Embora tenha assistido vários animes ao longo da minha vida, é curioso como, por algum motivo, nunca cheguei a realmente acompanhar aquele que é considerado o rei deles, Dragon Ball (tanto a série clássica, quanto sua continuação, Dragon Ball Z). Assistia aqui e ali, mas era isso. Foi apenas recentemente que, sabendo que mais cedo ou mais tarde teria que fazer isso, resolvi enfim sentar e assistir o anime, começando, obviamente, pelo começo – ou seja, pela primeira série, intitulada apenas Dragon Ball.
E foi isso que fiz. Assisti todos os 153 episódios. Ainda não comecei com Dragon Ball Z, porque neste caso estamos falando de outros 300 episódios, e o papai aqui tem coisas pra fazer. Mas considerando apenas Dragon Ball, o que tenho a dizer?
Podem dizer o que quiser sobre a série, mas é impossível dizer que é entediante.
Adaptando mais ou menos o primeiro terço do imensamente popular manga de Akira Toriyama, a série gira em torno do que viria a se tornar um dos personagens mais famosos da cultura japonesa: Son Goku, o garoto de coração puro, absurda habilidade para as artes marciais, corpo quase indestrutível… E que possui uma cauda. Qualquer explicação para isso é dada apenas em Dragon Ball Z, então, por enquanto, aceite apenas que ele possui uma cauda, da mesma forma como quase tudo o mais do universo desta série, uma misturaiada de elementos mitológicos e de ficção científica onde dinossauros falantes coabitam com uma tecnologia capaz de comprimir casas inteiras em cápsulas portáteis, um dos vilões recorrentes é um homenzinho azul acompanhado de uma humana e um cachorro ninja, e literalmente tudo em que os homens conseguem pensar é em artes marciais e/ou calcinhas femininas (mais sobre isso daqui a pouco). E isso é só uma pequena fração de todas as bizarrices que a série tem a oferecer!
A história acompanha Goku ao longo de vários anos, em diversas aventuras que sempre acabam envolvendo as Esferas do Dragão, sete bolas de cristal mágicas que, quando reunidas, invocam o dragão Shen Long, capaz de realizar qualquer desejo que lhe for feito. E com diversas, quero dizer realmente diversas, podendo incluir um coelho capaz de transformar pessoas em cenouras apenas tocando-as, uma mulher que muda de humor toda vez que espirra (literalmente), um gato ermitão que vive no alto de uma torre e é mestre em artes marciais, e até mesmo um crossover com outro manga de sucesso de Toriyama, Dr. Slump. Se não por mais nada, tenho que dar créditos a Dragon Ball pela criatividade, pois eu não conseguiria inventar metade disso mesmo que me esforçasse.
Felizmente, a criatividade não é o único mérito da série, pois ela se empenha ao máximo para ser o mais envolvente possível. E é isso que consegue: os primeiros episódios talvez sejam um pouco devagar comparados ao restante da série, mas uma vez que ela engata, é difícil larga-la. A história é simples e bem-humorada, os personagens são comicamente bem-desenvolvidos e irresistíveis (sejam heróis ou vilões), as lutas são bem elaboradas, e a animação, mesmo não tendo a melhor qualidade de traço (longe disso), possui um estilo bastante característico, e é cheia de detalhes de fundo que apenas adicionam ao surrealismo geral dos episódios.
Mas não podemos esquecer-nos de um dos detalhes mais infames da série, que é o fato de seu humor (pelo menos na versão sem cortes) muitas vezes atingir níveis um tanto… Polêmicos. E ela nem espera muito para isso: logo no segundo episódio temos Goku, que viveu a vida toda em quase total isolamento, descobrindo de forma… “empírica” que homens e mulheres são diferentes. E, portanto, ele passa os episódios seguintes apalpando a virilha de toda pessoa que encontra para ver se é homem ou mulher (aliás, espero que você ache apalpadas hilárias, porque Dragon Ball definitivamente acha).
Muitas dessas cenas foram cortadas em alguns dos vários canais nos quais a série já foi exibida aqui no Brasil, enquanto outros a exibiram na íntegra. E honestamente, acredito que julgar se Dragon Ball é apropriado ou não para crianças pode levar uma eternidade, ainda mais considerando que boa parte de seu humor, mesmo em seus momentos mais supostamente adultos, é realizado de forma bastante juvenil. Portanto, creio que fica a critério de cada um. Não sei. Talvez um dia eu escreva mais a respeito disso, mas por hora preciso fazer minhas considerações finais sobre a série.
Independente do que quer que seja, não é difícil perceber o que fez de Dragon Ball um dos animes de maior sucesso de sua época: é fascinantemente divertido. Podem dizer o que quiser sobre a série, que ela é inapropriada, que é violenta, o que for; mas é impossível dizer que é entediante. Em 153 episódios, em todos eles teve pelo menos uma cena, um momentinho que me fez rir. E este é abertamente o objetivo deste anime: Ser um escapismo divertido e ingênuo.
Ainda tenho Dragon Ball Z para assistir (e tudo o mais que o seguiu). Alguns afirmam que é melhor que a primeira série, outros que é o contrário. Mas pelo menos Dragon Ball já me conquistou, e por enquanto isso é o que importa.