Se eu solicitasse aos leitores que fizessem um esforço em dizer um músico ou grupo paraguaio contemporâneo, provavelmente a maioria não seria capaz de dizer sequer um. Ainda carregamos certas limitações quando o assunto é lançar olhos sobre a cultura que ultrapassa nossas fronteiras. Em geral, ou conhecemos o que ganha projeção mundial ou o que produzem os vizinhos mais representativos, Argentina e Uruguai.
Causa grande estranheza quando pensamos que o Paraguai é um país de extensa fronteira com o Brasil e com quem, lá no fundo sabemos, dividimos inúmeras características, não apenas culturais.
A “Radar” de hoje foi até Assunção, capital paraguaia, para conhecer a BritRanchera, grupo formado em 2011 e que se orgulha de fusionar vários estilos, especialmente o que o rock mundial produziu nos últimos trinta anos, do britpop ao indie, ainda flertando com elementos do folk e do punk.
Formada por Mauricio Rodas, Julio Troche, Ricardo Oliveira e Fernando Peyrat, gravaram um disco lançado em 2014, o homônimo BritRanchera. Entre as características marcantes na sonoridade do grupo, está o arrojado uso das guitarras de Troche e Rodas, que administram bem a dupla, imprimindo riffs rápidos e dançantes, trazendo a agitação do indie com uma pitada bem latina.
A música feita na América Latina creio que se mantém em um fluido diálogo com o que se faz no restante do mundo. As influências são as mesmas.
“A BritRanchera é um princípio estético de canções para se entusiasmar, com toques de toda música que consumimos estes anos”, afima o guitarrista Mauricio Rodas. “Há coisas de The Beatles, assim como você encontra muito de Los Tres, Café Tacuba, Artic Monkeys e gypsy punk”.
Essa aposta da banda em melodias e ritmos que, num olhar mais raso, admitem certo choque, agrega certa carga de universalidade à banda. “Fazer música nesta parte do planeta, pessoalmente, é mais quente”, apontou Mauricio em nosso papo. “A música feita na América Latina creio que se mantém em um fluido diálogo com o que se faz no restante do mundo. As influências são as mesmas”, completou.
BritRanchera é composto por 14 faixas. Entre elas, destaque para “Neptuno”, “Loca” e “Ranchera Party”, certamente as que mais representam a sonoridade do grupo. De maneira bem pessoal, chamou-me a atenção a faixa “Espunkgklish”, a mais diferente de todo o disco, seja pela mistura de inglês e espanhol, seja pela mescla de ska e punk arrematada por um riff glorioso e um bridge harmônico quase orquestral.
Aos que se recordam da fase pré-mainstream dos cariocas do Los Hermanos, em que a presença de linhas de baixo mais groovadas era frequente – além do ska e do hardcore predominarem, ao invés do indie e da bossa nova -, toda a obra os traz à lembrança.
Mauricio faz questão de deixar claro que, apesar da cena musical paraguaia ainda ser pequena, está em crescimento. “No Paraguai, agora mesmo está sendo gerada uma cena interessante, que cresce de forma um pouco impulsiva, mas com muita qualidade”.
Antes de encerrar nosso papo, pergunto a ele sobre o futuro da banda. “Atualmente, estamos começando a ensaiar e compor novas músicas, que estão sendo geridas aos poucos. Queremos fazer outro disco diferente, e o processo está em caminho”. Dicas do que os leitores devem ouvir de música paraguaia, para que na próxima vez que eu pergunte eles saibam me dizer ao menos uma? “Bandas como Mauricio & Las Cigarras, Kita Pena e Kchiporro”. Está dada a dica.
NO RADAR | BritRanchera
Onde: Assunção, Paraguai.
Quando: 2011
Contatos: Facebook | Twitter | Soundcloud | YouTube