O mundo da arte, especialmente as visuais, sofreu um grande chacoalhão esse ano. Fomos obrigados a sair da nossa zona de conforto e enfrentar olhos nos olhos a desinformação, aqueles que nos mal entenderam, e, por diversas vezes, a iminência da censura. Não foi fácil – posso dizer por experiência própria que viver de cultura em 2017 foi exaustivo.
É claro que diante de uma forte crise econômica, é altamente compreensivo que setores como educação e saúde sejam prioridade. No entanto, doeu ver quanta gente incentivou e comemorou cortes de gastos, censuras e perseguições como se o propósito da cultura fosse uma tremenda superficialidade, ou muito pior, um instrumento ideológico.
Antes mesmo do fechamento abrupto de Queermuseu, já nos encontrávamos em maus lençóis: a frágil existência do Ministério da Cultura, quase extinto em 2016, ditava a situação da arte perante a crise brasileira – mas a legitimação do ato do MBL pelo Santander Cultural nos jogou em uma espiral de descrença pior ainda. Para uma pequena amostra, tente ler comentários de portais de notícia em reportagens que envolvam arte e não terminar com o estômago embrulhado.
Antes mesmo do fechamento abrupto de Queermuseu já nos encontrávamos em maus lençóis: a frágil existência do Ministério da Cultura, quase extinto em 2016, ditava a situação da arte perante a crise brasileira.
Cultura e educação andam juntas. Negar que a diversidade, a pluralidade e a diferença fazem parte da sociedade brasileira desde seus primórdios, aniquila um potencial cultural imenso. Aniquila o trabalho de pessoas, aniquila a reputação de artistas conceituados, aniquila a liberdade de expressão.
Quando acusamos artistas como Adriana Varejão de pregarem justamente o que lutam contra; quando perseguimos performers como Maikon K por coisa alguma que não a nudez; quando comemoramos a condução coercitiva de Gaudêncio Fidelis até uma CPI que teoricamente combate pedofilia, mesmo após a perícia do Ministério Público afirmar que nada incitava a sexualização de crianças em Queermuseu; cometemos atos de terrorismo cultural.
Temo ainda que essa guinada político-cultural cada vez mais vil e reacionária, nos moldes da revolta contra a “arte degenerada” de 1937, cunhada pela Alemanha nazista para definir arte moderna, seja só o começo de um abismo.
O que será da arte e da sociedade brasileira quando nos vermos diante de disputas políticas de patamares maniqueístas? De figuras altamente influentes bostejando injúrias em debates televisionados, ordenhando rebanhos de pessoas a seu bel prazer e ignorância? Na melhor das hipóteses, podemos apenas torcer para que a arte não fique sob o holofote destes em 2018.
Diante de toda essa insegurança – que tira o sono da autora que vos escreve -, fica o apelo para que unidos tenhamos cada vez mais força. Ano que vem voltamos. E resistiremos.
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