dos meninos (e meninas) que elas vão conseguir pegar.
É bem provável que você já viu esta história antes. Alguns falarão a franquia American Pie, e os mais velhos lembrarão dos filmes Porky’s. A inovação de Kaling e Noble, portanto, é colocar as mulheres como protagonistas da ação sexual, sem focar exatamente nos dramas ou nos problemas. E é por causa disso que A vida sexual das universitárias é uma atração à parte no catálogo de streaming.
Quatro amigas aproveitando a faculdade
Atualmente na segunda temporada (e já renovada para a terceira), A vida sexual das universitárias baseia sua trama em torno de um quarteto bem estruturado. O grupo se forma ao ter que dividir o mesmo dormitório e, depois de alguns percalços, elas acabam se tornando grandes amigas.
A vida sexual das universitárias é um entretenimento leve para quem quer apenas dar umas risadas sobre as peripécias sexuais femininas, sem descuidar da militância.
Os perfis são diferentes. Whitney (Alyah Chanelle Scott), uma jovem negra, é uma atleta de destaque e filha de uma prestigiada senadora (há aqui uma marca importante na obra de Mindy Kaling: a personagem com destaque social em relação às demais é negra). Bela (Amrit Kaur), que é descendente de indianos, e seu sonho é se desenvolver na comédia para se tornar roteirista do Saturday Night Live.
Completam o quarteto a patricinha Leighton (Reneé Rapp), uma loira arrogante que esconde da família que é gay, e a interiorana Kimberly (Pauline Chalamet – que é, sim, irmã de Timothée Chalamet), que rala para conseguir pagar a faculdade.
Os episódios duram meia hora e giram em torno dos conflitos específicos de cada uma, como a vontade de se destacar para além do sucesso dos pais, a dificuldade em assumir a homossexualidade e o perrengue para se dar bem nos estudos em meio a tantas festas. Mas a parte mais cômica se dá justamente nos problemas sexuais que as envolvem, como quando contraem ISTs ou acham um novo alvo para atacar.
‘A vida sexual das universitárias’: segunda temporada
Na primeira temporada, Mindy Kaling e Justin Noble nos apresentaram o cenário e ambientaram o clima de Essex, bem como o plot de cada uma das quatro estudantes. Uma riqueza da série, inclusive, é que as personagens erram o tempo todo, mas não são absolvidas. Um exemplo é quando Kimberly cola nas provas por não ter conseguido estudar e acaba perdendo sua bolsa de estudos.
A segunda temporada, de 2022, retomou exatamente no fim da primeira, e continuou desdobrando o contexto das amigas, sem grandes reviravoltas. Contudo, pode-se dizer que o roteiro se sofisticou e adquiriu novas nuances. Leighton agora conseguiu se assumir para as amigas e até para o pai. Sua história, portanto, passa a girar em torno de suas desventuras sexuais em busca de uma mulher que realmente a interesse (e ela consegue, mas as coisas, obviamente, não são fáceis).
Bela traz um arco interessantíssimo em torno do equilíbrio entre as relações amorosas e a própria ambição. Ela começa a namorar Eric (Mekki Leeper), editor chefe do Catullan, o mais prestigiado grupo de humor de Essex. Bela almeja se tornar um grande nome da comédia e, nesta segunda temporada, ela é testada sobre até onde é capaz de ir para buscar seu sonho.
Mas penso que o maior ganho da segunda temporada é a inclusão de uma discussão racial envolvendo Whitney, que aparece de forma inteligente e aprofundada em alguns episódios. Whitney está cursando uma disciplina difícil de biologia, e é confundida pelo aluno monitor com outra aluna negra.
Ao ser confrontado, o monitor chora e faz um grande drama sobre o medo de ser interpretado como racista, fazendo com que Whitney tenha que o consolar – e explicitando, de forma muito oportuna, a sua impaciência por ter que confortar o branco que teme ser acusado de discriminação, em uma “reversão” da ofensa.
Didática e engraçada na mesma medida, A vida sexual das universitárias é um entretenimento leve para quem quer apenas dar umas risadas sobre as peripécias sexuais femininas, sem descuidar da militância.
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