Já faz tempo que criatividade não é uma característica da TV aberta brasileira. A febre de remakes de novelas, como Pantanal e uma possível nova versão de O Rei do Gado, é apenas um sintoma de algo mais amplo: a sensação de que talvez já tenhamos chegado ao limite do que é possível bolar de realmente novo para a telinha.
No domingo, a TV Globo estreou uma nova atração de suas tardes. Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua pretende ser um programinha leve e familiar para aquecer para a grade mais nobre veiculada neste dia, como o Domingão com Huck e o muito repercutido Fantástico. Trata-se de um reality show que surfa numa onda já muito explorada: os programas de culinária. Por isso, talvez a principal atração do programa é que ele traz a estreia de Paola Carosella – chef de cozinha que ficou muito conhecida como jurada de MasterChef Brasil – na Globo.
Mas quem for assistir ao programa por causa de Paola vai se decepcionar, já que ela tem um papel pequeno na atração. Paola apenas comenta os pratos, tendo a companhia do chef João Diamante. O lance de Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua é proporcionar uma competição de cozinha entre duplas de celebridades ao lado de suas mães. Um famoso tem que preparar um prato e tem ao seu lado a sua mãe, que não pode colocar a mão da massa e tem algumas poucas chances de interferir no preparo do filho ou filha.
Mas é certo que um programa, quando obtido por uma emissora, pode se transmutar de uma maneira nova na cultura em que instala.
Ou seja: a ideia é que o programa proporcione momentos de constrangimento familiar em que se possa ver a intimidade típica de mãe e filho – com, é claro, o rebento reclamando e a mãe se irritando. A premissa, portanto, é muito próxima do quadro “Minha Mulher que Manda”, do programa Eliana, do SBT. Nele, um casal de subcelebridades é separado a mulher fica dando instruções à distância para que o marido cozinhe.
Obviamente, sempre dá tudo errado – o que não aconteceu no primeiro episódio de Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua. O show é apresentado pelo comediante Leandro Hassum, o que leva a imaginar que há um foco também na graça. Mas Hassum também não diverte.
Com uma parte em que os participantes sofrem uma sacanagem (no primeiro episódio, os competidores, o cantor Mumu e a atriz Mayana Neiva, tiveram que usar luvas de borracha para cozinhar), Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua também empresta elementos de Mestres da Sabotagem.
Com pouca originalidade, a Globo poderia ter escolhido uma estreia melhor para Paola Carosella. Como muitos internautas disseram, parece que estão nos oferecendo comida requentada.
‘The Masked Singer Brasil’: o retorno da TV do exagero no domingo

Na sequência de Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua, a Globo leva ao ar The Masked Singer Brasil, competição musical com celebridades fantasiadas, que devem “duelar” cantando e só têm sua identidade revelada quando são eliminados. Assim como reality culinário, trata-se de um formato comprado e traduzido para o Brasil.
Mas é certo que um programa, quando obtido por uma emissora, pode se transmutar de uma maneira nova na cultura em que instala – vide, por exemplo, o caso de Big Brother Brasil e MasterChef Brasil. Ainda que o sucesso de The Masked Singer Brasil não se compare ao que ocorre em outros países, não se pode dizer que o programa não tenha adquirido cores brazucas por aqui.
A começar, claro, pelo tom carnavalesco da atração, que se explicita nas fantasias grandiosas e muito elaboradas (como uma de filtro de barro em que sai água, ou uma roupa no formato de circo), nas produções feitas durante as apresentações, mas, sobretudo, no foco dado ao corpo de jurados.

Composta por Tais Araújo, Eduardo Sterbiltch, e os estreantes Mateus Solano e Sabrina Sato, a banca de jurados é a atração principal do programa – até porque os participantes só cantam e não podem interagir muito para não revelar suas vozes. Mas, para além das intervenções, os jurados parecem trazer ao The Masked Singer bastante consistência e até seriedade nas suas participações.
Não me refiro ao que eles falam, mas ao modo com que se apresentam. Eles chegam ao palco montados, como se estivessem em um baile de Carnaval. Quase sempre estão lindamente maquiados e performam de uma maneira divertida e exagerada que faz lembrar os jurados de antigamente. Milhares de espectadores guardam na memória os palcos dos programas de Silvio Santos e Chacrinha, em que brilhavam pessoas como Elke Maravilha, Pedro de Lara, Sergio Mallandro, Sonia Lima e Aracy de Almeida.
Por tudo isso, penso que a grande graça de The Masked Singer Brasil tem menos a ver com a música e a competição, mas sim com o entretenimento over típico dos shows de calouros – que, mesmo sem terem surgido aqui, tornaram-se um dos formatos mais bem explorados por nós. A cara da TV brasileira que gostamos.
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