Um astronauta faz uma expedição fora da atmosfera terrestre e, quando retorna, o foguete colide contra uma montanha que desperta um gigantesco lagarto cinza que cospe fogo. Essa é a sinopse de Yongary, o Monstro das Profundezas (1965), filme concebido para ser uma versão sul-coreana de Godzilla (1954).
Escrito e dirigido por Ki-duk Kim, a resposta ao fenômeno japonês dos estúdios Toho carece de recursos. As miniaturas têm acabamentos precários, a contraposição dos humanos com o monstro não convence e a fantasia da criatura mostra detalhes do mecanismo de propulsão de fogo usado pela equipe de efeitos especiais. Tudo soa barato demais, mesmo para a época.
Curiosamente, a precariedade é vista com outros olhos pelos sul-coreanos. Yongary, o Monstro das Profundezas foi considerado uma das mais caras produções a serem lançadas pelo país na época. Isso porque a nação empobrecida tinha acabado de sair da guerra contra a Coreia do Norte.
Há quem interprete que a narrativa dialogue com o receio de um novo confronto com a parte comunista da península. A alegoria aproxima ainda mais a obra do longa-metragem original do gigante radioativo japonês, cuja trajetória no cinema é sempre marcada pelo caráter metafórico.
No Brasil, o filme foi exibido pela primeira vez em junho de 1975 na televisão. Na época do lançamento, a publicação carioca Jornal do Brasil descreveu o argumento equivocadamente dizendo que a criatura nasceu de um vulcão.
O longa de Ki-duk Kim segue um trio de personagens humanos. O astronauta que o despertou, sua esposa e uma criança esperta o bastante para sacar as fraquezas do monstro. O roteiro é preguiçoso e, em vários momentos, infantil. Reza a lenda que o diretor teria ficado irritado com o visual da criatura e não teria tido muito interesse em deixar a história com uma cara mais séria.
Depois de obter um enorme sucesso na Coreia do Sul, Yongary, o Monstro das Profundezas foi importado para os Estados Unidos, onde foi exibido direto para a televisão. A versão coreana da fita acabou se perdendo ao longo dos anos. Hoje, somente o corte com a dublagem em inglês está disponível para o público.
No Brasil, o filme foi exibido pela primeira vez em junho de 1975 na televisão. Na época do lançamento, a publicação carioca Jornal do Brasil descreveu o argumento equivocadamente dizendo que a criatura nasceu de um vulcão. O autor do texto nem ao menos se dá ao trabalho de conferir o filme para criticá-lo: “A curiosidade da origem (Coreia do Sul) parece que é eliminada pela similitude do espetáculo com os congêneres japoneses; é o que dizem aqueles que já o conhecem”.
Em dado momento, Yongary dança ao som de rock and roll. Seu chifre, como o de um rinoceronte, brilha quando está bravo. Depois de ingerir combustível demais, o monstro age como se estivesse bêbado. Se não fossem esses detalhes, seria bem fácil imaginá-lo como um exemplar barato da franquia Godzilla. O longa de Ki-duk Kim foi refilmado com bastante sucesso em 2001, com o lançamento de Réptil.