O artista do texto de hoje é um dos casos mais curiosos dos últimos tempos, ao menos para mim. Ainda que não seja um fã do trabalho da banda polonesa de death metal Behemoth, reconheço a qualidade do trabalho do grupo, consolidado com seus discos lançados ao longo de 26 anos de carreira. Por isso, foi com surpresa que entrei em contato com o projeto Me and That Man, iniciativa de Nergal, nome artístico do vocalista, guitarrista e líder do Behemoth.
O polonês de quarenta anos lançou no primeiro semestre deste ano o disco Songs of Love and Death, que apesar do nome não segue a essência de sua primeira banda. Nergal, que no Me and That Man assina seu nome de batismo, Adam Darski, se juntou a John Porter, um dos grandes nomes do southern folk, para compor esta peça interessante.
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Fruto da união do polonês com o inglês radicado na Polônia, Songs of Love and Death apresenta ao público treze canções em que gêneros como o country, o folk e o blues são as principais influências, enquanto Adam traz seu timbre peculiar para o centro do duo, equilibrando a melancolia das composições com a soturnidade de sua voz. As composições da dupla abordam temáticas muito próximas ao que Adam trabalha com sua banda, mas faz isso ancorado no território acústico, colidindo com as referências sonoras do duo, fazendo que Nergal revele ao público uma faceta sua mais íntima.
Uma grande lição que fica do projeto é como a ferocidade da música pode encontrar sua delicadeza.
É curiosa a forma como Darski e Potter transitam por sonoridades que remetem a Johnny Cash, Nick Cave e Leonard Cohen de forma curiosa, sem mimetizar a sonoridade e tampouco tropeçar no óbvio. É na excentricidade desse encontro – e nas melancólicas composições – que encontramos sentido no trabalho da Me and That Man e em Songs of Love and Death. Faixas como “My Church Is Black”, “Voodoo Queen” e “Ain’t Much Loving” traduzem a energia do disco, uma curiosa exploração sobre o lado sombrio e assustador da vida.
Uma grande lição que fica do projeto é como a ferocidade da música pode encontrar sua delicadeza. O lançamento ganha contornos mais curiosos quando colocado em perspectiva com o último álbum do Behemoth, o pesadíssimo The Satanist. Se a ideia era criar uma proposta de antítese sonora à sua própria obra, o resultado é satisfatório, mas o mesmo não acontece liricamente, já que o lúgubre é característica marcante desse folk soturno do Me and That Man tal como na banda de death metal.
A virada, no entanto, fica justamente pela estética acústica, que explicita muito mais a sensibilidade de Nergal, como se agora fosse possível enxergar o eu-lírico que fica escondido nas tantas camadas deste extremo chamado Behemoth. Se de início o que chama a atenção é a peculiaridade do projeto, ao fim e ao cabo álbum e dupla se sustentam pela qualidade do que oferecem.
NO RADAR | Me and That Man
Onde: Gdańsk, Polônia.
Quando: 2017.
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