Embora eu não seja o historiador na minha família, confesso que me considero um entusiasta da história. Sendo assim, houve uma época em que eu assistia muito ao canal History. Deixei de assisti-lo quando eles deixaram de exibir documentários sobre história e passaram a se focar em reality shows e pseudodocumentários sensacionalistas, mas alguns programas ficaram gravados na minha memória – inclusive programas que não cheguei a assistir.
Um destes programas foi a minissérie Gigantes da Indústria. Lembro-me de ter visto bastante propaganda em cima dela lá por 2012 e de ter ficado interessado em assisti-la, mas por algum motivo acabei não o fazendo. Talvez porque na época já estava percebendo que existiam canais melhores para assistir a séries sobre história. Mas agora, finalmente, decidi dar-lhe uma chance de me impressionar.
Misturando pesquisa histórica, comentários de entrevistados e encenações dramáticas com atores, a série propõe-se a fazer uma biografia dos cinco homens (Cornelius Vanderbilt, John D. Rockefeller, Andrew Carnegie, J.P. Morgan e Henry Ford) que, através de seu espírito empreendedor, construíram ao longo de um período de menos de cinquenta anos as bases para que os EUA dominassem a economia mundial no século XX.
Gostei também de como é possível ter uma noção da influência que eles ainda hoje têm em nossas vidas e em nossa economia – embora seja recomendado fazer leituras paralelas.
Uma coisa pode-se dizer sobre Gigantes da Indústria: não dá para parar de assistir à série até terminá-la. Não espere uma série chata, a abordagem aqui em nada se assemelha ao que é considerado típico para séries desse tipo. A produção levou em conta que não bastava trazer à vida o período e as explorações dos empresários retratados. Era preciso mostrar isso tudo de um jeito empolgante, torna-lo envolvente, interessante, mas sem exageros, de uma forma que não seria possível apenas lendo a respeito. E nisso eles sem dúvida foram bem-sucedidos, contratando bons atores (incluindo Campbell Scott para a narração no áudio original), contando com uma edição dinâmica que consegue superar as limitações de um documentário televisivo, e tendo uma trilha sonora que é um prato cheio para fãs de Two Steps From Hell, contando com diversos dos maiores sucessos da companhia musical – e isso sem falar em uma empolgante abertura heavy metal por parte de Blues Saraceno.
Porém, como toda série, é possível fazer objeções. Primeiro, embora no geral a série seja historicamente precisa, há alguns pequenos erros aqui e ali. Um trem de um modelo mais moderno do que os que eram usados na época, um evento que foi situado na cidade errada, coisas assim que uma revisão a mais por parte de um historiador teria resolvido. A série é também meio estranha de ser maratonada online, uma vez que ela foi feita contando com pausas comerciais, o que resulta em diversas repetições na narração. E há também o fato de que toda vez que algum dos protagonistas faz alguma jogada arriscada, a série sente a necessidade de criar uma tensão… Mesmo que quem for assistir à série provavelmente já saiba de antemão que todos eles no final se tornaram multimilionários.
Falando em multimilionários, é preciso falar que a maioria dos entrevistados na série não é de historiadores, mas sim empresários modernos (inclusive um que mais tarde se tornaria presidente), que em seus depoimentos dão opiniões de um ponto de vista empreendedor. E aí temos o principal problema da série: não apenas ela em nenhum momento tenta desconstruir ideias convencionais ou desafiar conceitos tomados como certos em relação ao tema abordado, como também com a maior naturalidade coloca seus protagonistas (apelidados na época de “barões ladrões”) como sendo grandes homens mais ou menos bons cujo principal pecado foi a ganância deles – e mesmo esta é mostrada como tendo resultados benéficos a longo prazo. O que é uma pena, pois assim o grosso da série se torna basicamente uma corrida para ver quem consegue ganhar mais dinheiro, enquanto a narração tenta nos convencer de que não se tratava apenas disso, sem que sua narrativa consiga nos convencer do mesmo.
Ainda assim, confesso que gostei de assistir Gigantes da Indústria, e não apenas como entretenimento. Em primeiro lugar, para quem não está familiarizado com a história do empreendedorismo e da revolução industrial americana, é possível aprender bastante coisa sobre alguns nomes que continuam a serem citados nos dias atuais, mas que não necessariamente todo mundo sabe o porquê.
E além disso, ao final, gostei também de como é possível ter uma noção do legado de Vanderbilt, Rockefeller, Carnegie, Morgan e Ford, da influência que eles ainda hoje têm em nossas vidas e em nossa economia – embora seja recomendado fazer leituras paralelas para conhecer outras formas de ver esse período histórico e outras imagens dos heróis da série.