O ator Leandro Hassum é um comediante com carreira consolidada e sucessos de bilheteria em sua trajetória, por mais que haja quem torça o nariz para o tipo de humor feito pelo carioca. Sua mais recente empreitada foi a série de comédia B.O., original Netflix.
Na produção, Hassum é o delegado Suzano, policial que acaba de receber uma promoção para assumir a 8ª DP na capital fluminense, vindo diretamente do interior. Há, no entanto, um enorme problema: o personagem de Hassum é extremamente medroso e atrapalhado, denotando pouco talento para combater o crime em uma das maiores cidades do país.
B.O. sofreu inúmeras críticas do público desde seu anúncio pela gigante do streaming, que acusou a série de ser uma cópia descarada de Brooklyn Nine-Nine. A reclamação não é de todo equivocada, já que o seriado realmente abusa das semelhanças com a comédia da NBC, mais na composição dos personagens do que na qualidade do humor ou na execução da trama.
O próprio Leandro Hassum deu uma entrevista na qual não defendeu a originalidade de seu programa. Nas palavras do comediante, “as piadas se esbarram porque partem de um senso comum”. Equivocado? Um tanto. Mas a “cópia” não é o real problema de B.O., até porque há um esforço genuíno em entregar humor à brasileira, algo valoroso se imaginarmos que não somos um país acostumado a produzir sitcoms. Hassum e equipe também são capazes de fazer humor mais direto, que dialoga facilmente com vasta camada da população.
Hassum é refém do estereótipo que criou para si, como um Didi Mocó da Ilha do Governador.
O grande dilema do humorístico da Netflix é o comediante fazer mais um papel de si mesmo. Hassum é refém do estereótipo que criou para si, como um Didi Mocó da Ilha do Governador. Assisti-lo uma vez é suficiente para captar seu modus operandi, replicado em todos os papeis que interpretou desde que estourou para o Brasil na década que ficou no elenco de Zorra Total. O comediante parece repetir os personagens, título após título, quando não reciclando piadas, repetindo expressões. Suzano, João, Juca, Tino e Jorginho são mais do que autações parecidas de um mesmo ator, são fotocópias de um único personagem, uma receita requentada anualmente por Hassum.
Tão certo quanto a chegada do verão todos os anos é a estreia de um personagem interpretado pelo comediante semelhante a tudo que ele já fez e, desta vez, mais do que em outras mas não uma exclusividade, igual a algo que o público já assistiu feito por outras pessoas.
Leandro Hassum é muito talentoso em fazer dinheiro, o que seus projetos já mostraram. O que os números analisados friamente escondem é o custo desse sucesso, construído muito em cima de piadas rasas, estereotipadas e, quando não, preconceituosas. Ou seja, o sucesso do humor do artista talvez diga mais sobre a audiência brasileira do que sobre seu talento para a comédia. E, neste caso, sobre as escolhas da Netflix.
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