Se você ainda não sabe, o Facebook também produz séries. Sim, o Facebook mesmo. Trata-se do Facebook Watch, plataforma da rede social que desde o ano passado apresenta conteúdos originais. O serviço já produziu Red Table Talk (talk show apresentado por Jada Pinkett e Willow Smith) e Sacred Lies (inspirado no livro As Mentiras Sagradas de Minnow Bly, de Stephanie Oakes).
Qualquer usuário do Facebook pode ter acesso aos episódios gratuitamente, basta entrar nas páginas das respectivas séries. Dito isso, provavelmente você não viu ou não sabe de muita gente que viu Sorry for Your Loss, que estreou em setembro deste ano com dez episódios de menos de meia hora. Uma pena, já que a série é uma grata surpresa e, por que não, uma das melhores do ano.
Na trama, nós conhecemos a jovem Leigh (Elizabeth Olsen), que acaba de perder seu marido Matt (Mamoudou Athie), um também jovem professor de Literatura. Simples assim. Durante os dez episódios, nós acompanhamos a luta de Leigh para continuar vivendo, mesmo sentindo tristeza 24 horas por dia e tendo que ser responsável pelo o que os outros vão sentir perto dela, já que ela não anda sendo uma companhia muito agradável. Ninguém quer falar sobre a morte.
Acompanhada de sua mãe Amy (Janet McTeer, de Ozark) e de sua irmã Jules (Kelly Marie Tran), Leigh conta com uma base feminina sólida da família e de um grupo de apoio ao luto, mas é na sua luta interior que a série emociona. É difícil falar sobre a morte sem cair do melodrama ou pender para o humor negro, mas Sorry For Your Loss equilibra o peso tratando o assunto de maneira crua. Sim, há acessos de choro e rompantes de desespero, mas acima de tudo há uma tristeza constante, modorrenta, um olhar sem esperança, assim como sorrisos que parecem que não deveriam estar ali, tudo muito parecido com a vida de um enlutado.
Há acessos de choro e rompantes de desespero, mas acima de tudo há uma tristeza constante, modorrenta.
Elizabeth Olsen brilha em todos os momentos e dá complexidade a uma personagem que precisa carregar não somente a perda, mas as insustentáveis perguntas que nunca terão respostas. Aos poucos, Leigh vai descobrindo que Matt tinha alguns segredos sombrios que ela não tinha percebido. Não é nada chocante. São apenas alguns fatos da vida que ela, mesmo vendo o marido todos os dias, não conseguia notar ou saber, como a senha do celular dele, por exemplo. Seria fácil para os roteiristas montarem uma personagens sofrida passando por todas as fases do luto (e elas estão lá), mas, por vezes, Leigh se mostra cheia de falhas, um tanto egoísta, irritante e que durante o casamento tinha algumas atitudes esquisitas. Novamente, nada chocante ou absurdo, apenas a vida real.
Há algumas escolhas tocantes na montagem da série. Repleta de flashbacks, as memórias de Leigh são postas em momentos não muito óbvios e os cortes são secos, quase como se estivéssemos seguindo o fluxo de pensamento da protagonista. As lembranças vêm em momento comuns e há alguns gatilhos típicos de quem está sofrendo a melancolia do luto, como evitar entrar em lugares que, se antes não significavam muita coisa, agora trazem dor pelo repertório da lembrança. Ao mesmo tempo, a protagonista nunca aparece extremamente deprimida ou paralisada. A vida continua acontecendo e é louvável como Olsen consegue entregar algumas pitadas de humor e otimismo mesmo que na mais profunda agonia.
Não há nenhuma grande reviravolta, segredos ou revelação que faça tudo mudar e Sorry for Your Loss acerta justamente por mostrar a morte como ela é: inexplicável, dolorosa, lenta, raivosa, sombria, amedrontadora. Por fim, Sorry for Your Loss diz que o luto é uma batalha, e que depois de passar por algo tão traumático, a vida revela que o luto não termina de uma hora para outra e que os pequeninos bons momentos do dia a dia são as grandes vitórias. Isso basta por enquanto.
P.S.: A plataforma do Facebook ainda apresenta algumas coisas irritantes. Nos episódios 7 e 8, as legendas em português não apareciam (nem qualquer outra legenda de nenhum idioma) e há diversos anúncios que funcionam como comerciais, o que é bastante frustrante.