Sem noção. Quem não conhece alguém que, por impulso ou prazer, diz e faz o que lhe vem à cabeça. “Sou autêntico!” torna-se quase um mantra de autoengano, para aquele sujeito que vai queimando pontes, espalhando pregos verbais e escorregando na própria incapacidade de olhar ao redor, e perceber o impacto que seus atos e palavras podem ter.
Não me entendam mal. Não advogo aqui em nome da hipocrisia. Defendo a coerência, a fidelidade que devemos buscar, manter, com nossa essência. Mas a falta de noção, esse comportamento (auto)destrutivo que parece desconsiderar o fato de que também vivemos em relação a quem nos cerca, me assusta, e também intriga. O outro, sim, importa, mas o “sem-noção” insiste em ignorar.
Tenho a sensação, embora não me baseie em nenhuma evidência comportamental científica, que todos aqueles que agem por impulso, tropeçando nas próprias atitudes, têm uma enorme dificuldade de ouvir. A escuta, aprendi em quase um quarto de século como jornalista, é uma estratégia essencial para compreender o mundo, e com ele se encantar. Para aprender a contar histórias, saber ouvi-las é essencial. E também não deixa de ser uma forma de nunca estar completamente só, porque essas narrativas seguem conosco, fazem companhia, bem mais do que as nossas, que tendem a nos sufocar.
Tenho a sensação, embora não me baseie em nenhuma evidência comportamental científica, que todos aqueles que agem por impulso, tropeçando nas próprias atitudes e palavras, têm uma enorme dificuldade de ouvir.
O “sem-noção” não costuma ouvir, talvez por conta de uma ansiedade infinita, que cria uma espécie de barreira, muitas vezes invisível, entre ele e o mundo. E o afoga na própria necessidade de ter o que dizer, de guardar na manga uma frase de efeito, um comentário perspicaz e inteligente, que reafirme sua existência, o faça ser notado, à revelia do que esteja em seu entorno. E daí ele fala, discursa, dá texto, sem perceber que não está conversando. Sua vida, de certa forma, se torna um longo monólogo. E ele acaba vivendo às cotoveladas, abrindo espaço para toda a imensidão de seu ser, que vai ficando cada vez mais só. Vão lhe restando somente os ecos de sua voz.