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‘A Superfície Sobre Nós’: do que é feita a solidão?

Em 'A Superfície Sobre Nós', o escritor Sergio Vilas-Boas discute os conflitos de gerações e as angústias de um homem soterrado pelas dores do passado.

porEder Alex
8 de julho de 2015
em Literatura
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'A Superfície Sobre Nós': do que é feita a solidão?

Imagem: Reprodução.

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Às vezes a fuga vira uma espécie de crença religiosa. É como se o ato de ir embora, deixar tudo para trás e foda-se o mundo, carregasse consigo o poder da renovação e, principalmente, da anulação ou do completo desaparecimento de tudo o que fizemos anteriormente. Mas a gente já é bem grandinho e sabe que a coisa não funciona bem assim, certo? Você pode trocar de país, de cultura, de língua, mas não de passado. A superfície sobre nós, de Sergio Vilas-Boas (vencedor do prêmio Jabuti de 1998), lançado este ano pela Amarilys Editora, fala um pouco sobre isso, sobre esse peso de carregar aquilo que fomos.

O livro trata do conflito de gerações (Baby boomer x Geração Y) a partir do diálogo entre Hugo, o estagiário de TI que nos narra a história, e Jaime, um tradutor que se considera um outsider e que no momento passa por uma fase terrível. Os dois se conhecem durante a greve do jornal em que trabalham e aquilo que poderia ser um simples papo de boteco, acaba se tornando uma profunda reflexão sobre uma porrada de coisas, desde os efeitos da tecnologia no nosso cotidiano, até o vazio enorme que preenche o peito de quem se sente só.

É muito bonito, por exemplo, ver o guri lá do filme Na natureza selvagem abrindo mão de um vida confortável para andar por um mundo com cara de National Geographic e encontrar o seu “eu”. Contudo, nós sabemos que isso está um pouco distante daquela realidade em que há boletos para pagar e onde é mais provável tocar a marcha fúnebre do que a música do Eddie Vedder na trilha sonora. Então o que Sergio Vilas-Boas faz é nos apresentar a figura do outsider como a de um sujeito cuja coragem de seguir em frente, na verdade, está sedimentada num medo profundo de ficar onde está e ter que encarar a si mesmo no espelho.

Não, ele não é do tipo que se enfia no meio do mato e fica comendo folha envenenada. Jaime é um senhor que enfrentou inúmeras dificuldades, encarou o desemprego, a doença terrível de sua esposa e ao longo de sua vida acadêmica cometeu alguns erros que o marcaram para sempre. Contudo, toda essa pós-graduação em sofrimento não garante a ele o título de bacharel em sabedoria. Há em seu discurso uma pegada meio mestre Yoda, que diz coisas profundas usando frases de efeito, o que chega a ser um tanto incômodo no início, afinal você não pretendia ler Augusto Cury, mas que aos poucos vai se mostrando apenas um recurso estilístico, consciente, do autor. Aparentemente, o que Vilas Boas tenta criar ali é um contraste sutil entre aquilo que Jaime diz ser/pensar e aquilo que ele de fato é/pensa. Algumas questões de fato coincidem, outras tantas colidem.

Aparentemente, o que Vilas Boas tenta criar ali é um contraste sutil entre aquilo que Jaime diz ser/pensar e aquilo que ele de fato é/pensa. Algumas questões de fato coincidem, outras tantas colidem.

Hugo é seu pequeno gafanhoto aprendendo que vida não anda fácil pra ninguém. Mas o tempo de aprendizado passou e embora haja a proximidade da amizade, compreende-se que as gerações são diferentes, pois experimentam e enxergam o mundo de maneira diferente. Em meio a esse distanciamento metafísico o que o jovem faz, com o passar dos anos, é tentar entender o ser humano de verdade por trás daquela capa de sapiência.

Ao misturar os tipos de linguagem (há trocas de mensagens em “internetês”, poemas (bem fraquinhos, diga-se) e anotações da namorada de Hugo no meio da narrativa), o autor consegue imprimir a sensação de urgência e de verborragia na comunicação da Geração Y, ao mesmo tempo em que faz pausas mais reflexivas, às vezes meio forçadas, com as anotações de Jaime. Esta polifonia dá mais densidade à narrativa, uma vez que aplica à forma, aquilo que se discute no conteúdo.

O livro nos faz questionar que talvez não conheçamos muito bem aquelas pessoas que de alguma maneira mudaram a nossa forma de enxergar o mundo, aquelas pessoas que foram decisivas em nossas vidas para que nos tornássemos o que somos. Prestávamos atenção nelas ou apenas no que elas diziam? Em todo caso, esta busca por mais informações ganha ritmo a partir do meio do livro e dali em diante, mais do que saborear o intelecto do velho rabugento e solitário, nós (e o narrador) queremos mais é saber o que diabos aconteceu no passado de Jaime. Por que aquele homem carrega tanta dor?

Afinal, do que é feita aquela solidão?

A SUPERFÍCIE SOBRE NÓS | Sergio Vilas-Boas

Editora: Amarilys Editora;
Tamanho: 204 págs.;
Lançamento: Maio, 2015.

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Tags: A Superfície Sobre NósAmarilys EditoraCrítica LiteráriaLiteraturaPrêmio JabutiResenhaSergio Vilas-Boas

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