Embora esteja há quase dez anos fora do ar, Linha Direta foi um dos programas mais assustadores da televisão aberta brasileira. As dramatizações de assassinatos e, especialmente, as edições envolvendo mistérios sobrenaturais eram particularmente perturbadoras. Escrevi há algum tempo sobre o especial do Edifício Joelma, mas o episódio “Operação Prato” incomoda tanto quanto o do prédio assombrado em São Paulo.
Em 1977, moradores de uma região do Pará alegaram que sofriam constantes ataques de luzes que apareciam repentinamente no céu. Os objetos voadores não identificados deixavam marcas em suas vítimas, como pequenas mordidas. Na imprensa, os agressores receberam o nome de “chupa chupa”. O caso foi tão alarmante na época que militares foram chamados para investigar as aparições, que se tornaram objeto de especulações sobre conspirações do governo.
Uma trama similar rondava os cinemas da época, com a alarmada estreia de Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), de Steven Spielberg. No filme, pessoas de diversas partes do mundo têm vislumbres de espaçonaves, que provocam delírios coletivos, graves queimaduras e desaparecimentos. A obra tem um desfecho bem mais otimista do que o caso brasileiro, que nunca foi bem resolvido.
Admito que possa não existir nenhum tipo de relação formal entre os fenômenos descritos acima, mas é tentador explicar essas possíveis coincidências como um processo de canibalismo mútuo entre nosso imaginário social e nossa produção cultural.
Duas décadas depois da “Operação Prato”, os jornais brasileiros novamente abordariam a presença de alienígenas em território nacional como se fosse verdade. Em 1997, depois de ataques a diversos animais aqui nas proximidades de Curitiba, o chupa-cabra se tornou um personagem importante do imaginário coletivo da época. Ao lado das histórias de Varginha e da cabeça de um extraterrestre apresentada no programa do Gugu, o bicho importado do Caribe provocou uma onda de relatos de avistamentos coletivos que varreu o país.
Novamente, a sétima arte refletia essas preocupações do fantástico que invadiam a realidade. Independence Day (1996), Homens de Preto (1997) e Contato (1997) eram alguns dos títulos que fizeram sucesso na época. Na televisão, um dos programas mais populares era Arquivo X, que abertamente dizia que “a verdade está lá fora”.
Admito que possa não existir nenhum tipo de relação formal entre os fenômenos descritos acima, mas é tentador explicar essas possíveis coincidências como um processo de canibalismo mútuo entre nosso imaginário social e nossa produção cultural. No documentário The Nightmare (2015), de Rodney Ascher, um dos personagens que sofre de paralisia do sono diz que sentiu que a síndrome era bem representada no filme Estranhos Visitantes (1989), de Philippe Mora. A obra, por sua vez, é indiretamente acusada de ser potencial responsável por criar mais alucinações em casos de paralisia do sono.
Acredito que, particularmente, nos relatos de aparições de extraterrestres parece bem fácil rastrear uma relação entre a propagação da ideia na sociedade e na mídia. O jornalista da Super Interessante Salvador Nogueira, no livro Extraterrestres, diz que a leitura de Guerra dos Mundos por Orson Welles, em 1938, e o incidente em Roswell, em 1947, podem ser apontados como uma causa para o surto de relatos de abduções e avistamentos de ovnis nos Estados Unidos na década de 1950.
Isso é ficção de horror se alimentando da vida. E a vida, da ficção do horror.