Pintor, gravador, professor, artista premiado. Nascido na Lapa, no distante 1939, Fernando Calderari foi uma marca das artes paranaenses. Seu falecimento na madrugada de ontem, 14, aos 82 anos, na cidade de Curitiba, deixa uma lacuna na cultura paranaense. De acordo com familiares, a morte foi por causas naturais.
Há quem eternize momentos através da pintura. Contudo, há uma outra espécie de artista, o que se eterniza por suas obras. E nosso personagem é justamente desta outra prateleira. Foi discípulo de Guido Viaro, com quem estudou na Escola de Belas Artes do Paraná entre 1959 e 1962. Viaro, inclusive, foi quem o aconselhou a prestar vestibular.
Formado, o artista foi para o Rio de Janeiro, estudar gravura no Museu de Arte Moderna. Ali, seu contato com as técnicas de gravação e impressão chamam atenção para valores de tonalidades, textura, matéria.
Em 1963, voltou à Escola de Belas Artes do Paraná para lecionar gravura, pintura, teoria, restauração e conservação da pintura. Também foi professor na PUC-PR. Suas obras estão em acervos oficiais e particulares no Brasil e no exterior.
Calderari levou um pedaço do Paraná para lugares como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Chile, Argentina, Bulgária. Também expôs individualmente em alguns desses países. Sua carreira passou por diversas fases, tendo sido fundamental ao impulsionamento da renovação das artes plásticas paranaenses em direção ao Expressionismo Figurativo. E foi nela que criou sua identidade, as paisagens marinhas.
Em entrevista ao extinto programa É Arte, da TV Paraná Educativa, afirmou que sua arte não tinha como proposta ser apenas olhada, mas que quem a visse fosse capaz de situar-se nela. “[Na pintura] você é o protagonista da paisagem.”
Sua carreira passou por diversas fases, e foi fundamental ao impulsionamento da renovação das artes plásticas paranaenses em direção ao Expressionismo Figurativo.
Uma paixão da infância à aposentadoria
“Eu morava numa cidade pequena, morava na Lapa. Chegou um homem com umas traquitanas na mão, era um cavalete de pintura. Eu vi o cara fazer uma pintura histórica da minha cidade, da igreja. E eu comecei a achar que ele estava fazendo mágica com esses pinceizinhos. Foi essa visão de infância que contaminou a minha cabeça.”
Era assim que Calderari explicava ter se tornado um artista. Essa contaminação fez com que não levasse adiante o desejo do pai de que seguisse a carreira militar e estudasse nas Agulhas Negras.
Se foi parte importante na guinada das artes plásticas paranaenses do Academicismo para o Expressionismo Figurativo, nunca questionou a importância dos estudos. “A pessoa tem que ter um fundamento acadêmico, para depois fazer a sua personalidade”, dizia. “Primeira coisa que o artista tem que saber é olhar e perceber o lugar das coisas, para depois conseguir representá-las”, afirmou em entrevista.
Já aposentado, afirmava que seguir pintando era essencial para si e que nunca havia pintado tanto. “Para mim é como se fosse o sangue. Se tirar aquilo me dá anemia. Já pensou, eu aposentado e sem pintar?”.
Defensor da cultura, seu legado segue impresso nas instituições por onde passou, em cada artista formado com seus ensinamentos e nas peças espalhadas pelos acervos mundo afora.
“A arte é a expressão mais básica para a cultura de uma nação. Em todos os aspectos: música, teatro, dança, balé, cinema. Tudo isso faz parte da cultura do indivíduo. É o retrato vivo de uma nação. É o fundamento básico e cultural para a inteligência e conhecimento do indivíduo.”
Fernando Rogério Senna Calderari
(Lapa, 1939 – Curitiba, 2021)
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