A atual temporada de Malhação, denominada “Viva a Diferença”, já mostrou que veio para inovar. A novela é um sucesso entre o público jovem e [highlight color=”yellow”]a audiência já é a maior dos últimos dez anos.[/highlight] E isso muito se deve aos assuntos abordados e a maneira que o autor Cao Hamburger conduz suas tramas.
Em outras temporadas de Malhação, os adolescentes eram retratados como pessoas que pareciam não existir na vida real: eram bons demais, ingênuos demais, nunca bebiam álcool e só apareciam transando quando era para abordar o drama da primeira vez. Em “Viva a Diferença”, as coisas mudaram de figura, tornando mais fácil acreditar que os dramas são reais e não coisas que só acontecem no universo de Malhação.
Na última semana, foram exibidas as cenas de uma festa juvenil regada a álcool e a drogas, coisa raras vezes vistas nas tardes da TV aberta. E apesar de não se falar diretamente em álcool, houve uma citação a drogas e nada foi subliminar, as sequências da festa no apartamento de Lica (Manoela Aliperti) foram bem claras e realistas: teve o dealer (o cara que fornece drogas) e o comportamento típico de quem está sob efeito de álcool ou drogas.

A direção optou por uma narrativa quebrada, talvez para diminuir a carga dramática. No capítulo de quarta-feira (dia 1 de novembro), foi exibido o início da festa e suas primeiras consequências, com adolescentes já bêbados ou drogados. No dia seguinte, o tempo avançou para depois da festa e o que aconteceu durante o evento foi explicado ao público por meio de flashbacks nos diálogos dos jovens. Assim ficamos sabendo que Lica foi parar no hospital depois de desmaiada e MB (Vinícius Wester), drogado e/ou bêbado, pegou o carro com a namorada e sofreu um acidente.

Foi ousado. Festas assim acontecem na vida real o tempo todo e é louvável a iniciativa da novela em levantar essa discussão entre os jovens e a maneira como essa temática foi conduzida. As cenas foram bem verdadeiras e convincentes.
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Na sequência, no capítulo de sexta-feira, uma cena mostrou o racismo escancarado sofrido pelo personagem de Lucas Penteado e emocionou e revoltou o público que assistia Malhação: Viva a Diferença. Na cena, Fio revelou o motivo de ter sumido por horas da festa de Lica: ele foi abordado pelos dois seguranças do prédio após o síndico do lugar reclamar do barulho, e estes chegaram a acusar o garoto de vender drogas e roubar o dinheiro que ele tinha na carteira para voltar para casa. Acuado, Fio sai correndo com medo e é parado por policiais militares, que o levaram para a delegacia e só o liberaram após assistirem a um clipe de funk seu que o jovem tinha no celular.

Na última semana, foram exibidas as cenas de uma festa juvenil regada a álcool e a drogas, coisa raras vezes vistas nas tardes da TV aberta.
[highlight color=”yellow”]E essa não é a primeira vez que a novela aborda o tema racismo.[/highlight] Tina (Ana Hikari) e Anderson (Juan Paiva), por exemplo, encontram muita dificuldade para viver o sentimento que têm um pelo outro porque seus familiares questionam a possibilidade de darem certo por causa da cor da pele e das origens: Tina é descendente de japoneses e Anderson é negro.
Além disso, a novela retrata sempre que pode a maneira como os negros são tratados, desde o atendimento em uma loja até quando acontece alguma confusão, quando o personagem negro é dado como o culpado simplesmente pela sua etnia.
Reinventar uma novela que já está no ar há mais de vinte anos não é uma tarefa fácil, ainda mais depois de duas temporadas lotadas de clichês e de merchans sociais mal-empregados. Perdi a conta de quantas temporadas de Malhação se desenrolaram no mesmo esquema: um casal de mocinhos se conhece, mas um vilão (ou um casal de vilões) planeja um monte de armações para os mocinhos, que se separam e voltam várias vezes, até que ficam juntos no fim.
Frescor é bom e todo mundo gosta. A atual temporada da novela conta com cinco protagonistas com histórias e realidades diferentes. Um dinamismo que faz com que a novela consiga abordar diversos assuntos sem cair na mesmice. As tramas correm rápido e os enredos estão sempre se renovando.
Os personagens são carismáticos e é difícil não se envolver com os dramas de Lica (Manuela Aliperti), Benê (Daphne Bozaski), Ellen (Heslaine Vieira), Tina (Ana Hikari) e Keyla (Gabriela Mevedovski). As cinco amigas, embora muito diferentes, geram empatia do público. Até mesmo as vilãs K1 e K2 são divertidas e engraçadas.

Uma novela que é destinada para o público jovem [highlight color=”yellow”]tem que usar o espaço para os conscientizar sobre problemas do cotidiano.[/highlight] E Malhação sempre fez isso, porém essa temporada é uma das poucas que desempenha essa função sem cair no didatismo exacerbado. A novela trata de racismo, de diferenças de classe social, de gravidez na adolescência, de separação dos pais, de autismo, de uso de drogas e etc, sem parecer panfletagem.
Mas um dos principais acertos é que a novela é atual. O enredo conta com artifícios comuns entre os jovens da atualidade, como grupo no WhatsApp, tutoriais do YouTube, áudios no celular e registros no snapgram, sem mostrar isso de maneira caricata. Essa Malhação está mesmo fazendo a diferença!