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Home Literatura

A literatura como analgésico

Os textos combativos dão lugar aos livros pálidos e confortáveis, feitos para serem lidos na sorveteria. Afinal, existe conforto na literatura?

porJonatan Silva
23 de setembro de 2016
em Literatura
A A
literatura

O polêmico Georges Bataille. Foto: Reprodução.

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Não existe paraíso e conforto na literatura. Qualquer livro que cause qualquer uma dessas duas sensações não é literatura, é autoajuda. Pode até existir a sensação de identificação, mas jamais conforto. “Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para que lê-lo?”, nos diria Kafka no começo do século passado. O autor checo tinha – e ainda tem – razão: viveu e morreu como um grande provocador, colocando em xeque sua relação com as mulheres e com a sua própria família.

É um grande engano imaginar a literatura como um alento, algo que cause a sensação do sândalo a perfumar nossos dias. Talvez o mesmo valha para o cinema e, quem sabe, até para o jornalismo – já que o que realmente é buscado por leitores são tragédias, fracassos, separações e desgraças de todos as dimensões e espécies. O escritor e pensador francês Georges Bataille, autor do polêmico História do Olho, esmiúça o mal e as perversões na literatura em A Literatura e o Mal, publicado recentemente pela Autêntica.

Para Bataille, assim como para Freud, a vida humana é uma grandiosa comédia de erros, ao menos, em potencial e, de certa maneira, a literatura reflete essa condição. Em A Pianista, Elfriede Jelinek apresenta ao leitor uma coleção de pequenas “anomalias” que desembocam em uma profunda confusão existencial. Gonçalo M. Tavares, um típico provocador contemporâneo, explora o caráter mecânico do homem em sua tetralogia “O Reino” e essência animal e primitiva que carregamos em Animalescos. São sempre personagens dominados pela espera e pelo tédio.

É um grande engano imaginar a literatura como um alento, algo que cause a sensação do sândalo a perfumar nossos dias. Talvez o mesmo valha para o cinema e, quem sabe, até para o jornalismo.

“Vejo a espera e o tédio como elementos essenciais da vida moderna, mas também da antiga. O tédio é uma energia potencialmente terrível mas também potencialmente extraordinária. Daí nascem a violência, a agressividade, mas também a criação, a invenção, o encontrar de algo que ainda não existia. O tédio e a espera são tempos sem atividades urgentes, diretas. E portanto há ali um espaço em branco que pode ser preenchido, que tem de ser preenchido se não quisermos enlouquecer”, disse o autor português em entrevista ao jornal Rascunho.

Jardim de Cimento e Reparação, de Ian McEwan, são dois exemplos distintos da perversidade. No primeiro, quatro órfãos enterram a mãe no porão de casa, enquanto no best-seller do inglês uma mentira dita por uma criança muda o destino de toda uma família. Até certo ponto, Philip Roth fez o mesmo com O Complexo de Portnoy escancarando aquilo que a comunidade judia não queria que viesse à tona ou expondo em Patrimônio a decrepitude do pai moribundo.

A literatura está sempre entre nós, pronta a retratar a perversidade, os devaneios, nos trazer desconforto e náusea. É preciso, como disse Cortázar, nocautear o leitor, levá-lo à lona. É impossível viver com uma literatura conformada e conformista, às claras. O que nos diria Robert Walser se viesse aos nossos dias e presenciasse a pobre literatura de youtubers que aflora nas livrarias ou a pobreza da literatura que nada tem a dizer?

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Tags: EnsaioFranz KafkaGeorges BatailleGonçalo M. TavaresIan McEwanJulio CortázarLiteraturaPhilip RothRascunhoRobert Walser

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